quarta-feira, 23 de junho de 2010

Um viva para Glee!

Olhando de longe, o seriado Glee mais parece uma mistura de Malhação com High School Musical. Da primeira, Glee pega emprestado o ambiente estudantil e os conflitos do universo adolescente. Da segunda, os passos, as cenas de dança e performance e o rótulo de musical. Mas para nossa sorte essa impressão é derrubada sem pena ao longo dos 22 episódios da primeira temporada da série, um dos maiores sucessos da televisão norte-americana atualmente.

Longe de ser uma série perfeita, "Glee" abraça seus defeitos e explora suas inúmeras qualidades. Criada por Ryan Murphy (diretor de "Correndo com Tesouras" e do novo filme de Julia Roberts, "Eat, Pray, Love"), a série se sobressai graças aos seus diálogos cheios de ironia, aos ótimos atores que não têm medo de pagar mico e à escolha absurdamente acertada do repertório de músicas que costura os episódios.

Deixando a repetição e o politicamente correto de Malhação e High School Musical de lado, "Glee" atinge um público mais amplo e pop e que não se importa muito com as situações absurdas ou incoerentes que vez ou outra dão o ar da graça no seriado. Com personagens extremamente bem delineados e falas que, às vezes, beiram a agressão (Sue Sylvester é desde já uma personagem antológica defendida com unhas, dentes e ótimos diálogos pela atriz Jane Lynch), "Glee" é divertido e, acima de tudo, inteligente, coisa rara de se ver no cinema, mas cada vez mais comum de se encontrar na telinha.

Sim, alguns podem levantar a mão e dizer que "Glee" é narrativamente pobre, com conflitos facilmente resolvidos ou personagens muito vezes abandonados ou esquecidos no meio do caminho. Visualmente, a série também deixa um pouco a desejar e é tão genérica como qualquer outro produto voltado para o público teen.

Mas a força de "Glee" não está nas histórias, e sim no espetáculo. Misturando no mesmo caldeirão os musicais da Broadway, os tempos áureos dos musicais hollywoodianos e a moderna linguagem dos videoclipes, a série é uma espécie de versão televisiva e menos anabolizada de Moulin Rouge, musical de Baz Lurhmann que virou paradigma para o gênero no início dos anos 2000.
























Cheia de referências pop e abraçando sem medo o humor negro, "Glee" traz um repertório de cenas memoráveis que resgatam músicas do passado (as releituras de "Physical" e "Total Eclipse of the Heart" são imbatíveis) ou prestam belas homenagens a artistas pop contemporâneos como Madonna, Lady Gaga, Beyoncé e Christina Aguilera. Tudo isso para mostrar a boa e velha batalha entre "winners" e "losers" tão cara à cultura estadudinense. A trama pode não ser nova, nem mesmo a abordagem. Mas não há como negar que, aqui, a diferença está toda no vigor com que a série é feita.

A princípio, pode parecer pouco, mas ao colocar no mesmo barco entretenimento e inteligência, a série tem se sobressaído perante a concorrência e já está com a segunda temporada garantida. Sucesso comercial, "Glee" tem se mostrado um bom negócio para as bandas que têm suas músicas escolhidas para participar dos episódios e para o público, que tem a chance de experimentar os musicais a partir de um ponto de vista que deixa claro que o quê conta é o espetáculo. E que bom espetáculo!

domingo, 20 de junho de 2010

O tempo não para!

Se existe uma certeza nessa vida é que o tempo não para. Na verdade, ele passa bem rápido e, muitas vezes, nem nos damos conta. De certa forma, Toy Story 3 e Nick and Norah's Infinite Playlist são sobre a passagem do tempo. Pelo menos para mim. O primeiro é sobre o fim da infância e do que ela representa. O segundo vai um pouco mais além no tempo e lança um olhar sobre a adolescência e o modo como nessa época pouca coisa pode valer muito.

Toy Story 3 é uma pérola, um filme delicioso que mistura aventura e nostalgia, risos e lágrimas, continuidade e fim. De uma forma brilhante, o longa consegue manter a essência dos dois primeiros indo mais além ao falar de amizade. Mais precisamente como temos que lidar, em alguns casos, com o fim dela. Não necessariamente um fim, mas uma mudança, uma passagem, uma transformação que muitas vezes deixa o coração um tanto apertado.

Graças a um roteiro preciso, uma direção iluminada e vozes apaixonadas (novamente Tom Hanks, Tim Allen e Joan Cusack), "Toy Story 3" ecoa de uma forma que poucos filmes o fazem. É uma aventura cheia de ação, mas também cheia de sentimento.

O mote é simples, mas acerta em cheio. Andy não é mais criança, está de malas prontas para a universidade e seus antigos brinquedos têm que lidar com o esquecimento. A partir, o caubói Woody, o vigilante das galáxias Buzz e o resto dos brinquedos partem em uma empreitada que os levará a novos caminhos e novos donos. E o final é de partir o coração, porque sometimes we just have to move on. And it isn't easy!

