segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Shows: Planeta Terra 2012


Eu não entendo muito de música, musicalmente falando. Pouco me importa saber sobre harmonia, notas musicais, qual a diferença entre baixo e guitarra e mais outras tantas nuanças da música. Mas eu adoro música. Ouço música dia e noite, no trabalho, tomando banho, no transporte público e dentro do avião, quando estou feliz ou nem tanto. Então nada me deixa mais animado do que ir a shows, espetáculos musicais das bandas e cantores que eu gosto e amo e ouço e danço. Mesmo eles sendo bem caros.
 
Dito isso, no último sábado, compareci pela terceira vez seguida ao Planeta Terra, meu festival preferido. As razões são várias: o festival só acontece em um dia, sempre tem uma produção impecável, nem é tão caro, e é dono de um público e uma pegada indie-hipster-cult-gay que muito me interessa, digamos assim.
Na sexta edição do festival, o Planeta Terra trouxe mais de 10 atrações. Eu só conferi quatro. Porque festival é isso, é escolha, por mais chato que seja. Então nada de The Drums, Azelia Banks ou The Maccabees, shows que queria ter visto. Mas tudo bem, não se pode ter (ver) tudo.
 
Mas o saldo foi bem positivo. Pra mim, o festival começou com o show da Little Boots, que pôde ser conferido graças ao cancelamento do Kasabian (antes Little Boots chocaria com Suede e, claro, que eu ia preferir o som dos anos 90 à batida eletrônica do projeto de Victoria Christina Hesketh). E um viva ao Kasabian! O som bem eletrônico e dançante de Little Boots não combina muito com o dia claro e o ambiente ao ar livre. Mas quem se importa. Eles tocaram “Remedy” e “Shake” e fizeram um show dançante e pulante acompanhado pelo carisma/timidez da moçoila, que nem é tão moçoila assim.
Suede fez o melhor show da noite. Eu até poderia dizer “de longe, o melhor show da noite”, mas o Gossip chegou junto. Liderado por um Brett Anderson cheio de vigor, o Suede fez um show pauleira que não abriu espaço para descanso e deixou o público sem fôlego com um hit atrás do outro. Faltou “Stay Togrether”, mas teve “The Beautiful Ones”, “Everything Will Flow”, “So Young”, “We Are the Pigs” e até algumas lágrimas (minhas) em “The Wild Ones”. Que banda linda! Que show lindo! E que Brett Anderson Deus!
 
Depois foi a vez de outra banda saída dos anos 90. Não sou tão fã do Garbage quanto do Suede, então achei o show um pouco caído, apesar de puta presença de palco de uma falante Shirley Manson. A cantora, que quase transforma o palco em passarela, tem uma voz poderosa, mas só me empolguei mesmo com os hits hits: “Queer”, “Only Happy When It Rains”, “Stupid Girl” e mais algumas canções. Ainda que sem o ritmo frenético apresentado pelo Suede, o Gargabe fez um bom show.
Para fechar tudo, teve Gossip. Eu gosto da banda, mas não sou fã, fã. Mas que puta show. Beth Ditto entrou quebrando tudo. Cancelou mil vezes, mas fez “O” show. Simpática, carismática, diva e bêbada, Ditto surpreendeu a todos, menos pelo vozerão e mais pela atitude cordial e alegre, nada abusada. Com direito a goles de caipirinha, arrotos involuntários ao microfone e muitas bitocas nos fãs “peito na grade”, a cantora conquistou a todos não apenas com os hits “Heavy Cross”, “Standing in the Way of Control” e tantos outros, mas pela catarse que promoveu em cima do palco e junto ao público.
 
Muita gente reclamou da mudança do Planeta Terra do Playcenter para o Jockey Club, do festival que não estava lotadão e mesmo do line-up "meia boca". Para mim, a proximidade com o metrô Butantã é uma vantagem, a não lotação também, já que as filas eram dignas e dava para se movimentar com tranquilidade entre os palcos, e, principalmente, as bandas eram, acima de tudo, boas. Que venha o Planeta Terra 2013!
 
E que venham outros festivais de música boa. Eles são caros, cansativos, mas valem muito como experiência musical e de diversão. E, nesse sentido, posso não entender de música, musicalmente falando, mas abraço a música da melhor forma que posso.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Cinema: Moonrise Kingdom

Engraçado que Moonrise Kingdom tenha sido um dos filmes mais elogiados de Wes Anderson. O longa realmente tem a cara do cineasta e parece ser uma miscelânea da sua obra, apresentando ao público o que o diretor sabe melhor fazer: misturar um certo formalismo com um toque de melancolia. Mas o novo trabalho de Anderson fica por aí. É tão fofo, cute, bonitinho que chega a doer, mas não evolui.

