quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Cinema: Carrie, a Estranha

Apesar de hoje em dia ser muito comum se falar da falta de criatividade em Hollywood e da atual mania de remakes, as refilmagens sempre fizeram parte da lógica do cinema desde quando ele começou a ser visto como indústria. Para o bem e para o mal, os remakes existem e estão aí desde sempre. Alguns bons, outros totalmente dispensáveis.

Infelizmente, a refilmagem de Carrie, A Estranha faz parte da segunda categoria. A nova releitura hollywoodiana do filme lançando em 1976 é vergonhosa, constrangimento em forma de cinema. Se o longa original praticamente lançou as carreiras de Sissy Spacek e do diretor Brian De Palma e colocou as obras do escritor Stephen King na rota das adaptações cinematográficas, a produção de Kimberly Peirce passa batida e vira mais um terror genérico, desses que não deixa nenhuma marca.

Extremamente mal dirigido e sem nenhuma sutileza, o que de certa forma é surpreendente (Peirce tem no currículo o ótimo “Meninos não Choram”), a nova versão de Carrie, A Estranha é um filme sem tensão ou nenhum impacto. A história é a mesma: menina estranha sofre bullying no colégio e tudo termina em tragédia. Nenhuma das alterações propostas pela nova versão acrescenta muito à mitologia construída pelo original de 1976. Assistimos ao nascimento de Carrie, sua mãe se autoflagela e é isso.

Qualquer boa intenção se perde diante de uma edição que torna tudo extremamente esquemático e da opção modernosa de tentar criar tensão ou terror com o simples aumento da trilha sonora. Os efeitos especiais atuais também não ajudam e criam cenas que, ao invés de aterrorizantes, são recebidas com risos constrangidos. O filme, aliás, é uma grande comédia de erros involuntária. Nem a cena do baile consegue criar algum clímax e dar algum sentido à produção.

Como tudo que é ruim pode ficar ainda pior, o elenco termina de cagar tudo. Apesar de boas atrizes, Chlöe Grace Moretz e Julianne Moore simplesmente não encontram o tom. A primeira parece extremamente caricata e sua interpretação é digna de protagonista da “Malhação”, passando léguas da atuação icônica de Sissy Spacek. Já Moore perde a chance de se transformar em uma grande vilã e entrega uma atuação apática que em nada lembra a fúria mostrada por Piper Laurie no filme original.

Não sei até que ponto o novo "Carrie, a Estranha" funciona para quem não conhece o original (provavelmente, não funciona também). Mas na comparação, o longa de 2013 vai para o saco de lixo junto com a continuação de 1999 e a versão televisiva de 2002. Fica a lição: leave Carrie alone!

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Cinema: Pílulas


Capitão Phillips - Paul Greengrass não brinca em serviço e é responsável pelos filmes mais tensos dos anos 2000 (os dois melhores exemplares da franquia Bourne, "Voo United 93"). Capitão Phillips segue a fórmula estabelecida pelo próprio diretor, cheio de movimentos de câmara rápidos, cortes secos e uma linguagem que tenta emular a documental para criar tensão e mostrar urgência. O filme narra um episódio verídico envolvendo pirataria contemporânea em alto mar e um Tom Hanks em seu melhor papel em muito tempo. É graças à atuação do ator que o filme ganha um verniz mais emocional e humano e vai além de uma mera produção com toques de ação. O final é de partir o coração e saí do cinema querendo dar um abraço amigo no ator.

À procura do amor – Apesar de usar o ser humano como maior fonte de inspiração para suas histórias, é cada vez mais raro ver no cinema personagens que pareçam reais. As fórmulas e clichês propagados pela sétima arte nem sempre abrem espaço para a credibilidade, e o que vemos são personagens bidimensionais e maniqueístas criados como joguetes para que roteiros funcionem. Essa comédia romântica vai de encontro a essa proposta e deixa que seus personagens, reais e cativantes, prevaleçam e tomem conta da tela. Partindo de uma premissa bem interessante (como a percepção do outro acaba influenciando nossa própria percepção), a diretora Nicole Holofcener deixa que Julia Louis-Dreyfus e James Gandolfini (em seu último papel no cinema) engulam o roteiro e façam os olhos brilharem e o coração da plateia bater mais forte em um filme sensível e honesto.

Um estranho no lago – Há tempos um filme não me incomodava tanto. Levantando uma série de questões que permeiam o universo homossexual, o longa joga na cara do espectador temas como morte e amor próprio. Desnudando física e psicologicamente os personagens, o filme de Alain Guiraudie foca suas lentes nos corpos e atitudes de um grupo de homens que vai pegar sol e caçar sexo nas redondezas de um lago durante o verão. Ousada e forte, a produção é econômica (toda a trama se passa ao redor do lago), não oferece respostas e deixa um gosto amargo na boca do público.