Antes de qualquer coisa, já aviso
que não li o livro do tio Fitzgerald, muito menos vi nenhuma das outras versões
da obra para o cinema e televisão. Então esse texto é único e exclusivamente
sobre o filme de Baz Lurhmann enquanto obra cinematográfica e não adaptação ou
produto de comparação. Dito isso, começo: O Grande Gatsby
é uma decepção, aquele típico filme hollywoodiano hiper produzido, mas que não diz muita
coisa e não chega a lugar nenhum. Não é ruim, mas também está longe de ser bom.
Baz Lurhmann pode não ser uma
unanimidade, mas seus filmes sempre foram filmados com paixão e exalando certo
barroquismo em suas cores exageradas, cortes hiperbólicos e músicas
anacrônicas. Nesse sentido estético, “O Grande Gatsby” não difere muito da obra
do cineasta. Mas aí a coisa pega. Do cafona e ingênuo “Vem Dançar Comigo” ao
modernismo calculado de “Romeu + Julieta”, do acerto videoclíptico de “Moulin
Rouge” ao erro épico e melodramático de “Austrália”, Lurhmann sempre entregou
trabalhos que exigiam do público e caíam na dicotomia “ame ou odeie”. Mas, em “O
Grande Gatsby”, o cineasta fica em cima do muro e entrega seu trabalho mais
insosso.
Sim, o diretor usa seu apuro
visual exagerado e compõe belas imagens: a fotografia deixa tudo brilhando como
se os criados da mansão de Gatsby estivessem acabado de passar o melhor dos
pinhos Sol nos cenários; os figurinos são elaborados e exuberantes; e a direção
de arte grita luxo e riqueza. Mas isso já é quase dado em se tratando de um
diretor que construiu a fama em cima da grandeza requintada de suas produções.
Mas aqui o diretor usa todo seu arsenal apenas para causar encantamento, e não
a favor da história. A grandiosidade de “O Grande Gatsby” é muito mais uma
estratégia de marketing do que propriamente uma qualidade do filme.
Para início de conversa, Luhrmann
praticamente repete a estrutura de “Moulin Rouge”, colocando um dos personagens
para narrar a história em flashblack. O recurso pode ser fiel ao livro e até
funcionar na literatura, mas no cinema resulta de uma preguiça sem tamanho
(ainda mais quando o diretor entrega o papel do narrador a um Tobey Maguire
cada vez mais sem graça). A literalidade também é ressaltada pelo diretor por
meio de palavras e mais palavras que saltam na tela, dando um ar redundante um
tanto quanto dispensável ao longa. É como se ele não confiasse nas imagens
criadas por ele e quisesse dar credibilidade a elas por meio da palavra.
Como se não bastasse essa
insegurança do velho Baz em relação ao próprio trabalho, o diretor praticamente
mimetiza a câmera frenética de “Moulin Rouge” para dar agilidade e transmitir
euforia às festas que o protagonista oferece em sua mansão. Sai os cabarés de
Paris, entra a agitação de Nova York. Funciona como distração e até para
atribuir ritmo a um filme longo demais e que carece de energia. Mas parece mais
uma tentativa de salvar o longa na edição do que um recurso narrativo válido
para impulsionar a trama e mostrar as motivações dos personagens.
A sorte do cineasta é que ele
conta com um elenco competente para despertar um envolvimento no público que as
imagens em um dispensável 3D, as músicas pop reviradas em arranjos dos anos 1920 (usadas de forma
até discretas) e o próprio olhar de Lurhmann não conseguem. Entre uma rara cena
emocionante aqui (a visita de Daisy à mansão é a única realmente que me vem à memória), panorâmicas em câmera lenta e uma festa cheia de fogos de
artifício ali, é o carisma de Leonardo DiCaprio, a ingenuidade idealizada e
blasé de Carey Mulligan e a fúria esnobe de Joel Edgerton que impedem que “O
Grande Gatsby” seja um trabalho vazio e frio. Um grande pastel de vento aparentemente delicioso por fora, mas carente de sabor por dentro.
O resultado é um filme lindamente filmado que
versa sobre paixão e tragédia, mas que não desperta paixão nenhuma. Há algo de
errado no reino de Baz.
quinta-feira, 13 de junho de 2013
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