segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Cinema: Três filmes, três atrizes

Em algum momento da história do cinema, Hollywood percebeu que, muitas vezes, o público ia ao cinema em busca de seus astros favoritos. Mais do que a trama, o diretor ou as qualidades artísticas, técnicas ou estéticas de um filme, o povo queria mesmo era ver o rostinho bonito do ator ou atriz favorito (a).

O tempo passou e muita coisa mudou. Hoje os astros ainda importam, mas em tempos de franquias, remakes, sequências, efeitos especiais e barulho, nem sempre o público está interessado nos atores. Pouco importa o nome por trás das armas e do terno de James Bond, da varinha de Harry Potter ou da máscara do Batman. O público vai aonde o marketing o levar. Na engrenagem hollywoodiana, rostos conhecidos ainda contam, mas não mais como antes.

Mesmo assim, um determinado tipo de filme ainda se apoia basicamente na força de seus astros e estrelas. Geralmente, são filmes que funcionam como um veículo para determinado nome brilhar e mostrar beleza, carisma e/ou talento. Em alguns casos, essas produções valem a pena e vão além de um mero trampolim para o ator. Em outros, esses longas só sobrevivem e se destacam graças ao nome de um astro envolvido.

Esse final de semana, graças a uma bela febre, assisti a três desses filmes que se ancoram no nome de alguém para sobreviver na multidão audiovisual. Um deles é bom, mas passou batido pelo grande público, mesmo tendo uma interpretação brilhante da atriz principal. As outras duas produções são um lixo e só ganharam destaque porque as atrizes foram indicadas ao Oscar.

JuliaTilda Swinton é a melhor atriz da atualidade. Basta ver filmes como “I am Love”, “Precisamos Falar sobre Kevin” e esse Julia para ter certeza disso. Sem muitos pudores, a atriz se despe de vaidades e escolhe a dedos seus papéis, sempre entregando uma interpretação comovente. Em “Julia”, a atriz faz uma mulher alcoólatra e sem rumo na vida que, em um ato desesperado, sequestra um garoto para conseguir algum dinheiro. O filme não foge muito do convencional e, depois de apresentar a personagem e estabelecer a trama, foca suas lentes na relação que se constrói entre Julia e a criança. O diretor Erick Zonca parece apaixonado demais por Julia/Tilda e alonga o filme ao máximo, mas ainda assim consegue estabelecer tensão e suspense, mesmo entregando o típico desfecho hollywoodiano de redenção. Pouco importa: o show é mesmo de Tilda Swinton, ora perdida e covarde, ora visceral e corajosa, mas sempre marcante.

A Dama de Ferro – A única razão de esse filme existir é a de dar mais uma indicação ao Oscar para Meryl Streep, uma atriz fantástica que se mete cada vez mais em roubadas para demonstrar sua fama de versátil. Aqui ela interpreta a líder política inglesa Margaret Tatcher e consegue mais uma vez os holofotes para si (ganhou vários prêmios, inclusive o tão sonhado terceiro Oscar, pela pesada caracterização que entrega ao público). O filme em si é lamentável. Cinematograficamente é uma nulidade, mais parecendo uma produção feita para TV, da época em que isso não era elogio. Narrado em forma de flashback, o longa é fragmentado demais e passa longe de ser um trabalho revelador e esclarecedor sobre a figura da Primeira-Ministra. Fugindo das polêmicas, A Dama de Ferro fica em cima do muro e transforma uma das personagens mais controversas do século XX em uma vovozinha senil. É vergonhoso. E a interpretação de Streep é apenas correta, extremamente técnica e nada, nada emocional.  

Albert NobbsGlenn Close não é mais uma estrela que atrai público aos cinemas há um bom tempo. Mas como esse filme é um projeto pessoal da atriz que levou anos para chegar às telas, o longa chamou certa atenção, e a atriz levou uma indicação ao Oscar para casa. Dirigido de forma apática e convencional por Rodrigo Garcia, diretor qualquer nota de filmes-mosaico como “Coisas que Eu Poderia Dizer Só de Olhar para Ela” e “Destinos Ligados”, Albert Nobbs é uma dessas típicas produções de época que muito promete e pouco entrega. O filme é tão sem graça quanto seu/sua protagonista é sem carisma. Glenn Close acerta na postura, olhar e entonação do garçom que na verdade é uma mulher (o trabalho corporal da atriz fica mais evidente na cena em que ela se veste como mulher e vai caminhar desengonçada na praia), mas erra ao transformar o personagem em uma pessoa chata e sem emoção. O trabalho preguiçoso de Garcia segue o mesmo caminho, e o filme naufraga ao não causar nenhum tipo impacto.

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