segunda-feira, 11 de abril de 2011

Contracorrente

Até que ponto expectativas podem atrapalhar a apreciação de um filme? Até onde a descrença em algo ou simplesmente a falta de sintonia com determinada ideia podem prejudicar o olhar diante de uma obra cinematográfica? Não faço a menor ideia, claro, mas assistindo ao peruano Contracorrente fiquei com essas perguntas na cabeça.

Primeiro, porque o trailer do filme vende um produto que não está na tela do cinema. Depois porque minha atual descrença com o mundo e as relações humanas me impede de embarcar em histórias de amor, a não ser que elas realmente sejam arrebatadoras. E esse não é o caso de "Contracorrente", um filme que começa bem, opta por seguir uma dispensável trama de realismo fantástico e tenta se reerguer no final diante do dilema do protagonista.

Miguel e Santiago se amam, mas um deles é casado e está prestes a ter um filho. A história já começa com o triângulo amoroso estabelecido e não perde tempo explicando demais a situação que envolve os três personagens principais: um pescador, sua esposa e um fotógrafo e pintor forasteiro. Mas essa escolha acertada do diretor Javier Fuentes-Léon é mínima diante de uma narrativa e dramaturgia pobres e de uma encenação amadora.

O que começa bem ganha rumos inesperados, e o filme perde a chance de abraçar uma série de possibilidades temáticas para se limitar a uma trama de realismo fantástico que constrangeria até Jorge Amado ("Contracorrente, aliás, tem um quê de "Dona Flor e Seus Dois Maridos" que não convence). Diante dessa opção que enfraquece um conjunto já frágil, que apenas encosta em questões sociais e religiosas, "Contracorrente" perde-se em boas intenções e desperdiça a chance de ser um filme mais relevante do que realmente é.



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