Esse ano, depois de um bom par de anos sem conseguir ver todos os indicados a Melhor Filme nos cinemas antes da cerimônia (o último ano que consegui a proeza foi em 2011), estou em dia pelos menos com as categorias principais (filme, direção, todas as de atuação e roteiro, edição, fotografia, direção de arte). Eis então a lista dos indicados a Melhor Filme em minha ordem de preferência:
Ela – Pode não entrar para a História do Cinema, mas é o filme mais emocional da lista, o que mais me tocou e me marcou. De quebra, ainda é bem dirigido e escrito por Spike Jonze e traz ótimas interpretações de todo o elenco. Acrescente-se à fórmula uma bela direção de arte, fotografia, trilha sonora, trailer, pôster...
Capitão Phillips – Não existe melhor diretor para conduzir um exercício de tensão do que Paul Greengrass. Seguindo a linha dos ótimos Bournes e “Vôo 93”, o diretor se inspira em uma história real e cria um produto que vai bem além dos limites do cinema de ação. Tom Hanks ainda entrega a melhor atuação de sua carreira e é amparado por um ótimo elenco coadjuvante.
Nebraska – Alexander Payne volta à boa e velha forma do início da carreira com esse ótimo quase road movie sobre a relação entre um pai já senil e seu filho mais novo. O filme ainda traz uma bela fotografia em p&B que emoldura esse retrato melancólico e agridoce de uma família nada perfeita. Na falta de Joaquin Phoenix e Tom Hanks na categoria de melhor ator, Bruce Dern merecia levar o prêmio para casa.
O Lobo de Wall Street – Apesar de ter três horas, Martin Scorsese segura muito bem esse longo exercício de estilo que segue a trajetória de um personagem amoral que ganha uma interpretação carismática de Leonardo DiCaprio. Scorsese começa a produção com o pé no acelerador, mas o filme perde um pouco do vigor na sua segunda metade, o que, talvez, justifique a ausência de Thelma Schoonmaker na categoria de edição.
Philomena – Filme absolutamente convencional que ganha pontos graças à direção econômica e honesta de Stephen Frears. De quebra, o filme traz uma interpretação comovente de Judi Dench. É filme para chorar e fazer você se sentir bem, mas pelo menos é muito bem feito dentro da sua proposta de simplicidade.
Gravidade – Um dos filmes mais supervalorizados do ano. Alfonso Cuáron, que já dirigiu longas bem superiores, como “E Tua Mãe Também” e “Filhos da Esperança”, ganhou respaldo e prêmios por esse achado técnico e estético que não alcança o mesmo resultado em termos narrativos. Ainda temos que aguentar Sandra Bullock fazendo caras e bocas de sofrimento em um papel bastante físico, mas sem grandes nuanças. George Clooney engraçadinho perdido no espaço também não ajuda.
Clube de Compras Dallas – Depois do interessante “Loucos de Amor” e do qualquer coisa “A Jovem Rainha Victoria”, Jean-Marc Vallée fica no meio termo nesse filme que não desenvolve todo seu potencial, mas se sustenta graças a duas grandes interpretações: Matthew McConaughey e Jared Leto em seus melhores momentos. Ainda que acerte ao fugir do melodrama barato, Vallée aposta demais no correto e entrega um longa que comove bem menos do que deveria.
12 Anos de Escravidão – Outro da série supervalorizado, o novo trabalho de Steve McQueen (“Hunger” e “Shame”) aposta na seriedade e no solene para narrar uma história de sobrevivência. Sem grande impacto audiovisual, a força do filme está toda no tema e nas atuações. É um bom filme, muito mais preocupado em passar uma mensagem e ser histórico do que propriamente ser cinema. É quase um “Lincoln” reloaded, porém bem melhor que o chatíssimo filme de Spielberg. Um dos grandes males do longa é que a edição nunca consegue nos fazer acreditar que se passaram 12 anos.
Trapaça - Vai entender, mas o filme mais fraco da lista é também o com maior número de indicações (10). “Trapaça” não é ruim, mas está longe de ser bom. Com uma história sem pé nem cabeça, David O´Russell liga o piloto automático e finge ser Martin Scorsese nessa trama que começa e termina sem nunca diz a que veio. O elenco é bom e carismático, mas todos passam longe do memorável (Amy Adams é a melhor em cena, mas sua personagem é quase jogada pra escanteio do meio para o fim). No final das contas, é aquele típico cinema de plumas, paetês, perucas e figurinos que chamam mais atenção do que o filme em si. É quase a síntese do cinema comercial limpinho que o Oscar tanto curte. Se bobear, leva o prêmio para casa e se junta a outros tantos filmes okzinhos esquecíveis que já ganharam (“O Discurso do Rei”, “Argo”, “Uma Mente Brilhante”, “Shakespeare Apaixonado”, “O Paciente Inglês”... e a lista é longa).
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