Confira minha resenha completa
sobre o filme no Cinema com Rapadura


Nick and Norah's Infinite Playslist trabalha em uma outra chave, mas também toca fundo no peito. O longa é uma mistura daquelas aventuras oitentistas que duram uma noite que parece interminável com os chamados novos filmes indies recheados de personagens losers e trilha sonora pop. Ou seja, você já viu isso antes em algum lugar. O que muda são apenas os atores e as canções que embalam a trama. Mas quem se importa se o negócio funciona, mesmo que a trama não fuja muito do esquema "garoto nerd encontra garota nerd".

O maior acerto da produção é emular uma série de filmes memoráveis ou divertidos sem tentar copiá-los ou mesmo homenageá-los. Dos anos 1980, temos ecos do sensacional Febre de Juventude (um bando de garotos enlouquecidos tentando ver o show de uma banda do coração, no caso do filme de 1978, simplesmente os Beatles) e Uma Noite de Aventuras (um bando de garotos que vive uma série de situações absurdas ao longo de uma noite).

Da escola indie de ser, o filme pega emprestado o ator de Juno (Michael Cera), a aura loser de Hora de Voltar e mais um monte de elementos que fazem a festa nas produções que versam sobre amor, fossa e outras dificuldades de relacionamento sob o ponto de vista de personagens tímidos, amargurados ou supostamente losers.

Mas tirando o apelo às fórmulas, "Nick and Norah's Infinite Playlist" funciona porque remete há um tempo que não volta mais: quando não precisava que acontecesse muita coisa para uma noite ser divertida; quando sair de bar em bar era regra e não apenas uma rotina cansativa; quando a noite realmente era uma criança e a farra só acabava ao amanhecer. Mas o tempo passa, a gente envelhece e tudo isso fica para trás. Felizmente, o cinema existe para matar nosso saudosismo e deixar a nostalgia no ar. E se o tempo realmente passa, é porque deve existir um propósito!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Só Dexter para salvar os serial killers...


Os assassinos seriais estão mortos no cinema. Enquanto isso, Dexter está cada vez mais vivo na televisão. Se na tela grande temos que aguentar coisas como a série "Jogos Mortais"; na telinha, "Dexter" cresce a cada temporada, provando que uma fórmula, quando bem usada, pode dar certo e ter continuidade.

O seriado, que estreou em 2006 e já vai para a quinta temporada, é um sopro de originalidade em meio à mesmice que polui o subgênero "serial killer" nos cinemas, relegado a produções de quinta como Os Cavaleiros do Apocalipse, que não se sustenta nem pela trama batida, nem pelo visual, teoricamente, sombrio.

Renascido das cinzas na década de 1990, graças ao sucesso de público e crítica de longas como O Silêncio dos Inocentes e Seven - Os Sete Crimes Capitais, os serial killers viraram tema central de filmes os mais díspares possíveis. Dos eficientes Copycat e Beijos que Matam a bobagens sem grande repercussão, o subgênero foi explorado à exaustão e perdeu força e charme.

Em Os Cavaleiros do Apocalipse, por exemplo - estreia do diretor de videoclipes Jonas Akerlund no cinemas (entre outros, ele é responsável por Ray of Light e Music, da Madonna), a trama é sem graça e nunca empolga, e a direção de Akerlund beira o amadorismo. A fotografia que enfatiza o vermelho de sangue e os cortes acelerados tentam compensar a fraqueza da história, e os clichês se acumulam até o final decepcionante.

Já em "Dexter", a história é outra. Cada temporada é dividida em 12 episódios que se sucedem em um crescendo de suspense que beira o insuportável. Com personagens bem construídos e tramas bem amarradas, conhecemos a rotina de um serial killer diferente: seu principal alvo são outros serial killers.

Com um código de honra a ser seguido, Dexter trabalha no Departamento de Homícidos da Polícia de Miami. Ele não é policial, mas está no meio deles trabalhando como analista de sangue. A cada temporada, ele tem um novo desafio e um outro serial killer a seguir. E o telespectador fica grudado na telinha acompanhando as reviravoltas e conhecendo mais detalhes da vida do personagem, que tem família e tudo mais.

Destacando a primeira (quando conhecemos o personagem) e a quarta (com um final surpreendente) temporadas, a série tem se mantido entre as melhores atualmente em produção na televisão.

Enquanto isso, nos cinemas...

Nenhum filme empolgante. Sex and The City 2 é uma decepção e não vale nenhum comentário de tão medíocre que é. Carrie, Samantha, Charlotte e Miranda deixam de ser grandes personagens de televisão e viram pequenas caricaturas na tela grande. O filme é um mastodonte e chega a ser constrangedor, com a cena de Lizza Minelli imitando a Beyoncé como o ápice do ridículo cinematográfico em anos. Tudo culpa da Sarah Jessica Parker, que deveria ser interditada urgentemente.

