Tem gente que acha que Oscar é
sinônimo de qualidade. Dois filmes que concorrem a várias estatuetas esse ano
provam que não. "Lincoln" saiu na frente com 12 indicações e é, de longe, o filme
mais chato da carreira de Steven Spielberg. "Os Miseráveis" levou oito indicações
e divide opiniões: alguns amam, a maioria odeia e torce o nariz.
Lincoln é uma longa e maçante
aula de história, igual, ou pior, àquelas bem chatas do colégio. Dirigido com
toda a sobriedade possível por Spielberg, o cineasta confunde profundidade com
fotografia escura, ritmo lento e uma duração massacrante. São mais de duas
horas e meia de muita falação que tenta dar conta de uma parte importante da
história dos Estados Unidos.
Como manda a cartilha ufanista
estadudinense, somos apresentados a uma linda versão dos fatos, quando um
homem, o presidente Abraham Lincoln, sabe-se lá o porquê (talvez tenha dormido
na hora que explicaram os motivos dele), começa uma luta para abolir a
escravidão e acabar com a Guerra da Secessão (dê um Google se você não sabe o
que é isso). Tudo filmado da forma mais burocrática e épica possível, mesmo sem ser.
Se, durante a primeira metade,
estamos preocupados demais em acompanhar os diálogos intermináveis entre
políticos e mais políticos, na segunda parte, Spielberg pesa um pouco menos a
mão. Depois de muito sofrimento (do espectador), o diretor acelera um tantinho só o ritmo e
adota um pouco seu habitual sentimentalismo, seja inserindo certa comicidade ou
apelando para o melodrama, principalmente na cena da morte de Lincoln (sim, ele
morre no final!).
O elenco é competente, mas não
tem o menor carisma (exceções de Tommy Lee Jones, Sally Field e um gordo e
desfigurado James Spader – que já foi bastante pegável um dia). A atuação de
Daniel Day-Lewis é nula (nessa hora, eu apanho). O ator se esforça, mas poderia
estar interpretando uma nova versão de Nosferatu no mesmo filme e ninguém
notaria a diferença.
Mas como tudo pode ser pior, eis
que temos Os Miseráveis. O novo filme de Tom Hooper (do bonitinho e caretinha "O Discurso do
Rei") não é apenas um musical, mas sim um MUSICAL que quer deixar isso bem
evidente a todo custo, em outras palavras, a paciência do espectador. Totalmente
cantado, o filme é sério, bem sério, então esqueça danças e performances
divertidas. A opção de Hoover é por uma produção "broadwayana" inteiramente cantada na qual
as músicas são totalmente sem graça (a única exceção é a cena de apresentação
dos personagens de Sacha Baron Cohen e Helena Boham Carter, que parecem saídos
diretamente de Sweeney Todd).
Apesar da produção
caprichadíssima (a fotografia e a direção de arte realmente saltam aos olhos),
o resultado do filme beira o insuportável e carece de dramaticidade. O fato dos
atores cantarem “ao vivo” só piora a experiência. Temos vozes desafinadas e uma
comicidade involuntária. A mão pesada de Hooper acaba com tudo graças à
profusão de closes desnecessários e a grandiosidade como tudo é filmado.
Dividido em três partes, o longa
tem personagens demais, e a maioria pouco acrescenta ao fiapo de história: Jean
Valjean (Hugh Jackman com uma peruquinha cacheada ridícula) fugindo de Javert
(Russell Crowe, que não envelhece uma ruga, mesmo o filme tendo um tempo – e
quase uma duração – de 20 anos). O final é puro constrangimento e, mesmo Hooper
forçando todas as barras, não senti nada durante toda a produção (mentira,
fiquei feliz na hora que mataram a criança a tiros!).
PS: Oscar de melhor cara forçada de
choro e sofrimento para Anne Hathaway. E só.