sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Cinema: 360

O maior problema de 360 é o filme ser dirigido por Fernando Meirelles. Como não esperar mais de alguém que esteve à frente de produções como “Cidade de Deus”, “O Jardineiro Fiel” e mesmo a controversa adaptação de “Ensaio sobre a Cegueira”? Em “360”, ao contrário dos trabalhos anteriores do cineasta, Meirelles entrega um filme correto e sem impacto nenhum.

Seguindo a fórmula dos filmes mosaicos com tramas internacionais que eventualmente se interligam, o longa parte da premissa de que nossas decisões não afetam apenas nossas vidas, mas a das pessoas que nos cercam. A lógica é a mesma dos trabalhos do mexicano Alejandro González Iñárritu, mas sem a mesma carga emocional ou trágica que os longas deste carregam.

Por meio de uma narrativa estraçalhada, que vai e volta em diversas tramas, “360” se perde entre histórias que nada dizem. A premissa então afunda à medida que a produção não se conecta com o público. Temos o casal em crise no casamento, a brasileira cansada de ser traída pelo namorado fotógrafo, a prostituta que quer se dar bem na vida, um condenado lidando com a liberdade, o dentista e sua paixão platônica pela funcionária, o pai em busca da filha. E por aí vai. Como é comum nesse tipo de fórmula, algumas tramas se sobressaem frente a outras. Mas a falha não está aí, e sim na condução burocrática de Meireles, que não disfarça o esquematismo do roteiro.

A edição fluída e a fotografia esmerada, típica dos trabalhos de Meirelles, não conseguem esconder a narrativa frouxa e mesmo a frieza com que os personagens são tratados. Na verdade, mal podemos considerá-los personagens. O tratamento dado a eles é distante, e os atores (um belo elenco com Jude Law, Rachel Weisz, Anthony Hopkins, Ben Foster, Maria Flor, Juliano Cazarré etc) estão corretos, mas não passam da superfície.

Nesse ponto, Alejandro González Iñárritu consegue ser mais feliz ao apostar em uma chave mais melodramática e que pede um posicionamento do espectador. Ou ama-se ou odeia-se seus filmes. Em “360”, Meirelles prefere uma abordagem mais covarde e fica em cima do muro. O resultado é um filme que começa e termina sem dizer a que veio.

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