O atrativo de O Golpista do Ano é ver Jim Carrey interpretando um gay e dando uns amassos em Ewan McGregor. Mesmo fugindo de alguns clichês, evitando o humor escrachado e mostrando uma relação gay de forma digna, sem apelar para esteriótipos, o filme não é nada demais. Mais parece uma versão gay de "Prenda-me se for Capaz" (aquele longa em que Tom Hanks tenta capturar Leonardo DiCaprio) do que uma comédia romântica. Está longe de ser um dos melhores de Carrey (The Truman Show e Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças continuam insuperáveis).

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Duas vezes "Fúria de Titãs"


É óbvio que o remake de Fúria de Titãs é superior ao original em termos de efeitos especiais e ambientação. Em cerca de 20 anos, o cinema mudou muito, e isso fica evidente na comparação entre os filmes. Mas o novo "Fúria de Titãs", de certa forma, é narrativamente mais bem amarrado do que o original. 

Os saudosistas que me perdoem, mas revendo o original fiquei bem frustrado. Basicamente porque o filme, dirigido por Desmond Davis, envelheceu mal para burro. Não só por conta dos clássicos efeitos de Ray Harryhausen, mas em virtude da direção primária de Davis e das péssimas atuações de gente como Laurence Olivier e Maggie Smith, dignas de peça infantil.

Não ajuda o fato do herói do filme ser interpretado de forma catatônica por Harry Hamlin, que mais parece um bobo da corte do que um semi-deus. Mal editado, com um ritmo capenga e muito mais longo do que deveria, além de apostar em um humor involuntário totalmente inadequado (o cúmulo do absurdo é aquela coruja dourada voando para lá e para cá), a produção só sobrevive em virtude do saudosismo e da nostalgia de uma época em que a Sessão da Tarde fazia sentido.

O remake

A nova versão comandada por Louis Leterrier ("O Incrível Hulk") também tem seus problemas, mas uma coisa não se pode negar: o ritmo do filme é bem mais empolgante e compensa a total falta de suspense e ação do original. O final, por exemplo, é muito bem construído por meio de uma montagem paralela e de uma trilha sonora que conduz a ação e narrativamente flui melhor.

Mas nem tudo é perfeito. Se os efeitos e a direção de arte colocam o original no chinelo, algumas opções narrativas transformam o longa em um entretenimento divertido, mas sem alma. A escolha de transformar a jornada de Perseus (aqui interpretado por um Sam Worthington seguindo os passos de Gerald Butler em "300") em um banho de vingança atrapalha o filme e compromete a identificação do espectador, já que nunca acreditamos nas mudanças do personagem (que de um reles pescador vira o salvador da pátria).

Se essa escolha nos salva do romance com cara de novela das seis do original, por outro lado, tira um pouco do charme da história e joga qualquer construção dos personagens no buraco. Mas como ninguém vai ver um filme como esses atrás de construção de personagem, a ação se faz presente do modo mais ligeiro possível, não dando muito tempo para o desenvolvimento de uma trama coerente.

Outro defeito do filme - e do cinema de ação atual em geral - é a velha tática de cortes secos e rápidos demais misturados a câmeras lentas que dão náuseas. O resultado é que, em várias cenas, mal vemos o que está acontecendo e somos mais conduzidos pela trilha sonora que grita em alto e bom som do que pelas imagens.

O fato é que o remake de Fúria de Titãs carece de charme e desrespeita qualquer referência mitológica (mas tem a vantagem de contar com as presenças de Liam Neeson e Ralph Fiennes). Mas o original mesmo não tem charme nenhum, vamos ser honestos. Os saudosistas que me perdoem (mais uma vez), mas é a mais pura verdade.

Outros filmes

Também assisti a outros longas nesses dias, mas estou com preguiça de comentá-los de modo mais aprofundado. Em O Escritor Fantasma, Roman Polanski emula Brian DePalma tentando homenagear Alfred Hitchcock. Filme interessante, mas que peca por demorar demais a desenvolver a trama. De qualquer forma, vale pela bunda do Ewan McGregor e pela cena final de resolução do mistério, dirigida de forma magistral por Polanski.

Enquanto isso, os oscarizados Coração Louco e Um Sonho Possível são mais do mesmo. O primeiro é o típico filme de redenção, com Jeff Bridges ganhando o Oscar pelo papel mais óbvio possível: cantor alcoólatra e fracassado que dá a volta por cima. Já Sandra Bullock levou o prêmio para casa porque pintou o cabelo de loiro e fala com sotaque jeca em um filme açucarado com cara de "feito para a TV". Mas os filmes não são ruins e valem uma conferida, nem que seja pelos atores.