Ted é um belo cartão de visitas
para Seth MacFarlane. Advindo da televisão, o rapaz estreia como diretor no
cinema com um filme que apela na medida certa para o humor inteligente e o romance água com
açúcar. De quebra, ainda traz referências e mais referências à cultura pop e
uma trama que pode até não fugir do esquema hollywoodiano de final feliz, mas
adota o convencional sem deixar de piscar o olho para o público.
Assim olhando de longe, “Ted” se
enquadra muito bem na categoria das típicas comédias hollywoodianas sempre
prontas a deixar uma lição de moral em meio a um cineminha quadrado e
redondinho. “Ted” até cumpre esse papel, chegando ao final com tudo no lugar,
reforçando a importância da amizade e mostrando que o amor, realmente, supera
tudo. Mas é entre o começo que remete a um conto de fadas e o final bem
caretinha que “Ted” conquista, seja pelo humor ligeiro, seja pelas citações ou mesmo
a autoconsciência do roteiro.
Para melhorar ainda mais o
negócio, MacFarlane não se contenta em deixar tudo a cargo do texto e dos
atores e dirige com certa competência, apostando em recursos visuais bem pouco
comuns a comédias despretensiosas. A edição é acelerada, as brincadeiras
visuais com a série Flash Gordon são um delírio, e até uma cena de luta bem
realista e violenta quebra a aparente convencionalidade estética do filme.
O resultado é uma produção que
foge do politicamente correto sem ser agressiva ou gratuita e abraça a premissa
surreal sem muitos questionamentos. John Bennett tem, sim, seu melhor amigo em
um urso de pelúcia falante, e o filme e o mundo aceitam isso muito bem. Só ajuda o fato de Mark Wahlberg ter a cara
de pastel perfeita para interpretar o trintão com complexo de Peter Pan que tem
como grande guia espiritual seu urso de pelúcia irresponsável e que vive
chapado. Mila Kunis interpreta muito bem a garota ideal. E Seth MacFarlane
acerta no tom debochado de Ted.
Entre uma bobagem aqui e outra
acolá (Giovani Ribisi como o maluco obcecado por Ted ou mesmo a subtrama do
chefe de Kunis dando em cima dela são bem dispensáveis), a produção evita que distrações ou clichês desviem a atenção do que realmente importa: cenas
hilárias e humor debochado e sem vergonha. O longa dá lá uma caída no final para
amarrar as pontas soltas e deixar claro a boa e velha lição moral, mas até
chegar lá o público já foi conquistado e está pronto para sair do cinema e
correr para a primeira loja de brinquedo comprar um Ted para chamar de seu. Eu
quero o meu.