segunda-feira, 29 de abril de 2013

Cinema: Duas pílulas

A Caça é um filme de horror. O novo trabalho de Thomas Vinterberg ("Festa de Família") não tem monstros, fantasmas, sustos fáceis ou seres fantásticos, mas traz pessoas fazendo aquilo que elas mais sabem fazer: julgar e tratar os outros como lixo. A partir de uma premissa bem real, o diretor cria quase um conto de terror que assusta ao retratar o inferno que se transforma a vida de um professor acusado pelo abuso sexual de uma criança. Desde o início, Vinterbeg deixa claro que o professor (interpretado pelo ótimo Mads Mikkelsen) é vítima de um mal entendido e foge da abordagem clichê “inocente ou culpado”. O cineasta está mais preocupado em dissertar sobre como as pessoas julgam sem pena antes mesmo de terem provas ou um veredito final e criar tensão por meio das relações desfeitas entre o professor e a comunidade local. Quase sem trilha musical e fazendo uso de uma abordagem seca, Vinterbeg constrói cenas de um impacto impressionante (a cena do supermercado é revoltante, e um simples atravessar de tapete nos braços de um adulto é de gelar a alma). O final é quase esperançoso, mas o cineasta deixa claro que o estrago já está feito e não tem volta.

 O Abismo Prateado: personagens desgraçados sempre cruzam com outras pessoas em situação semelhante no cinema. No filme de Karim Ainouz, as coisas não são diferentes. Usando como inspiração uma música do Chico Buarque, o cineasta cearense lança seu olhar usualmente poético e plástico sob a trajetória de Violeta, dentista casada e com filho e que foi abandonada pelo marido via mensagem de celular. Usando o Rio de Janeiro como paisagem e quase personagem, Karim acompanha Violeta em um dia logo depois do anúncio súbito de que o marido não a ama mais. Violeta se desespera, fica sem ar e perambula pela cidade em busca de respostas. O filme só não é inteiro de Alessandra Negrini, ora melancólica, ora transtornada, porque o diretor desvia suas lentes para mostrar um Rio de Janeiro caótico e barulhento que serve de contraponto ao vazio que a personagem sente. O longa só não é mais redondo porque Karim erra na escolha dos coadjuvantes, todos artificiais demais, e não foge do clichê: Violeta encontra sua redenção ao cruzar com uma criança “fofa” e seu pai (Thiago Martins) igualmente perdido como ela.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Cinema: Mama

Abismado como “Mama” é ruim. Mesmo com o selo de qualidade Guillermo del Toro estampando o cartaz e o trailer do longa, o filme do estreante Andrés Muschietti segue a mesma proposta de outra produção de Del Toro, o fraco Não Tenha Medo do Escuro, e erra feio. As duas produções têm problemas semelhantes: ambas são filmes de terror que buscam no cinema de antigamente a ambientação e a motivação para a criação de uma mitologia, mas se apoiam nos efeitos e na edição dos dias de hoje, resultando em longas sem identidade alguma.
 
Tudo em Mama parece ser forçado e tão cinza e apático quanto sua fotografia. Da interpretação de Jessica Chastain, uma boa atriz perdida em um roteiro ruim e direção amadora, à direção de arte sujinha e escura, desde o início o filme já deixa claro que vai se desenvolver sem surpresas e aos trancos e barrancos até o clímax sem o mínimo de tensão.
O maior dos problemas nem é a trama absurda, comum ao gênero, mas, sim, a falta de ousadia de um filme arrastado, incoerente e que prega um susto aqui e ali sem nunca realmente empolgar. É meramente um exercício estilístico que nunca dá certo e faz mal uso de todos os clichês possíveis.
 
A história segue a tradição dos filmes de terror com protagonistas infantis. Clichê número um: crianças em longas de horror sempre são um mau sinal e têm questões de paternidade/maternidade mal resolvidas.
Parte da ambientação e tensão desses longas é decorrente da trilha musical e dos efeitos sonoros. Clichê número dois: “Mama” tenta desesperadamente criar alguma lógica por meio de sua trilha que mistura tons de fábula mais doces à la “Edwards Mãos de Tesoura” com instrumentação mais pesada e cortante que lembram um tanto “Psicose”.
Filmes assim também precisam de morte, sangue e insetos. Clichê número três: o personagem burro e que não desperta nenhuma empatia do público descobre pistas importantes e vai procurá-las em uma cabana bem no meio da noite, simplesmente para morrer e não deixar a menor saudade.
Sem nenhum atrativo, o filme corre em marcha lenta relevando o trabalho medíocre do diretor. A trilha sonora é má utilizada, antecipando e marcando todos os sustos sem a menor sutileza. A direção de arte, a fotografia e ambientação não apresentam um sinal de criatividade sequer. E o ritmo do longa é frouxo e só reforça as muitas falhas de roteiro. O resultado é terror de menos e comédia involuntária de mais.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Lollapalooza 2013: Eu fui!

