Para alguém que sempre se alimentou de cinema hollywoodiano, nada mais natural do que sentir calafrios só com a menção do nome de um cineasta como Abbas Kiarostami, diretor iraniano que fez um monte de coisa que nunca me dei ao trabalho de ver. "O Balão Branco" e "Através das Oliveiras" não são títulos atraentes, convenhamos, e o desapegado do cinema iraniano à narrativa e à dramaturgia com uma cara mais ocidental também nunca ajudou.
Mais eis que, em algum momento, a gente sempre baixa a guarda e, às vezes, tem uma surpresa. Nunca vi nada de Kiarostami, mas a julgar por Cópia Fiel, eu sou mesmo bobo e devia deixar meus preconceitos de lado e abraçar mais o cinema estranho a Hollywood. "Cópia Fiel" é um achado, uma pérola. Simples, mas ao mesmo tempo sublime.
A princípio, o filme emula os dois exercícios verborrágicos de Richard Linklater ("Antes do Amanhecer" e "Antes do Pôr do Sol"), aqui com uma pitada de Woody Allen e seu olhar um tanto pedante sobre a cultura erudita. A cópia vale tanto quanto o original? A pergunta inicial perde peso à medida em que um homem e uma mulher passeiam por belas paisagens no interior da Itália e discutem sobre arte e vida.
Dono de um olhar peculiar, Kiarostami empresta à câmera uma sofisticação, e "Cópia Fiel" passa a usar a palavra de forma elegante e cinematográfica. A edição é fluida, a fotografia naturalista e a dramaturgia recai sob os ombros talentosos da dupla central de atores: William Shimell e uma Juliette Binoche arrebatadora e entregando uma interpretação apaixonada.
Em pleno domínio de sua linguagem, em "Cópia Fiel", Abbas Kiarostami mostra o quanto um filme pode dizer muito com pouco, o quanto a simplicidade pode ser complexa e o quanto o cinema das margens pode ensinar à indústria cinematográfica.
sexta-feira, 15 de abril de 2011
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