quinta-feira, 8 de março de 2012

Cinema: Oscar 2012

Sim, o Oscar já passou e ninguém mais se importa com ele. Mas eu pouco me importo se vocês ainda se importam ou não com a premiação. Só agora consegui terminar de ver os filmes indicados na categoria principal, então, antes tarde do nunca, eis aqui minha opinião sobre eles em ordem de preferência. Como nota de rodapé, só digo uma coisa: essa é uma das piores listas de filmes da existência, relação de longas mais fraca do que caldo de bila (ou bola de gude, a depender da região onde você more).

A Invenção de Hugo Cabret: Homenagem é uma das palavras mais banalizadas da existência terrestre, qualquer Zé Mané usa sem a menor parcimônia, mas aqui cabe usá-la. Mesmo com um tom um tanto didático e abordagem infantil, Martin Scorsese faz uma bela homenagem ao cinema e a George Méliès nesse filme visualmente arrojado e narrativamente emotivo. Só ganhou prêmios técnicos, o que só comprova que o Oscar não vale nada.
Meia Noite em Paris: Só gente muito sem noção para comprar a balela de que Woody Allen voltou. “Match Point” e “Vicky Cristina Barcelona” são o que então? Esse novo filme de Allen não tem nada de novo, e o cineasta já fez coisas parecidas e de melhor qualidade. Mas o longa tem seu charme, é fácil de assistir e traz uma bela Paris como pano de fundo. Seria melhor caso o público pseudointelectual não ficasse se contorcendo na poltrona a cada referência cult que o diretor joga na tela. Mas aí a culpa não é do filme, né!

O Artista: Outro longa bonitinho e ordinário, o filme só vale pela experiência de vermos um filme mudo na telona de um multiplex. No mais, é genérico, melodramático e repetitivo. Uma boa experiência para ser vista, ouvida e logo em seguida esquecida. O mérito do filme é se sobressair em meio a uma pilha de produções medíocres. E só. Será uma vergonha em um futuro próximo. Claro que ganhou todas as categorias principais, o que só confirma que prêmio mais coxinha não há.

Cavalo de Guerra: Steven Spielberg filma sua versão de “O Corcel Negro” com uma roupagem épica de plástico para público de novela do Manoel Carlos chorar. Genérico até a alma, o filme tenta emular um cinema clássico que se contorce de vergonha em algum lugar do passado. É um cinema de encher os olhos e de secar a alma. Só não é pior porque Spielberg sabe como filmar belas cenas em meio a uma narrativa esquemática e episódica. O final com fotografia de “nunca mais passarei fome!” é de doer.
Os Descendentes: Sério que Alexander Payne amadureceu como cineasta? Com isso aqui?!? Filme cheio de boas intenções que começa e termina sem dizer a que veio, a não ser que você considere a velha e batida lição de moral ambientalista e familiar como algo relevante. O longa passa diante dos olhos do espectador, os atores chamam a atenção e a trilha sonora havaiana incomoda e cansa. Bons tempos aqueles em que os roteiros de Payne tinham ironia ("Ruth em Questão", "Eleição", alguém?!). De boas intenções, o inferno cinematográfico está cheio.

Histórias Cruzadas: Hollywood já fez esse filme antes. Ele era bem melhor, mais honesto e se chamava “Uma História Americana”. Essa é uma versão para Disney ver da velha história de preconceito entre brancos e negros. O elenco se esforça. A história vai passando na sua frente. E a impressão que temos é que o filme é um puta pastel de vento: apetitoso em sua embalagem, completamente vazio por dentro. Vale pelo elenco tentando dar algum sabor a coisa toda.
A Árvore da Vida: Se vamos ser pretensiosos, vamos pelo menos filmar com propriedade, né! Terrence Malick joga na cara do público intelectualóide do Reserva Cultural o quanto ele é maconheiro nessa viagem etérea e sem sentido pelo cerne da “existência humana”. Em outras palavras: meu cu! Chato como a vida, o longa (realmente bem longo) só se salva por causa da fotografia dos deuses. O que é muito pouco, convenhamos!

O Homem que Mudou o Jogo: Brad Pitt merecia um Oscar só por prender a atenção nesse filme chato para caralho sobre um esporte que ninguém realmente entende: beisebol. Se eu não compreendo nem a lógica do que é um impedimento, o que dirá as regras desse jogo no qual homens pegam em um cassetete e tentam rebater uma bola sabe-se lá porque. De qualquer forma, Pitt entrega uma atuação envolvente e cheia de simpatia em um longa qualquer nota previsível e desprovido de alma. A quem interessar possa, além de ótimo, Brad Pitt está lindo como nunca.
Tão Forte e Tão Perto: Stephen Daldry joga na cara do espectador o quanto é manipulador e desonesto nesse arremedo de filme. Protagonizado por uma das crianças mais irritantes do cinema contemporâneo, que ainda narra tudo em off, Tão Forte e Tão Perto é tortura audiovisual. Simplista e simplório, o filme afunda a carreira de Daldry no poço da mediocridade. Só não é pior porque Sandra Bullock surge, vez ou outra, como um respiro de dignidade em meio a um caos narrativo de fazer chorar (no mal sentido).

Se o mundo fosse justo...
...ao invés de uma lista de filmes ora medíocres, ora equivocados, ora qualquer coisa, a Academia de Artes Cinematográficas teria ousado e aberto espaço para títulos como a versão cult (bem) melhorada de "60 Segundos" (Drive); o fim do mundo cabeça de Lars Von Trier (Melancolia); a volta em grande estilo de David Fincher ao universo dos serial killers (Os Homens que não Amavam as Mulheres); a atuação dilaceradora de Tilda Swinton em um filme igualmente pertubador (Precisamos Falar Sobre Kevin); o emocionante drama familiar em meios aos ringues de UFC (Guerreiro); e até o drama iraniano para Ocidente ver (A Separação). Mas de justo, o mundo não tem nada.

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