quinta-feira, 24 de abril de 2014

Cinema: X-Men – A Saga

Na virada dos anos 1980, só dava X-Men na minha cabeça. Lia os quadrinhos, adorava as histórias e me identificava com os personagens. Menos porque eles tinham poderes (que até onde eu sei, não tenho) e mais porque eles eram mutantes, diferentes e sofriam preconceitos (o fato deu ser gay deve ter algum peso nisso). Adorava as sagas. O surgimento e a morte da Fênix. O Massacre e a Queda dos Mutantes. O Inferno. X-Men contra Os Vingadores. X-Men contra o Quarteto Fantástico. Lia outros gibis de heróis, tanto da Marvel quanto da DC, mas meu coração era deles, dos mutantes (X-Men, Novos Mutantes, X-Factor).

Sabe-se lá Deus o porquê, um dia resolvi parar de ler e colecionar HQs. Simplesmente deixei de lado. O tempo passa, a vida voa, eu mudei, comecei a me dedicar mais a ver filmes e parei por completo de comprar quadrinhos. Dei minha coleção de mais de 500 revistas para meu irmão mais velho e me enfiei em salas e mais salas de cinema.

E foi graças à sétima arte que os mutantes voltaram a fazer parte da minha vida. Lá em 2000, eu ainda jovem e bobo, em uma época que filmes de super-heróis eram raros e mal vistos, uma produção colocou de volta o Wolverine, a Tempestade, a Vampira, Ciclope, Jean Grey, Professor Xavier, Mística, Magneto e tantos outros no meu radar. Gostei e passei a acompanhá-los na tela grande. As histórias não eram iguais aos quadrinhos, óbvio. Nem sempre os personagens eram bem retratados. Fatos foram modificados, personagens ganharam novos destinos e trajetórias. Mas, tudo bem, eles eram os X-Men e nada mais importava.  

2014, mais de 20 depois de ter parado de ler as histórias e quase 15 anos após o lançamento do primeiro longa-metragem baseado nos personagens, eles estão de volta. E o melhor, a próxima produção é inspirada em uma das minhas histórias prediletas do grupo: Dias de um Futuro Esquecido (já devidamente relida). Depois de ser inundado por teasers, trailers e pôsteres, tive um pequeno surto, visitei meu irmão, roubei algumas revistas dele e revi todos os longas anteriores em sequência.
X-Men (2000) – O primeiro longa sobre os heróis considerados por muitos como vilões não é o épico que muitos esperavam, mas é uma bela introdução aos personagens. Com pouco mais de 1h30 de duração, o diretor Bryan Singer apresenta os heróis principais da equipe, remodela seus uniformes (menos colantes e coloridos e mais inspirados no preto sóbrio de “Matrix”, que tinha chocado o universo cinematográfico no ano anterior) e coloca os mutantes do bem (X-Men) contra os mutantes do mal (Magneto e a Irmandade dos Mutantes), os dois lados lutando de forma diferente pela mesma causa: o reconhecimento dos mutantes pelos humanos. Entre muitos acertos (Hugh Jackman eternizou Wolverine, o roteiro enxuto, o elenco de primeira e uma produção caprichada) e alguns erros (Halle Berry e sua caracterização de Tempestade e alguns diálogos vergonhosos), X-Men – O Filme abriu o caminho para novas e mais ousadas produções sobre os heróis e foi o pontapé para que o “gênero” se tornasse o mais lucrativo do cinema atualmente.
X-Men 2 (2003) – Com respaldo graças ao sucesso do primeiro filme, Bryan Singer não poupou esforços e transformou “X-Men 2” em uma das melhores adaptações dos quadrinhos feitas pelo cinema até hoje. Com mais heróis, mais tempo e mais dinheiro em mãos, os X-Men finalmente ganharam uma tradução fiel e digna, misturando elementos de tramas como a origem do Wolverine, o surgimento da Fênix e mais uma vez colocando a questão Humanos X Mutantes como elemento principal. A sequência inicial com Noturno é espetacular. O uso rápido de alguns heróis dos quadrinhos é um primor (Kitty Pryde, Colossus, Banshee etc). A direção de Singer é respeitosa. E a ação é mais orgânica e presente. O resultado é o melhor filme da série.
X-Men: O Confronto Final (2006) – Bryan Singer pulou fora para dirigir o horroroso “Superman: O Retorno”, e no lugar dele o genérico Brett Ratner quase colocou tudo a perder e estragou uma das melhores histórias dos heróis (A Saga da Fênix). Com uma pegada mais de ação e menos preocupado com coerência, o diretor inventou uma história de cura mutante, vestiu os mutantes maus com roupas de couro, pretas, piercing e tatuagens e por pouco não jogou a franquia dos heróis no lixo. A qualificação dos mutantes em níveis de poder é ridícula, e a caracterização deles idem. A morte de Ciclope é anticlimática e banal. E Ratner confunde ação com exagero e grandiosidade, esquecendo-se de dar estofo à história. De bom, a luta entre Fênix e o Professor Xavier e o aparecimento de Anjo, que, infelizmente, é super mal aproveitado. Um final bem triste para os heróis.
X-Men: Primeira Classe (2011) – Depois do fraco encerramento da trilogia original e de um filme solo do Wolverine sem grande impacto, os produtores da franquia decidiram arriscar e fazer um prequel dos heróis, remontando à formação do grupo. A ideia foi bastante criticada e tinha tudo para dar errado, mas uma das forças motoras da cultura pop é a nostalgia, e o diretor Matthew Vaughn acertou em cheio ao fazer bom uso dessa estratégia. Mostrando o início das “carreiras” de Charles Xavier e Erik Lensherr antes de se tornarem os arqui-inimigos Professor Xavier e Magneto, Vaughn reescreve a história dos heróis tentando ao máximo fazer uma ligação entre esse filme e os anteriores. O resultado é uma delícia que tenta reconstruir uma mitologia já enraizada na cultura pop (JJ Abrams fez coisa parecida com “Star Treek”) e deixou os fãs eufóricos. Ainda serviu de ponte para que os produtores juntassem o elenco da trilogia original com o dessa “releitura” no próximo “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido”, que traz de volta Bryan Singer à cadeira de diretor. A expectativa é grande.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Cinema: Pílulas

