É muita incompetência de um diretor juntar um elenco de estrelas, como as presentes em Contágio, em meia a uma trama por si só tensa e, ainda assim, fazer um longa genérico e sem personalidade. Pois Steven Soderbergh conseguiu. Apesar de estar com a faca e o queijo na mão, o cineasta desperdiça a chance de fazer um filme tenso e que fugisse do clichê. Mas não. A única diferença entre "Contágio" ou Epidemia, por exemplo, para citar uma produção de premissa semelhante, é a pretensão. E "Contágio" perde na comparação.
Ainda que o filme de Soderbergh seja melhor produzido e cientificamente embasado do que o de Wolfgang Petersen, o longa protagonizado por Dustin Hoffman e Rene Russo é mais interessante em sua tensão e aposta mais na ação do que no papo furado, ou seja, é mais honesto com o espectador. Já a proposta de "Contágio" nunca chega a concretizar, e o filme se perde enquanto um mosaico sem força de várias histórias que poderiam ser relevantes, mas nunca empolgam.
Algumas decisões, a princípio, parecem acertadas, mas se mostram equivocadas a medida em que a história se desenvolve. A principal delas é a decisão do diretor em estilhaçar a narrativa em muitas tramas que pouco envolvem. O fato do filme começar sem rodeios não ajuda, já que nunca desenvolvemos nenhum tipo de empatia com os personagens.
Nem mesmo o desfile de rostos conhecidos favorece. Kate Winslet, Jude Law, Matt Damon, Laurence Fishburne, Gwyneth Paltrow e Marion Cotillard são meras peças sem um pingo de carisma em um tabuleiro sem ritmo ou importância. Perdido entre o registro humano e o científico, "Contágio" desperdiça talentos e não funciona nem como o retrato da paranoia, um caminho que o longa parece apontar, mas abandona sem assumir um novo rumo.
Filmado com certo esmero, "Contágio" não tem a coragem nem de ser um filme ruim. A produção é caprichada, a fotografia cumpre seu papel e a trilha sonora eletrônica tenta dar tensão a imagens sem nenhuma emoção. Até a montagem segue o mesmo caminho, de certa forma, buscando salvar a produção do limbo, atribuindo certa coerência à colcha de retalho de tramas e personagens. As intenções são boas, o resultado nem tanto.
Alguns podem até tentar resguardar o cineasta da culpa, alegando que a história é batida e já foi contada outras vezes no cinema. Mas hoje, com um repertório de quase 120 anos de cinema, que história ainda não foi? Infeciente enquanto um produto questionador, um filme de ação ou suspense e até mesmo como uma mera produção de entretenimento, "Contágio" entra e sai de cartaz sem dizer a que veio. Soderbergh já fez melhor. E vários outros filmes com temáticas semelhantes também. Típico caso que vale mais a pena ver o trailer do que o longa.
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
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