O maior problema de 360 é o
filme ser dirigido por Fernando Meirelles. Como não esperar mais de alguém que
esteve à frente de produções como “Cidade de Deus”, “O Jardineiro Fiel” e mesmo
a controversa adaptação de “Ensaio sobre a Cegueira”? Em “360”, ao contrário
dos trabalhos anteriores do cineasta, Meirelles entrega um filme correto e sem
impacto nenhum.
Seguindo a fórmula dos filmes
mosaicos com tramas internacionais que eventualmente se interligam, o longa
parte da premissa de que nossas decisões não afetam apenas nossas vidas, mas a
das pessoas que nos cercam. A lógica é a mesma dos trabalhos do mexicano Alejandro
González Iñárritu, mas sem a mesma carga emocional ou trágica que os longas
deste carregam.
Por meio de uma narrativa
estraçalhada, que vai e volta em diversas tramas, “360” se perde entre
histórias que nada dizem. A premissa então afunda à medida que a produção não
se conecta com o público. Temos o casal em crise no casamento, a brasileira
cansada de ser traída pelo namorado fotógrafo, a prostituta que quer se dar bem
na vida, um condenado lidando com a liberdade, o dentista e sua paixão
platônica pela funcionária, o pai em busca da filha. E por aí vai. Como é comum
nesse tipo de fórmula, algumas tramas se sobressaem frente a outras. Mas a
falha não está aí, e sim na condução burocrática de Meireles, que não disfarça
o esquematismo do roteiro.
A edição fluída e a fotografia
esmerada, típica dos trabalhos de Meirelles, não conseguem esconder a narrativa
frouxa e mesmo a frieza com que os personagens são tratados. Na verdade, mal
podemos considerá-los personagens. O tratamento dado a eles é distante, e os
atores (um belo elenco com Jude Law, Rachel Weisz, Anthony Hopkins, Ben Foster,
Maria Flor, Juliano Cazarré etc) estão corretos, mas não passam da superfície.
Nesse ponto, Alejandro González
Iñárritu consegue ser mais feliz ao apostar em uma chave mais melodramática e
que pede um posicionamento do espectador. Ou ama-se ou odeia-se seus filmes. Em
“360”, Meirelles prefere uma abordagem mais covarde e fica em cima do muro. O
resultado é um filme que começa e termina sem dizer a que veio.
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
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