Oz, Mágico e Poderoso é tipo
uma produção prima-irmã do horroroso “Alice no País das Maravilhas”. Mas apesar
de ser bem irregular e estar longe de parecer um filme do Sam Raimi (“A Morte
do Demônio” e “O Homem-Aranha”), o longa não chega a ser tão ruim quanto à
produção dirigida por Tim Burton. Apostando forte nas cores, figurinos e
cenários que chamam mais atenção do que as interpretações e a própria história
em si, Raimi cria uma obra visual bela de se ver, mas vazia de sentido ou de
identidade.
O ritmo é arrastado, e a proposta
do filme é bem pouco convincente. Os personagens são ocos e esquemáticos. E as
soluções visuais, pouco criativas. As interpretações seguem caminho semelhante.
Rachel Weisz e James Franco entendem o conceito meio farsesco do longa e
embarcam na brincadeira. Michelle Williams se esforça, mas não convence. Já
Mila Kunis é quem está pior na tela e quase estraga tudo (a maquiagem da atriz
na segunda metade é infeliz e também não ajuda).
Apesar de fraquinho, Oz, Mágico
e Poderoso ganha certa força e ritmo no ato final, quando presta uma homenagem
ao primeiro cinema e resgata um pouco da emoção de O Mágico de Oz original.
Mas é muito pouco para salvar um filme que está mais preocupado em ser um
produto e abraçar sem reservas a linha lição moral Disney de ser do que ser
cinema, ainda que de entretenimento.
Já Anna Karerina é muito mais feliz na sua
opção de ser “um filme para os olhos”. Novo trabalho do competente Joe Wrigh (“Orgulho
e Preconceito” e “Desejo e Reparação”), a adaptação da obra de Leo Tolstoy é
suntuosa o suficiente para encantar os admiradores de produções de época com
figurinos cheio de babados, plumas e paetês e uma direção de arte elaborada.
Partindo do pressuposto que todo
filme de época não deixa de ter certa encenação teatral, principalmente no que
diz respeito ao comportamento conservador dos personagens, sempre atuando
frente à sociedade para parecerem mais civilizados do que realmente são, Wrigh
opta por deixar isso o mais escancarado possível por meio de escolhas estéticas
e narrativas. Grande parte do longa é encenado dentro de um teatro, a direção
de arte aproveitando todos os espaços possíveis para contar a história de Anna
Karenina, que se apaixona, trai o marido (Jude Law) e escandaliza a
sociedade russa no final do século 19.
A direção de Wrigh dá dinamismo
ao filme e deslumbra o espectador em sua primeira metade. Em alguns momentos, o
longa nos faz lembrar da estrutura de “Arca Russa”, de Aleksandr Sokurov, que
usa os espaços de um museu para contar, aparentemente sem cortes, a história da
Rússia. Claro que a produção de Wrigh não chega a ser tão radical, mas a
utilização cênica do teatro, aliada à edição que transforma algumas cenas em um
balé sem cortes, remete ao trabalho marcado de Sokurov.
Passada essa primeira metade, Anna
Karenina vai se esvaziando. O encantamento inicial vai deixando de fazer
efeito, e a beleza do longa deixa de ser narrativamente justificada para ser
apenas mero arrojo estético. A fotografia é um desbunde, os figurinos são
belíssimos, a direção de arte é ousada e usada a favor da narrativa, mas falta
algo. Algo que não pode ser emulado por cores, vestidos ou cenários. Falta
emoção.
Parte do problema é que a
personagem central não desperta nenhum tipo de empatia do público. Keira
Knightley é boa atriz, se esforça e fotografa muito bem em vestidos e cenários de época, mas parece deslocada. A química e a paixão
entre ela e Aaron Taylor-Johnson nunca decola e falta peso ao drama vivido pelo
trio central (nos dias cínicos de hoje, paixões que surgem apenas com um olhar
parecem cada vez mais falsas, ainda que ambientadas em figurinos do passado).
Nunca fica claro se essa é mesmo
a proposta do diretor, mais preocupado em inovar narrativamente, ou se é uma
questão de miscasting. A partir dessa “falha”, o filme fica muito mais
interessante quando foca na trama dos personagens coadjuvantes. Ainda assim, “Anna
Karenina” é um longa que merece ser visto na tela grande e é muito mais
interessante e ousado que mais da metade dos filmes indicados ao Oscar deste
ano. E em termos técnicos e de beleza, supera e muito o 3D e as cores berrantes
e genéricas de “Oz, Mágico e Poderoso”.
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