 
O Grande Mestre – Depois do fraco “Um Beijo Roubado”, esperava-se mais do retorno de Wong Kar-Wai à tela grande, mas “O Grande Mestre” consegue ser ainda mais fraco que o trabalho anterior do cineasta chinês. Kar-Wai ainda sabe filmar como poucos, misturando câmera lenta e música para criar imagens de deixar qualquer um babando (a produção recebeu indicações à melhor fotografia e figurino), mas narrativamente não consegue sustentar a pretensão de uma produção que quer ser épica, histórica, romântica, melodramática e de ação. O resultado é um longa chato, cansativo e que só se sustenta graças à fotografia caprichada e à coreografia das lutas, muito bem encenadas. Depois de tanto tempo longe das telas e voltando a um tipo do filme que o consagrou no início da carreira, Kar-Wai fica devendo mais uma vez.

Nóe - O maior mérito de Darren Aronofsky é evitar que esse épico bíblico seja uma grande tragédia. O roteiro não amarra a contento a variedade de gêneros que a produção quer abraçar (épico, filme catástrofe, drama familiar, produção com pitada religiosa). O elenco parece desconfortável (o carisma de Russell Crowe e o empenho de Emma Watson destoam da beleza vazia de Jennifer Connelly e Douglas Bloom, da apatia de Logan Lerman e da vilania clichê de Ray Winstone). E os efeitos especiais são apenas ok diante da grandiosidade propostas pelo filme. Mas, ainda assim, o longa é envolvente e tem uma edição que impede que as 2h20 minutos se arrastem sem fim. Mesmo se saindo melhor na parte épica e catastrófica, demonstrando que Hollywood sabe oferecer um espetáculo como ninguém, “Nóe” não deixa de ser o elo mais fraco na ótima carreira de Aronofsky (sim, eu gosto de “A Fonte da Vida”).

Hoje Eu Quero Voltar Sozinho - "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho" poderia descambar pelo caminho pobre dos filmes adolescentes nacionais ou o da mera repetição, já que é inspirado em um curta-metragem do mesmo diretor e com o mesmo elenco. Mas o diretor Daniel Ribeiro consegue fugir desse infeliz destino e entrega um longa-metragem fofo, delicado e todo amarradinho sem cair na armadilha de reproduzir clichês e estereótipos que, supostamente, agradam a geração que assiste ao seriado global "Malhação", na teria, o público-alvo da produção. Ainda que não seja o grande filme memorável que todos esperavam, que tenha lá suas gorduras (a subtrama do intercâmbio pouco acrescente à narrativa) e que repita, sim, algumas situações e diálogos do curta "Eu Não Quero Voltar Sozinho", a química e o amadurecimento do elenco como atores e o desenvolvimento de temas antes apenas sugeridos tiram de letras esses pequenos incômodos.