Se fosse dirigido por um David Fincher ou Christopher Nolan, por exemplo, Sem Limites seria uma obra-prima. Como é comandado por Neil Burger (do apenas ok "O Ilusionista"), o filme vira apenas uma experiência satisfatória dirigida demais para parecer uma mistura regada a esctasy de "Wall Street", "Estranhos Prazeres" e "Vidas em Jogo".
A premissa é interessante, o desenvolvimento é bacana, mas as possibilidades não vão além do clichê, e "Sem Limites" perde a oportunidade de ser mais para apenas cumprir o papel de thriller com toques de ficção eficiente, mas genérico.
Bradley Cooper (dono de um par de olhos azuis de deixar qualquer um distraído) vive um escritor vagabundo que está em crise criativa, sem dinheiro e prestes a perder a namorada (Abbie Cornish), quando se depara com uma nova que possibilita o ser humano acessar 100% de sua capacidade cerebral. A partir daí, a realidade do escritor se transforma e sua vida segue caminhos múltiplos. Mas nem tudo são flores, e o escritor se vê envolto em meio a uma trama que envolve poder, cobiça e mortes.
Dividido entre as possibilidades de ser uma bela ficção científica ou um filme de ação, Burger opta pelo caminho mais fácil e foca no thriller e no suspense, estetizando demais o longa para esconder as falhas no roteiro e na condução narrativa. Buscando uma resposta mais sensorial do público, o cineasta apela para a câmera angular, a fotografia estourada e o ritmo ágil para tentar reproduzir o estado de êxtase do protagonista. Diante da premissa, tais recursos até que funcionam, mas não deixam de ser apenas fírulas para encantar o público e transformar a premissa em algo audiovisualmente mais deslumbrante.
O resultado é um longa eficiente, mas cheio de clichês estéticos e narrativos. Uma boa sacada é a técnica que dá a impressão de continuidade espacial e temporal a imagens aleatórias. Mas para cada boa ideia como essa, o diretor usa o velho recurso de palavras caindo do teto para representar a efervecência de ideias ou explica demais a trama para o espectador médio que não gosta de preencher lacunas de informação.
Esse desleixo narrativo, digamos assim, acaba afetando o interessante elenco. A participação de Abbie Cornish, aqui sem ter muito o que fazer no papel de namorada, e de Robert DeNiro, como um suposto vilão, também pouco agregam ao filme, cabendo a Bradley Cooper - um ator não necessariamente talentoso, mas carismático - segurar a onda da produção.
Entre furos de roteiro aqui e uma direção exagerada ali, "Sem Limites" é apenas entretenimento digno. Poderia ser muito mais, é verdade. Mas nem tudo está destinado a ser mais do que mero entretenimento. E nem todo diretor vai ser um David Fincher ou Christopher Nolan.
domingo, 27 de março de 2011
sexta-feira, 25 de março de 2011
Não me Abandone Jamais
Depois de assistir a Never Let me Go, cheguei a conclusão que, ultimamente, pouco coisa tem me dito alguma coisa. Muito bonito de se ver e com uma premissa devastadora de tão triste, o filme faz parte daquela linha de produções de ficção científica com um foco mais existencial e que levanta uma série de questões sobre a "condição humana" (piada interna!).
Dirigido em tom pastel por Mark Romanek (um dos deuses do mundo do videoclipe, diretor de trabalhos nada menos que sensacionais para gente tão díspare como Madonna, Fiona Apple e Mick Jagger), o longa tinha todos os ingredientes para me destruir: elenco competente, carismático e bonito, ambientação nostálgica, trilha musical melancólica e uma premissa interessante baseada em livro famoso (de Kazuo Ishiguro). Mas nem todas as fórmulas funcionam assim de modo tão simples, e, apesar do filme ser belíssimo, saí do cinema com a impressão de que tudo poderia ser bem mais do que é.
Carey Mulligan, Keira Knightley e Andrew Garfield são três jovens amigos que levam aparentemente uma vidinha normal do interior da Inglaterra. Mas eles não são normais. Eles são clones e sua função no mundo é apenas crescer de forma saudável para, no futuro, doarem seus órgãos. Cientes do destino trágico que lhes é reservado, os três vivem como podem e nunca questionam seu papel na sociedade.
