sábado, 11 de dezembro de 2010

Cinema claustrofobia

Se o mundo fosse justo, Enterrado Vivo ganharia destaque e não seria apenas mais uma estreia curiosa no circuito. Se o mundo fosse realmente justo, o filme teria, inclusive, chances de levar pelo menos indicações ao Oscar de melhor roteiro original, fotografia e, por que não, ator para Ryan Reynolds. Mas o mundo está longe de ser justo, então o longa está tendo um lançamento pequeno e sem muita repercussão.

Mesmo não sendo um filme perfeito, não se pode negar que Enterrado Vivo seja acima de tudo uma produção corajosa. Com uma história simples (mas cheia de leituras), o longa traz uma trama inusitada. O personagem de Reynolds acorda enterrado dentro de um caixão, com apenas um isqueiro, uma lanterna e um celular. Depois descobrimos que ele é um motorista de caminhão e está no Iraque, tendo sido sequestrado por bandidos/terroristas que exigem um resgate em dinheiro.

A partir daí, o diretor espanhol Rodrigo Cortés constrói um filme tenso e claustrofóbico que coloca todo seu peso sob os ombros de Ryan Reynolds. "Enterrado Vivo" dura cerca de uma hora e meia e se passa todo dentro do caixão, sem nenhum tipo de alívio para o espectador, que experencia a mesma sensação de Reynolds, preso em um espaço pequeno, apertado, com pouco ar e sem iluminação (metaforicamente quase remetendo à sala escura do cinema).

Se o ator é quem segura a onda e torna a história plausível para o espectador, Cortés toma as decisões certas e não hesita em mostrar longos planos escuros no qual só ouvimos o que acontece e fotografar o filme apenas com as luzes dos objetos que Reynolds tem em mãos (o isqueiro, a tela do celular, uma lanterna e dois sinalizadores).

O resultado é um filme intenso, que passa longe de ser arrastado ou tedioso, e que ainda lança uma série de críticas ao sistema americano: seja à política de resgate do exército americano, que se recusa a negociar com os sequestradores/terroristas, seja ao modo como a empresa que contrata Reynolds lida com a situação.

Filmado sem grandes concessões, o filme só perde um pouco do impacto no final, quando o diretor se alonga demais para concluir o longa e acaba apostando em resoluções um tanto apelativas. A impressão que fica é que Cortés gostou demais da ideia da produção e não soube abrir mão de situações que não agregam nada à trama.

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