quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Entre Segredos e Mentiras

Alguns filmes têm tudo para acontecer, mas, por alguma razão nem sempre expicável, não acontecem. Entre Segredos e Mentiras é um desses filmes. O elenco é interessante, bonito, carismástico e talentoso. O diretor tem pelo menos um grande filme na bagagem (o documentário Na Captura dos Friedman). E a trama é envolvente e ainda tem o plus de ser baseada em uma história verídica. Há elementos dramáticos, de romance, suspense e tensão. Mas o que no papel e no trailer parecem interessantes, resultam sem graça na tela grande.

Grande parte da culpa é mesmo do diretor Andrew Jarecki´s, aqui estreando em longa de ficção. Elogiado documentarista, o cineasta não demonstra a mesma desenvoltura na ficção, ainda que a história seja inspirada em eventos reais. O primeiro pecado do diretor é não saber misturar os elementos que tem em mãos, transformando seu filme em uma obra esquizofrênica que vai mudando de tom a medida que se desenvolve. O romance ensolarado do início dá lugar a um drama psicológico sobre a relação doentia entre um jovem casal, culminando em um climax sem graça sobre uma investigação com cara de filme de tribunal feito para a televisão.

O fato do diretor nem mesmo tentar esconder seu ponto de vista sobre a trama também pesa contra o filme. Da construção do personagem de Ryan Gosling como um sociopata prestes a virar um psicopata passando pelos flashbacks e uma suposição sobre os rumos do crime que pontuam o longa durante toda sua duração, Jarecki´s não deixa o menor espaço para a imaginação da plateia, transformando uma trama complexa e rica em um filme simplório e moralmente chapado.

Ryan Gosling até tenta dar estofo ao seu personagem, mas a má construção do filhinho de papai, traumatizado por ter presenciado o suicídio da mãe e que de namoradinho carinhoso se transforma em um marido violento, não ajuda. A péssima caracterização do mesmo no terceiro ato do filme só piora tudo e deixa Entre Segredos e Mentiras com cara de arremedo de Psicose. A presença deslocada de Frank Langella, um ator interessante aqui repetindo trejeitos, não ajuda. A salvação da lavoura é Kirsten Dunst, atriz geralmente pouco reconhecida que entrega uma interpretação carismática que funciona como a alma de um filme frio e calculista como, aparentemente, seu personagem principal.

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