Na real, em “Moonrise Kingdom”, a impressão que fica é que o cineasta pegou tudo que já fez e jogou no liquidificador adicionando o filtro Earlybird do Instagram (sim, o mais vintage de todos, claro). Bonito de se ver, mas meio vazio de sentidos, o longa eleva o esmero estético de Anderson à milésima potência.
A fotografia pálida combina com o descontentamento e/ou conformismo dos personagens. A direção de arte é uma coisa de bonita e funciona como moldura para cenas que causam um belo impacto visual. E a movimentação de câmera detalhista acompanha com precisão e certo calculismo as peripécias de uma trama sobre um garoto e uma garota disfuncionais que decidem fugir juntos.

A grande questão do filme é que todo o formalismo e a estética calculada da produção vão de encontro à temática que versa sobre amores pueris e ingenuidade. A sensação que fica é que há algo sobrando na equação. E o resultado é lindo de se ver, mas de uma frieza sem tamanho.
O elenco cheio de nomes conhecidos jogados em papéis que não deixam nenhum espaço de desenvolvimento só reforça esse distanciamento. Bruce Willis, Edward Norton, Tilda Swinton, Frances McDormand, Bill Murray, Jason Schwartzman e Harvel Keitel estão ali mais para serem cools em um filme cool do que para outra coisa. Resta aos adolescentes segurarem a onda. Sorte que tanto Kara Hayward quanto Jared Gilman se saem muito bem e compram sem reservas a premissa do filme.

Já Wes Anderson se contenta em criar enquadramentos delicados e encher a narrativa de firulas que enchem os olhos. Mas é pouco para quem já demonstrou talento em um filme bem mais complexo, como “Os Excêntricos Tenenbauns”, e ousou até na animação, no gracioso “O Fantástico Sr. Raposo”. Avisem ao Anderson que apostar em ser só indie, hispter e melancólico é muito pouco para segurar um longa-metragem.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Cinema: Dredd 3D

“Violence, I hate your violence!”. Esqueça aquele filme picareta dos nos 90 com Sylvester Stallone. Dredd 3D é a verdadeira adaptação do personagem dos quadrinhos para o cinema. Violenta sem pudor. Violentíssima sem ter vergonha disso. Quem é sensível ou reclama da violência excessiva do cinema atual vai sair um tanto chocado. E com razão. Sem grandes nomes no elenco, um orçamento relativamente baixo para uma produção com tal encenação e efeitos e sem pretensões a ser um grande blockbuster, o diretor Pete Travis aproveita a liberdade que tem em mãos e cria um filme tenso, sujo, violento, amoral e banhado em sangue.
 
Em um futuro distante, o mundo não é mais como o conhecemos, e a sociedade chutou o balde. Policiais atuam como investigadores, juízes, júri e executores e tentam manter a ordem diante de um caos generalizado e estilizado. Travis é muito eficiente na construção do universo que serve de cenário para uma trama reacionária e fascista onde “bandido bom, é bandido morto”. Não existe dualidade nessa ambientação distópica. Os bons tentam sobreviver como podem. Os maus são tão maus como só o cinema pode representar.
 
Travis acerta também ao não enrolar muito e apresentar sem muitos rodeios seu “herói” e a trama do filme. O Juiz Dredd tem como incumbência levar uma novata com poderes telepáticos para o meio das ruas para testar sua capacidade de resistência em meio ao perigo. Claro que tudo dá merda, e ele e a novata se vêem envolvidos em um jogo de gato e rato, presos em um prédio gigantesco e rodeado de gente que quer apenas arrancar a pele dos dois.
 
A partir daí, o que poderia ser um mero remake de “Duro de Matar” parte para cima do espectador sem pena. Balas, tiros e explosões criam uma tensão que nunca para e elevam a experiência de se assistir ao filme em uma tela grande e em alto e bom som. O 3D reforça tudo isso e deixa claro que o longa não está para brincadeira. Travis se reveza entre apresentar a violência do filme de forma crua e dar uma plasticidade a ela. Se a crueza dos tiros sendo disparados causa arrepios, a estetização da mesma deixa o vermelho mais colorido, mas sem poupar o público.
 
Entre a ideologia fascista e a violência exacerbada, o filme de Pete Travis cumpre seu papel. É tenso, preciso e quase envolvente em sua ambientação caótica. Uma adaptação digna e honesta de um quadrinho violento e controverso. No final das contas, o longa acaba sendo uma experiência ética, estética e quase sensorial. Não é pouco para uma produção que, para muitos, pode cair na vala das adaptações de “heróis” dos quadrinhos.