Na virada dos anos 1980, só dava X-Men na minha cabeça.
Lia os quadrinhos, adorava as histórias e me identificava com os personagens.
Menos porque eles tinham poderes (que até onde eu sei, não tenho) e mais porque
eles eram mutantes, diferentes e sofriam preconceitos (o fato deu ser gay deve
ter algum peso nisso). Adorava as sagas. O surgimento e a morte da Fênix. O
Massacre e a Queda dos Mutantes. O Inferno. X-Men contra Os Vingadores. X-Men
contra o Quarteto Fantástico. Lia outros gibis de heróis, tanto da Marvel
quanto da DC, mas meu coração era deles, dos mutantes (X-Men, Novos Mutantes,
X-Factor).
Sabe-se lá Deus o porquê, um dia resolvi parar de ler e colecionar HQs. Simplesmente deixei de lado. O tempo passa, a vida voa, eu mudei, comecei a me dedicar mais a ver filmes e parei por completo de comprar quadrinhos. Dei minha coleção de mais de 500 revistas para meu irmão mais velho e me enfiei em salas e mais salas de cinema.
E foi graças à sétima arte que os mutantes voltaram a fazer parte da minha vida. Lá em 2000, eu ainda jovem e bobo, em uma época que filmes de super-heróis eram raros e mal vistos, uma produção colocou de volta o Wolverine, a Tempestade, a Vampira, Ciclope, Jean Grey, Professor Xavier, Mística, Magneto e tantos outros no meu radar. Gostei e passei a acompanhá-los na tela grande. As histórias não eram iguais aos quadrinhos, óbvio. Nem sempre os personagens eram bem retratados. Fatos foram modificados, personagens ganharam novos destinos e trajetórias. Mas, tudo bem, eles eram os X-Men e nada mais importava.
2014, mais de 20 depois de ter parado de ler as histórias e quase 15 anos após o lançamento do primeiro longa-metragem baseado nos personagens, eles estão de volta. E o melhor, a próxima produção é inspirada em uma das minhas histórias prediletas do grupo: Dias de um Futuro Esquecido (já devidamente relida). Depois de ser inundado por teasers, trailers e pôsteres, tive um pequeno surto, visitei meu irmão, roubei algumas revistas dele e revi todos os longas anteriores em sequência.
X-Men (2000) – O primeiro longa sobre os heróis considerados por muitos como vilões não é o épico que muitos esperavam, mas é uma bela introdução aos personagens. Com pouco mais de 1h30 de duração, o diretor Bryan Singer apresenta os heróis principais da equipe, remodela seus uniformes (menos colantes e coloridos e mais inspirados no preto sóbrio de “Matrix”, que tinha chocado o universo cinematográfico no ano anterior) e coloca os mutantes do bem (X-Men) contra os mutantes do mal (Magneto e a Irmandade dos Mutantes), os dois lados lutando de forma diferente pela mesma causa: o reconhecimento dos mutantes pelos humanos. Entre muitos acertos (Hugh Jackman eternizou Wolverine, o roteiro enxuto, o elenco de primeira e uma produção caprichada) e alguns erros (Halle Berry e sua caracterização de Tempestade e alguns diálogos vergonhosos), X-Men – O Filme abriu o caminho para novas e mais ousadas produções sobre os heróis e foi o pontapé para que o “gênero” se tornasse o mais lucrativo do cinema atualmente.
X-Men 2 (2003) – Com respaldo graças ao sucesso do primeiro filme, Bryan Singer não poupou esforços e transformou “X-Men 2” em uma das melhores adaptações dos quadrinhos feitas pelo cinema até hoje. Com mais heróis, mais tempo e mais dinheiro em mãos, os X-Men finalmente ganharam uma tradução fiel e digna, misturando elementos de tramas como a origem do Wolverine, o surgimento da Fênix e mais uma vez colocando a questão Humanos X Mutantes como elemento principal. A sequência inicial com Noturno é espetacular. O uso rápido de alguns heróis dos quadrinhos é um primor (Kitty Pryde, Colossus, Banshee etc). A direção de Singer é respeitosa. E a ação é mais orgânica e presente. O resultado é o melhor filme da série.
X-Men: O Confronto Final (2006) – Bryan Singer pulou fora para dirigir o horroroso “Superman: O Retorno”, e no lugar dele o genérico Brett Ratner quase colocou tudo a perder e estragou uma das melhores histórias dos heróis (A Saga da Fênix). Com uma pegada mais de ação e menos preocupado com coerência, o diretor inventou uma história de cura mutante, vestiu os mutantes maus com roupas de couro, pretas, piercing e tatuagens e por pouco não jogou a franquia dos heróis no lixo. A qualificação dos mutantes em níveis de poder é ridícula, e a caracterização deles idem. A morte de Ciclope é anticlimática e banal. E Ratner confunde ação com exagero e grandiosidade, esquecendo-se de dar estofo à história. De bom, a luta entre Fênix e o Professor Xavier e o aparecimento de Anjo, que, infelizmente, é super mal aproveitado. Um final bem triste para os heróis.
X-Men: Primeira Classe (2011) – Depois do fraco encerramento da trilogia original e de um filme solo do Wolverine sem grande impacto, os produtores da franquia decidiram arriscar e fazer um prequel dos heróis, remontando à formação do grupo. A ideia foi bastante criticada e tinha tudo para dar errado, mas uma das forças motoras da cultura pop é a nostalgia, e o diretor Matthew Vaughn acertou em cheio ao fazer bom uso dessa estratégia. Mostrando o início das “carreiras” de Charles Xavier e Erik Lensherr antes de se tornarem os arqui-inimigos Professor Xavier e Magneto, Vaughn reescreve a história dos heróis tentando ao máximo fazer uma ligação entre esse filme e os anteriores. O resultado é uma delícia que tenta reconstruir uma mitologia já enraizada na cultura pop (JJ Abrams fez coisa parecida com “Star Treek”) e deixou os fãs eufóricos. Ainda serviu de ponte para que os produtores juntassem o elenco da trilogia original com o dessa “releitura” no próximo “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido”, que traz de volta Bryan Singer à cadeira de diretor. A expectativa é grande.