Depois de muito “vou, não vou”, fui. Ganhei impresso pra ir ao Lollapalooza BR 2013 na sexta (S2 eterno ao Lu) e acabei me empolgando e comprando o ingresso do sábado. Com a mochilinha nas costas, abastecido com chocolates, biscoitos e água de copo (ponto positivo, não é todo festival/show que permite isso), boné, óculos escuros, bermudinha, tênis descartável e muita juventude no bolso, fui lá ser feliz ao som do The Flaming Lips, The Black Keys e tantas outras bandas.
Na sexta, peguei metrô, andei até o Jockey Club, entrei e fui logo na Roda Gigante. Odeio Roda Gigante, fico em pânico, mas fui mesmo assim. Lá de cima, vi o começo do Of Monsters and Men. Não conhecia a banda e achei uma coisa meio The Magic Numbers meets Arcade Fire. Ou seja, já baixei o álbum deles, mesmo não tendo visto o show na íntegra.

Depois do Of Monsters and Men, pisei na lama com cheiro de bosta de cavalo e fui para o palco do outro do lado do Jockey ver The Temper Trap. Gosto da banda, o vocalista tem cara de sofredor, mas tem também uma puta voz que segura legal. Showzão pra ver abraçado. Como não tinha ninguém pra abraçar, me concentrei na música e adorei o show.
Crystal Castles achei bem bandinha absurdinha wanna be. Nada de novo. Uma vocalista surtada gemendo e bebendo whisky entre batidas eletrônicas. Vi metade do show, deu preguiça da perfomance toda e fui ver Cake. O som do Cake tava uma piada e desisti de ver antes mesmo de tentar. Achei melhor me posicionar perto do palco principal para ver The Flaming Lips, que era realmente a banda que queria ver.

Show lindo de uma banda lisérgica e lunática. O foda é que mais da metade do público não estava entendendo nada e só queria saber do The Killers. Pena, porque adorei e achei lindo. A primeira metade de músicas novas e mais desconhecidas deu lugar a uma segunda parte mais “animada” e que culminou com “All we have is now”, minha música de funeral preferida.
Entre um “passei pelo show do Passion Pit” (segunda vez que ignoro um show deles; a primeira foi em um Planeta Terra) e uma providencial deitada na grama ao som de Deadmou5, faltava apenas o The Killers. Gosto deles, apesar deles não terem um álbum decente (o melhor é o primeiro mesmo), apenas músicas legais soltas. O show, lotadíssimo, teve a mesma pegada. Hits para pular e cantar e algumas músicas meio mornas, apesar da vibração (e beleza) do Brandon Flowers. Valeu para constar no currículo de shows.

Findado tudo, hora de caminhar feito gado até o metrô Butantã, que estava fechado (?!?). Depois que acumulou a multidão do Jockey inteira na porta, eles abriram e foi lindo, só que não, conseguir chegar até a catraca, passar e, finalmente, pegar o bendito metrô. Resultado: dores lombares, pés me matando e tênis tomado por lama.

Acordei no sábado de um pulo, liguei para uma amiga e fui convencido em três segundos a ir de novo ao segundo dia do festival. Como não tinha ingresso, cheguei cedo e comprei sem filas ou problemas. Lá entrando, fui ver o Toro y Moi. Não conhecia e achei uma coisa Jamiroquai melhorado. Gostei e vou baixar para ouvir melhor depois. Em seguida, casa cheia para ver Two Door Cinema Club. Som bonitinho para pular e cantar junto. O que mais me impressionou foi a multidão que acompanhou o show. Não sabia que eles eram tão hypados.
Franz Ferdinand ou Alabama Shakes? A dúvida era grande, e o cansaço também. Como tinha que andar menos pro Alabama Shakes, fiquei com essa opção. Qual minha surpresa quando chego ao palco alternativo e tinha uma negona em cima deles? E a vocalista da banda é mulher, jura? Pior é que ouvi o álbum deles mil vezes e não me dei conta disso. Vi metade do show, mas achei fossa demais. Seria um show melhor se fosse em um bar xexelento de beira de estrada, logo depois de você levar um pé na bunda. Como não era o caso, fui tentar ver algo do Franz Ferdinand. Som péssimo, desisti também antes mesmo de tentar.

Amigos queriam ver QOTSA (carinhosamente apelidado por mim de Queens of the Stone Temple Pilots) e fui. Som pesado, coisa de macho para macho. Só conhecia duas músicas, mas não tem como não se deixar levar pelas guitarras e bateria furiosas dos caras. Fui, vi, venci e fiquei até o final. Talvez tenha sido o show mais macho que já vi na vida (em dúvida se o do Dinousar Jr que vi no Beco supera esse).
The Black Keys estava na lista dos “shows que quero muito ver”, então terminou o QOTST e não saí do lugar. Quer dizer, saí e fui mais para frente, encostado em uma grade e com uma visão ótima e integral do palco. Showzaço, com guitarras e mais guitarras. O som dos caras não é furioso como o do QOTSA, muito menos pulante e farofa como o do The Killers, então foi um show mais para apreciar e cantar junto alguns dos muitos hits da banda. Terminando com luzes apoteóticas e explodindo tudo, só me restou comer um hambúrguer como se ele fosse o último e depois me jogar no transporte público mais perto.

No domingo, minha juventude pediu licença e me deixou na mão. Queria muito ter ido ver Foals, Hot Chip, Kaiser Chiefs, Hives e Major Lazer, mas não consegui levantar da cama. Apenas respirei e dormi o dia inteiro. Mas valeu ter ido, me cansado e visto o que vi. Agora é ver se confirmam ou não o Planeta Terra (meu festival do coração; sou bicha?) ou esperar o Lolla 2014. Posso não ser mais tão jovem assim, mas ainda me esforço.