terça-feira, 24 de julho de 2012

Cinema: Na Estrada

Não li o livro seminal de Jack Kerouac, “Na Estrada”, que serve de base para o mais novo filme do cineasta brasileiro Walter Salles. Então não posso falar nada sobre o livro, a influência que ele exerceu sobre toda uma geração ou mesmo se Salles se sai bem adaptando a obra literária. Mas eu posso falar sobre o filme em si e como o diretor parece não saber muito o que fazer com o material que tem nas mãos.

A princípio, Salles pisa em terreno conhecido, já que o cineasta é chegado em um road movie. De “Terra Estrangeira” a “Diários de Motocicleta”, o cinema de Salles tem um pé na estrada e seus personagens estão sempre em movimento. Mas o problema de Na Estrada é que Salles e seu conservadorismo não parecem entender a essência dos personagens, e o filme resulta frio e pueril.

Estamos falando de jovens que, na virada dos anos 40/50, resolvem sair pelas estradas dos Estados Unidos em busca de sonhos, drogas, música, bebidas e sexo, tudo sem muitas expectativas a não ser "curtir a vida adoidado". Nesse percurso, eles cruzam com tipos que mostram a diversidade de um país.
O que na teoria é transgressor e deveria ser energético, na tela resulta tedioso e distante. Os personagens principais, Sal, Dean e Marylou buscam algum sentido para suas inquietações viajando pelo país sem destino, mas não despertam nenhum tipo de envolvimento no espectador.

Salles representa a rebeldia dos personagens por meio de uma fotografia de cores quentes, de uma câmera tremida e cortes que tentam acompanhar o ritmo frenético do blues. Mas esquece de injetar paixão em uma narrativa deveras estilhaçada que pouco favorece ao desenvolvimento dos personagens e do próprio filme.
A culpa não é de Garrett Hedlund (Dean), o melhor em cena entregando uma interpretação carismática em um longa que carece de carisma. Kristen Stewart (Marylou) também dá conta do recado, mostrando um lado sensual e hipnótico ainda não explorado em sua carreira. Sam Ripley (Sal) talvez seja o elo mais fraco do trio, não dizendo como protagonista.

O trio é cercado por bons atores mal aproveitados em pequenas participações que, aparentemente, afetam o trio de alguma forma: Terrence Howard, Kirsten Dunst (quem se sai melhor até por ter mais tempo na tela), Alice Braga, Viggo Mortensen, Steve Buscemi, Amy Adams.
A produção é caprichada, bonitinha, até excessivamente limpinha se considerarmos que estamos falando de um filme sobre jovens rebeldes em busca de poesia para a vida. Talvez essa seja a grande decepção do longa. A essência dos personagens parece ser uma, o que é mostrado na tela é outra coisa.

No final das contas, os personagens viajam, viajam, viajam, mas não chegam a lugar algum. Se Truman Capote uma vez disse que “Na Estrada”, o livro, não era literatura e sim datilografia, me pergunto o que um Godard diria de “Na Estrada”, o filme. Eu digo que esperava mais, bem mais.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Cinema: Para Roma com Amor

  
Reza a lenda de que mais vale um filme ruim do Woody Allen na mão do que um bom de outro diretor voando. Uma bobagem tão disseminada e preguiçosa como alguns longas do próprio diretor, um dos mais prolíficos cineastas norte-americanos. Entra ano e sai ano, o rapaz lança um filme, então é óbvio que alguns destes sejam mais fracos ou esquecíveis do que outros. Para cada pérola ali, há muita porqueira acolá.

Para Roma com Amor pode não ser tão ruim quanto “Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos” (o último filme todo errado do diretor), mas o diretor quase chega lá. Se escondendo por trás das belas imagens de Roma e na própria fórmula de filme-cartão postal que o diretor estabeleceu em “Vicky Cristina Barcelona” e “Meia-Noite em Paris”, Allen tenta aqui emular Robert Altman com um mosaico que é equivocado em partes e chato no todo.
São três ou quatro histórias que nunca se conectam, mas que repetem tudo o que Allen já fez. Para alguns, isso pode ser o suprassumo do genial e “olha como ele é bom”. Mas para mim é entediante. Ainda mais porque, aqui, vemos o diretor interpretando a si mesmo pela milionésima vez. Quando o filme é bom, a gente releva. Em “Para Roma com Amor”, é mais um defeito da produção.

Entre uma história e outra, temos direito a muitos clichês sobre Roma e o povo italiano, Penélope Cruz e Judy Davis se repetindo, uma crítica óbvia e pobre sobre a mídia esticada à exaustão, Ellen Page pagando (sem convencer) de garotinha sexy, muito blablablá sobre arte e psicanálise e algumas piadas realmente interessantes para tentar salvar o todo (a do tenor que só canta bem debaixo do chuveiro parece ser a mais acertada, ainda que exagerada). Tudo em vão, claro. Além de deveras longo, “Para Roma com Amor” se torna ainda mais irritante graças à patrulha “Não falem mal de Woody Allen”. Sono.
Uma das coisas que mais me incomodou durante a projeção é que as três ou quatro histórias se passam em tempos cronológicos diferentes. Claro que eu entendo que a continuidade temporal não é uma obrigatoriedade, mas eu fiquei com a impressão de que o editor não tava muito empolgado e resolveu “inovar”. Passei a sessão do filme inteira com vontade de mandar parar a projeção para devolverem a “obra” para sala de montagem.  Mas enfim, é Woody Allen, né, então ele pode. E essa “falha” está longe de ser a única de “Para Roma com Amor”.

Na linha "viagens pela Europa", "Match Point" continua imbatível, seguido por "Vicky Cristina Barcelona", "Meia-Noite em Paris" e o resto. Que venha então o próximo país da rota turística do diretor. Só espero que desta vez ele esteja mais inspirado. "Para Roma com Amor" é para aqueles que se contentam com pouco.