A partir dessa ideia, Romanek deixa de lado todas as questões existenciais possíveis e imagináveis (eles têm alma? onde entra a ética nessa história toda? que raios de sociedade é essa que cria pessoas como se fossem rôbos apenas para serem reservatórios de órgãos?) e coloca o foco no amizade entre os três. Assim, o cineasta ganha ao dar a oportunidade para o elenco brilhar, apostando em um tom melancólico que perpassa todos os amores, traições, medos e dúvidas dos personagens. Por outro lado, perde ao apenas raspar por questões que colocariam o filme em outro nível.
Longe de ser um péssimo A Ilha, no qual Ewan McGregor e Scarlett Johansson são clones que tentam fugir desesperadamente de seu destino, "Não me Abandone Jamais" perde em comparação a outra produção com temática similar (o ótimo Gattaca - Experiência Genética) e fica no meio do caminho entre ser um filme esteticamente belo e um longa com alma.
De uma forma ou de outra, o filme termina e fica claro que, hoje em dia, em tempos de bebê de proveta e clones de ovelhas, a premissa de "Não me Abandone Jamais" não é tão impossível. E nossa sociedade hipócrita seria perfeitamente capaz de aceitar a criação de clones como reservatório de órgãos e cobaias para pesquisas. Nesse sentido, "Não me Abandone Jamais" não deixa de ser uma experiência assustadora.
Dirigido em tom pastel por Mark Romanek (um dos deuses do mundo do videoclipe, diretor de trabalhos nada menos que sensacionais para gente tão díspare como Madonna, Fiona Apple e Mick Jagger), o longa tinha todos os ingredientes para me destruir: elenco competente, carismático e bonito, ambientação nostálgica, trilha musical melancólica e uma premissa interessante baseada em livro famoso (de Kazuo Ishiguro). Mas nem todas as fórmulas funcionam assim de modo tão simples, e, apesar do filme ser belíssimo, saí do cinema com a impressão de que tudo poderia ser bem mais do que é.
Carey Mulligan, Keira Knightley e Andrew Garfield são três jovens amigos que levam aparentemente uma vidinha normal do interior da Inglaterra. Mas eles não são normais. Eles são clones e sua função no mundo é apenas crescer de forma saudável para, no futuro, doarem seus órgãos. Cientes do destino trágico que lhes é reservado, os três vivem como podem e nunca questionam seu papel na sociedade.
A partir dessa ideia, Romanek deixa de lado todas as questões existenciais possíveis e imagináveis (eles têm alma? onde entra a ética nessa história toda? que raios de sociedade é essa que cria pessoas como se fossem rôbos apenas para serem reservatórios de órgãos?) e coloca o foco no amizade entre os três. Assim, o cineasta ganha ao dar a oportunidade para o elenco brilhar, apostando em um tom melancólico que perpassa todos os amores, traições, medos e dúvidas dos personagens. Por outro lado, perde ao apenas raspar por questões que colocariam o filme em outro nível.
Longe de ser um péssimo A Ilha, no qual Ewan McGregor e Scarlett Johansson são clones que tentam fugir desesperadamente de seu destino, "Não me Abandone Jamais" perde em comparação a outra produção com temática similar (o ótimo Gattaca - Experiência Genética) e fica no meio do caminho entre ser um filme esteticamente belo e um longa com alma.
De uma forma ou de outra, o filme termina e fica claro que, hoje em dia, em tempos de bebê de proveta e clones de ovelhas, a premissa de "Não me Abandone Jamais" não é tão impossível. E nossa sociedade hipócrita seria perfeitamente capaz de aceitar a criação de clones como reservatório de órgãos e cobaias para pesquisas. Nesse sentido, "Não me Abandone Jamais" não deixa de ser uma experiência assustadora.
quarta-feira, 23 de março de 2011
Sexo sem Compromisso
A comédia romântica é um gênero conservador em sua essência. Seja esteticamente falando, quando pensamos que o gênero está apoiado em uma estrutura narrativa e em fórmulas que nunca mudam. Seja ideologicamente, já que as comédias românticas, em sua maioria, apoiam-se em um ideal de amor romântico um tanto quanto datado e que, hoje em dia, existe muito mais na ficção do que na vida real.
