segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Apenas uma Noite


Assisti ao drama Apenas uma Noite em uma sessão bastante conturbada na Mostra Internacional de Cinema desse ano. O filme começou sem som e sem legendas. Interromperam tudo para ajeitar o som e achar as legendas, que nunca foram encontradas. O filme volta mesmo sem legendas, mas não do ponto que tinha parado. Nova interrupção para achar o ponto correto. A paciência de qualquer um vai para o espaço, claro. Diante de tantas circunstâncias, é óbvio que a apreciação do filme fica prejudicada.

A miscelânea de sotaques do elenco também não ajuda: Keira Knightley é a típica britânica com voz empostada; Sam Worthington fala para dentro em um ininteligível sotaque australiano; Eva Mendes também meio que fala para dentro; e o francês Guillaume Canet é quem melhor se faz entender. Fica difícil acompanhar tudo sem legenda, mas tento e me saio até que bem. Ainda assim, ou mesmo, talvez, por conta disso, cheguei ao final da sessão querendo dar outra chance ao longa.

E foi o que eu fiz. Coisa cada vez mais rara hoje em dia, revi o filme graças ao deus torrent. E, para minha surpresa, o filme da estreante Massy Tadjedin cresceu, e muito, na minha avaliação. Knightley e Worthington formam um casal lindo, rico e bem sucedido que mora em Nova York.

Depois de uma discussão banal por conta dos ciúmes dela em relação a um suposto desejo dele por uma colega de trabalho (Mendes), os dois se reconciliam e ele viaja a trabalho. Enquanto na Filadélfia, ele tem que lidar com a atração pela colega de trabalho, que não hesita em dar em cima do rapaz; em Nova York, ela reencontra uma antiga paixão (Canet).

Com uma trama com poucos personagens e muitos diálogos, a direção de Tadjedin evita que o filme vire uma produção com limitações teatrais ou mesmo verborrágica demais. Com um olhar elegante, aliada a uma edição competente que transita muito bem entre as relações estabelecidas à distância entre o marido e a esposa, a diretora constrói um belo filme que evita o piegas e as respostas fáceis.

Ainda que, de certa forma, reproduza os clichês do que se espera do comportamento masculino e feminino em relação ao desejo extraconjugal, “Apenas uma Noite” se sobressai como um drama maduro, com certo toque europeu sobre as relações. A fotografia minimalista, a trilha sonora precisa de Clint Mansell (que vai na contramão do que o rapaz fez em produções como “Réquiem para um Sonho” e “Cisne Negro”) e o charme do elenco fazem o resto.

Longe de ser um drama fácil ou mesmo pesado sobre relacionamentos, Apenas uma Noite é um filme melancólico que versa sobre escolhas e como elas muitas vezes afetam, para o bem e para o mal, o outro. É um filme maduro, sem grandes cenas dramáticas, mas cheio de olhares e coisas não ditas.

Para os acostumados à exacerbação do drama, o longa pode parecer frio e metido à intelectual, e talvez até seja graças à suntuosidade da encenação (com direito a lofts espaçosos e conversas sobre viagens a Europa). Mas não dá para negar que Tadjedin e os atores fazem com que tudo soe verdadeiro.

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