A princípio, Um Divã para Dois não é nada
promissor. Quem se empolga hoje em dia com mais uma “dramédia” cujo diferencial
é discorrer sobre o sexo na terceira idade? Certamente não eu! Mas como o filme
tem a Meryl Streep e o Tommy Lee Jones, a gente dá uma chance. Em vão, porque “Um
Divã para Dois” não tem nada demais e realmente não é promissor. É apenas mais
uma “dramédia” convencional na multidão. Se não fosse pela honestidade e
coragem dos dois atores, o filme seria um erro, na verdade.
Dirigido da forma mais
convencional possível por David Frankel (que se saiu bem melhor em “O Diabo
Veste Prada”), o longa traz uma estrutura narrativa repetitiva e bem genérica,
daquelas cheias de montagem com músicas esquecíveis para acelerar a trama e dar
a impressão de que algo está acontecendo. É quadrado até dizer chega, deixando
bem claro que o cinema hollywoodiano também sabe fazer filmes com estrutura
televisiva para a tela grande (então parem de reclamar somente do padrão Globo
Filmes!): fotografia e edição qualquer coisa, closes e mais closes dos atores,
ideologia de botequim e senso comum etc.
Deixando de lado questões
cinematográficas, o filme é leve, bobinho, até bonitinho, mas extremamente
careta e machista. Meryl Streep e Tommy Lee Jones formam um casal que tem um
casamento duradouro, mas que está no estaleiro. Os dois perderam o interesse
pelo sexo e um pelo outro. Isso fica claro logo na primeira cena para, logo em
seguida, vermos o descontentamento da mulher estampado em seu rosto (clichê número 1: a mulher é
sempre a descontente que resolve mudar a situação e salvar a relação). Daí para
a terapia de casal em um balneário são só mais algumas cenas.
Estabelecido o conflito,
os problemas do casal viram o foco do longa. Eles não trepam há anos, e o filme vira uma
longa DR disfarçada de sessão de terapia para descobrirmos as razões disso
(clichê número 2: o casamento deles é um fracasso, eles não conversam e não
possuem nada em comum, mas tudo é simplificado pelo fato deles não mais
transarem).
Muito blá-blá-blá depois, entre
cenas de drama com baladas sem graça ao fundo e situações engraçadas dos
exercícios de aproximação dos dois (a tentativa de blowjob no cinema é
realmente impagável), o casal resolve suas diferentes ao som de “Why”, da Annie
Lennox, da forma mais fácil, clichê e piegas imaginável, com direito a todo o
elenco dançando na praia, feliz e saltitante no final. Mais previsível
impossível. Mas vale pelos atores, que emprestam certa dignidade a papéis bem
corriqueiros e simplistas.
Curiosidade: Hollywood sabe
maltratar seus atores. Em 1996, Meryl Streep e Elisabeth Shue concorreram ao
Oscar de melhor atriz por suas interpretações em “As Pontes de Madison” e
“Despedida em Las Legas”, respectivamente. Agora, quase 20 anos depois, a linda
e talentosa Shue vira coadjuvante de quinta em apenas uma cena, totalmente
descartável, de “Um Divã para Dois”. A atriz merecia melhor sorte.
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