Se a atualização e as mudanças não são comuns ao gênero, as comédias românticas têm que se virar para conquistar o espectador. Apela-se para a beleza e a química entre o casal central. Diálogos inspirados e situações engraçadas e emocionantes são muito bem-vindas. E coadjuvantes que ora funcionam como alívio cômico, oram roubam as cenas são mais do que necessários. Além de uma embalagem visual e sonora agradável de se ver e ouvir.
O problema de Sexo sem Compromisso é justamente o fato de não se destacar em nenhuma das características acima. Natalie Portman e Ashton Kutcher são bonitos e até funcionam como casal, mas o roteiro desenvolve e explora muito pouco a premissa inicial do filme, atrapalhando um pouco a química entre os dois. Os diálogos e as situação são pouco inspirados e só relevam como o gênero precisa de uma renovação. E os coadjuvantes pouco acrescentam em cena, geralmente tornando a narrativa do filme mais cansada do que ela já é.
Visualmente e em termos de trilha musical, o filme também não empolga e, se fosse uma produção brasileira, seria acusada, com razão, de ser um episódio esticado de uma série televisa qualquer. Como é um filme hollywoodiano, ninguém reclama e fala nada...
Teoricamente, Portman e Kutcher são amigos que resolvem fazer sexo sem compromisso. A premissa é essa. Mas o roteiro é rasteiro demais para assumir qualquer opção mais ousada. Eles nunca parecem realmente ser amigos e um clima de paquera sempre está no ar, já adiantando os caminhos que o filme vai seguir.
Portman e Kutcher se conhecem desde adolescentes, tiveram alguns outros contatos ao longo da vida e voltam a se encontrar já adultos. Ela é médica e não está interessada em relacionamentos sérios. Ele é filho de um artista famoso e está na merda porque a ex está atualmente com seu pai. Sem muitas opções, os dois decidem facilitar a vida e ser fuck buddies.
No mundo real, isso funciona que é uma beleza. Mas no cinema, em um gênero geralmente hipócrita e moralista como a comédia romântica, tal opção de vida é quase um crime e, claro, não funciona. E é essa opção moralista que mata "Sexo sem Compromisso". Claro que os dois vão se apaixonar. Claro que ela, avessa a complicações, vai dar um fora nele quando percebe que as coisas estão evoluindo para um romance. E, claro, no final, ela vai perceber que errou e correr atrás do amado.
Nesse sentido, "Sexo sem Compromisso"até pretende inovar. Afinal, é a mulher que tem problemas, é egoísta, se auto-sabota e tem que admitir seus erros para recuperar o amor. Mas as "inovações" do filme param por aí. Se "Sexo sem Compromisso" transforma Ashton Kutcher em "mocinha", o longa peca por criar uma versão masculina para uma personagem feminina, lançando assim as oportunidades necessárias para o desenvolvimento de um roteiro pobre e convencional e acreditando que inovar é, simplesmente, inverter os papéis na guerra dos sexos.
Olhando superficialmente, "Sexo sem Compromisso" faz aquele tipo de filme genérico que agrada. Umas piadas engraçadas aqui, o sorriso e o talento de Natalie Portman ali, os abs do Ashton Kutcher como bônus acolá. Tudo fluindo sem torrar muito a paciência do espectador. Mas por detrás de toda essa embalagem qualquer nota, reside um moralismo que destrói qualquer possibilidade de empatia com o longa.
No final das contas, "Sexo sem Compromisso" é mais do mesmo. Hollywwod hipócrita não admitindo que, em pleno século XXI, um homem e uma mulher podem transar regularmente sem um envolvimento emocional, só pelo ato em si. Sim, sexo sem compromisso existe. E a julgar por esse filme, é bem mais divertido na vida real do que no cinema.
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