Procura-se um amigo para o fim do mundo parte não só de uma, mas de duas premissas bem pouco prováveis. A de que
é possível fazer um filme ora cômico, ora romântico tendo como pano de fundo o
fim do mundo e um cenário apocalíptico. E de que Steve Carell e Keira Knightley
podem formar um belo casal. Aparentemente, um desastre anunciado, o longa
consegue se sair bem em ambos os caminhos tortuosos que escolheu.
Quando a produção de Lorene Scafaria
começa, descobrimos que a última tentativa de se evitar o choque entre um asteroide
e a Terra fracassou, e o planeta está com os dias contatos. A partir dessa
primeira cena, acompanhamos todas as típicas situações características do
gênero apocalíptico embaladas em outra roupagem. As rebeliões populares,
as notícias veiculadas via rádio ou televisão e a mudança de comportamento
entre as pessoas deixam de lado o registro trágico e apostam em uma chave de
comicidade e/ou melancolia.
Parte do charme do filme está na direção
e no texto de Scafaria, que adota um tom quase de reverência aos personagens e
às situações meio estapafúrdias criadas. Responsável pelo roteiro do indie Uma Noite de Amor e Música, Scafaria usa o humor e várias citações pop,
principalmente a música, para cercar o longa de leveza, ainda que o cenário de
fim de mundo não seja promissor.
É a delicadeza da roteirista e estreante
na direção para caracterizar os personagens (Knightley, por exemplo, nunca
abandona seus vinis) e conduzir cenas que poderia resultar violentas e/ou chocantes
que transforma “Procura-se um amigo para o fim do mundo” em um filme quase ingênuo
e muito esperançoso.
Entre personagens que assumem uma
postura depressiva, choram ou mesmo se matam, quem ganha mais destaque são as pessoas
que veem no fim que se aproxima uma chance de recomeçar ou pelo menos testar
outros caminhos antes do final (discursos sobre as novas possibilidades do sexo
ou jantares que terminam regados à heroína ganham ares quase utópicos e divertidos).
Junte-se a isso uma química
perfeita entre Carell e Knightley e, bingo, temos uma produção despretensiosa
que vai ganhando camadas e conquistando a cada nova cena. Ele repete muito bem
o tipo que está acostumado a interpretar: um cara meio infeliz e solitário que
sempre é colocado em situações meio embaraçosas. Ela deixa de lado as
personagens sofredoras e se reveza entre a menina maluquete e meio perdida que
conquista com o sorriso torto e as atitudes poucos convencionais. Os dois
juntos formam um belo e improvável casal que descobre o romance em meio ao
caos.
Ainda que o filme faça concessões,
seja na facilidade como determinadas circunstâncias são contornadas, seja no
inevitável pieguismo de algumas situações, ou mesmo nas redenções necessárias
para se chegar ao desfecho, “Procura-se um amigo para o fim do mundo” cumpre bem
mais do que inicialmente promete.
Esqueça a depressão e os tons cinzas
de Melancolia, em “Procura-se um amigo... ”, o fim do mundo é bem mais colorido
e divertido, sem deixar de lado um pouco de tristeza e algumas lágrimas nos
olhos.
Muito cortês e muito educado o texto. Essa redenção é o aspecto mais bonito do filme inclusive pelo esforço que fazem para obtê-la. obrigado pelo Texto.
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