A merda começou a subir na cabeça da artista, e sua música foi perdendo espaço para ela própria. Gaga caiu no erro (levando todos seus fãs juntos) de achar que era relevante demais, importante demais, superior demais, deixando de lado a irreverência gostosa e moleca do álbum de estreia para apostar em declarações polêmicas, performances exageradas e indumentária de gosto duvidoso. O resultado foi o lastimável Born This Way, um disco inchado e pretensioso que só causa bocejos e deixou claro que a artista está, às vezes, muito mais interessada no marketing que a cerca do que propriamente na música que faz.
Se ela aprendeu algo com o fracasso artístico de Born This Way (sim, o álbum pode ter vendido os tubos e ter ganhado todos esses prêmios comprados da indústria fonográfica, mas é um fracasso se comparado à repercussão positiva do primeiro), difícil dizer. Ela ainda fala um monte de merdas nada a ver, se veste de forma errada (Róisín Murphy, pra citar só uma, também exagera na indumentária, mas com muita mais propriedade do que Gaga) e faz performances gratuitas sem muita consistência (performance no espaço, really, Gaga?!), mas, pelo menos, Artpop mostra um pouco da diversão de outrora.
O terceiro e meio álbum (contando o The Fame Monster) da cantora/artista/performer/atriz é bem superior ao anterior e mostra um lampejo do que Gaga poderia ser se deixasse de lado a polêmica pela polêmica e se focasse mais em ser uma simples cantora pop. Não que Artpop seja perfeito. Longe disso. Em tempos de Kanye West e Justin Timberlake, é vergonhoso que uma artista do calibre de Gaga lance um álbum tão mal produzido e cheio de batidas genéricas dos infernos dignas de boate gay ruim. Artpop não tem um pingo de sofisticação, é bruto e mal acabado, quase amador.
Mas quem se importa? Não os fãs da cantora que louvam qualquer bobagem que ela fala ou faz. Mas ainda diante dessa produção pobre, o álbum tem seu lado divertido. Esqueça a batida drag queen do péssimo primeiro single (“Applause”) ou de “Swine” e concentre-se no que o álbum tem de bom: “Artpop” é a melhor, de longe a que mostra todo o potencial que a cantora costuma desperdiçar fingindo ser original; “Donatella” é ótima e cheia de frases perfeitas para se jogar na pista depois de um shot de tequila (“I am so fab/ Check out / I’m blonde/ I’m skinny/ I’m rich/ And I’m a little bit of a bitch”); “Dope” é aquela baladinha que não pode faltar em álbum de diva, mas é bem honesta, não se pode negar; “Fashion” e “G.U.Y" são faixas pop gostosinhas inofensivas; “Mary Jane Holland” é uma surpresa, cheia de personalidade).
Gaga tenta ser Christina Aguilera aqui (os gritos de "Do What U Want" são um tanto constrangedores), soa como uma cantora pop qualquer dos anos 1990 ali ("Manicure", "Gypsy"), mas o saldo é positivo, menos pretensioso e mais espontâneo. No frigir dos ovos, Artpop não apresenta nada de novo. O álbum não vai mudar a música pop muito menos o mundo (nem precisa, apesar da própria Gaga sempre insistir que quer deixar sua marca), mas é um trabalho que mostra uma artista a disposta a se divertir mais com seus erros. Fazendo a comparação com Born This Way, é quase uma evolução.
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