Não li o livro seminal de Jack
Kerouac, “Na Estrada”, que serve de base para o mais novo filme do cineasta
brasileiro Walter Salles. Então não posso falar nada sobre o livro, a
influência que ele exerceu sobre toda uma geração ou mesmo se Salles se sai bem
adaptando a obra literária. Mas eu posso falar sobre o filme em si e como o
diretor parece não saber muito o que fazer com o material que tem nas mãos.
A princípio, Salles pisa em
terreno conhecido, já que o cineasta é chegado em um road movie. De “Terra
Estrangeira” a “Diários de Motocicleta”, o cinema de Salles tem um pé na
estrada e seus personagens estão sempre em movimento. Mas o problema de Na Estrada é que Salles e seu conservadorismo não parecem entender a essência dos
personagens, e o filme resulta frio e pueril.
Estamos falando de jovens que, na
virada dos anos 40/50, resolvem sair pelas estradas dos Estados Unidos em busca
de sonhos, drogas, música, bebidas e sexo, tudo sem muitas
expectativas a não ser "curtir a vida adoidado". Nesse percurso, eles cruzam com tipos que mostram a
diversidade de um país.
O que na teoria é transgressor e
deveria ser energético, na tela resulta tedioso e distante. Os personagens
principais, Sal, Dean e Marylou buscam algum sentido para suas inquietações
viajando pelo país sem destino, mas não despertam nenhum tipo de envolvimento
no espectador.
Salles representa a rebeldia dos
personagens por meio de uma fotografia de cores quentes, de uma câmera tremida
e cortes que tentam acompanhar o ritmo frenético do blues. Mas esquece de
injetar paixão em uma narrativa deveras estilhaçada que pouco favorece ao
desenvolvimento dos personagens e do próprio filme.
A culpa não é de Garrett Hedlund
(Dean), o melhor em cena entregando uma interpretação carismática em um longa
que carece de carisma. Kristen Stewart (Marylou) também dá conta do recado,
mostrando um lado sensual e hipnótico ainda não explorado em sua carreira. Sam
Ripley (Sal) talvez seja o elo mais fraco do trio, não dizendo como protagonista.
O trio é cercado por bons atores
mal aproveitados em pequenas participações que, aparentemente, afetam o trio de
alguma forma: Terrence Howard, Kirsten Dunst (quem se sai melhor até por ter
mais tempo na tela), Alice Braga, Viggo Mortensen, Steve Buscemi, Amy Adams.
A produção é caprichada,
bonitinha, até excessivamente limpinha se considerarmos que estamos falando de
um filme sobre jovens rebeldes em busca de poesia para a vida. Talvez essa seja
a grande decepção do longa. A essência dos personagens parece ser uma, o que é mostrado
na tela é outra coisa.
No final das contas, os personagens
viajam, viajam, viajam, mas não chegam a lugar algum. Se Truman Capote uma vez
disse que “Na Estrada”, o livro, não era literatura e sim datilografia, me
pergunto o que um Godard diria de “Na Estrada”, o filme. Eu digo que esperava
mais, bem mais.
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