sexta-feira, 25 de março de 2011

Não me Abandone Jamais

Depois de assistir a Never Let me Go, cheguei a conclusão que, ultimamente, pouco coisa tem me dito alguma coisa. Muito bonito de se ver e com uma premissa devastadora de tão triste, o filme faz parte daquela linha de produções de ficção científica com um foco mais existencial e que levanta uma série de questões sobre a "condição humana" (piada interna!).

Dirigido em tom pastel por Mark Romanek (um dos deuses do mundo do videoclipe, diretor de trabalhos nada menos que sensacionais para gente tão díspare como Madonna, Fiona Apple e Mick Jagger), o longa tinha todos os ingredientes para me destruir: elenco competente, carismático e bonito, ambientação nostálgica, trilha musical melancólica e uma premissa interessante baseada em livro famoso (de Kazuo Ishiguro). Mas nem todas as fórmulas funcionam assim de modo tão simples, e, apesar do filme ser belíssimo, saí do cinema com a impressão de que tudo poderia ser bem mais do que é.

Carey Mulligan, Keira Knightley e Andrew Garfield são três jovens amigos que levam aparentemente uma vidinha normal do interior da Inglaterra. Mas eles não são normais. Eles são clones e sua função no mundo é apenas crescer de forma saudável para, no futuro, doarem seus órgãos. Cientes do destino trágico que lhes é reservado, os três vivem como podem e nunca questionam seu papel na sociedade.

A partir dessa ideia, Romanek deixa de lado todas as questões existenciais possíveis e imagináveis (eles têm alma? onde entra a ética nessa história toda? que raios de sociedade é essa que cria pessoas como se fossem rôbos apenas para serem reservatórios de órgãos?) e coloca o foco no amizade entre os três. Assim, o cineasta ganha ao dar a oportunidade para o elenco brilhar, apostando em um tom melancólico que perpassa todos os amores, traições, medos e dúvidas dos personagens. Por outro lado, perde ao apenas raspar por questões que colocariam o filme em outro nível.

Longe de ser um péssimo A Ilha, no qual Ewan McGregor e Scarlett Johansson são clones que tentam fugir desesperadamente de seu destino, "Não me Abandone Jamais" perde em comparação a outra produção com temática similar (o ótimo Gattaca - Experiência Genética) e fica no meio do caminho entre ser um filme esteticamente belo e um longa com alma.

De uma forma ou de outra, o filme termina e fica claro que, hoje em dia, em tempos de bebê de proveta e clones de ovelhas, a premissa de "Não me Abandone Jamais" não é tão impossível. E nossa sociedade hipócrita seria perfeitamente capaz de aceitar a criação de clones como reservatório de órgãos e cobaias para pesquisas. Nesse sentido, "Não me Abandone Jamais" não deixa de ser uma experiência assustadora.

2 comentários:

  1. O título em português ficou lindo. E você comentando sobre a condição humana me deixa emocionada demais!

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