Mas, ainda que eu seja um rapaz contemporâneo, não há como negar que estou passando por uma fase dessas meio nostálgicas, querendo rever coisas que vi quando criança/adolescente, ou mesmo ver pela primeira vez coisas que nunca tive coragem de ver, por preguiça mesmo. Talvez seja os 35 anos pesando, cobrando e dizendo que é chegada a hora de preencher certas lacunas cinematográficas e/ou musicais.
Diante das circunstâncias, tenho me entregado aos filmes de antigamente. Um "Se o meu apartamento falasse" aqui, um "Festim Diabólico" acolá. E também a uma extensa lista de coisas a serem vistas e descobertas: "Almas em Suplício", "Um Estranho no Ninho", por exemplo, só para citar dois.
Dos filmes revistos, clássicos de infância, já meio esquecidos, mas devidamente relembrados durante a revisão, às produções básicas que você vergonhosamente nunca assistiu. Tinha me esquecido, por exemplo, que O Mágico de Oz é um musical, um filme cheio de cores e que, em tempo de globalização, quando pessoas mudam de cidades e países em um piscar de olhos, traz uma mensagem um tanto ingênua: "não existe lugar como nosso lar". Mensagens a parte, é um deleite ver Dorothy - uma menina um bocado chata, é verdade - vivendo aventuras ao lado de um espantalho sem cérebro, um homem de lata sem coração e um leão sem coragem em meio a uma estrada de tijolos amarelos, sempre com o fiel Totó a tiracolo.
Ben-Hur não é um filme para criança, mas é um desses clássicos da Sessão da Tarde que passava durante a Semana Santa. Épico no melhor sentido do termo, o filme é um exercício de estilo e ação em uma época em que o CGI não era nem um sonho, e a edição das cenas era clara, nada picotada e fragmentada para esconder falhas. A cena da batalha das vigas é de um apuro técnico que impressiona, e a história de vingança ganha ares esperançosos em um final melancólico e de redenção religiosa. O longa, de quase quatro horas de duração, é a maior referência de épicos até hoje (o "Gladiador", de Ridley Scott, por exemplo, não deixa de ser um remake mais amarelado do filme de William Wyner).
Outro épico trabalhado em um registro diferente de "Ben-Hur", esse vergonhosamente nunca visto, E o Vento Levou... é realmente emocionante e ainda ousa ao não trazer um final feliz. Narrando, também ao longo de quase quatro horas, a vida, os dramas e os amores de Scarlett O'Hara em meio a guerra da secessão nos Estados Unidos, é suntuoso, histórico e dirigido com precisão por Victor Fleming, que, no mesmo ano, também foi o responsável por "O Mágico de Oz". Ainda que quatro horas sejam quatro horas, o longa é obrigatório para quem quer entender o nascimento da narrativa clássica hollywoodiana.
Também ousando ao entregar um final não feliz, o musical Amor, Sublime Amor definiu uma geração e foi um dos últimos exemplares da grande era de um gênero que já dava sinais de exaustão. Modernizando a trama clássica de Romeu & Julieta, de William Shakespeare, o filme de Jerome Robbins e Robert Wise transforma a história de amor de dois jovens de famílias rivais em uma briga de gangues na Nova York dos anos 1960. Ainda que seja apoiado na velha história do "amor romântico" de jovens que se apaixonam sem nem mesmo se conhecerem (algo difícil de ser engolido pelas plateias de hoje), o filme mantém seu vigor narrativo e traz uma apresentação impecável de personagens e um início ainda hoje empolgante. As músicas totalmente integradas à narrativa e as cenas de dança belissimamente coreografadas completam o espetáculo.
Bobagem que o cinema não faça mais, hoje, filmes tão bons quanto antigamente. Mas isso não quer dizer que, antigamente, o cinema não tenha produzido pérolas incomparáveis.