quarta-feira, 13 de agosto de 2014
Endereço novo
O Pensamentos Fabiofreireanos está de visual novo e mudou de endereço: http://fabiofreire.com/
segunda-feira, 16 de junho de 2014
Netflix: filmes ruins
Como Você Sabe
– Típico filme que tinha tudo para dar certo, mas morreu na praia. Dirigido e
escrito por James L. Brooks, responsável pelos ótimos “Laços de Ternura” e
“Melhor é Impossível”, e estrelado por um elenco interessante e eclético (Reese
Witherspoon, Paul Rudd, Owen Wilson e Jack Nicholson), “Como Você Sabe” é o melhor
exemplo de como as coisas em Hollywood podem dar errado. Longo e sem graça, a
produção não tem história nenhuma, os personagens não fazem o menor sentido, e
a química entre os atores é inexistente. Na teoria, é uma dramédia com toques
da comédia romântica; na prática, é uma tragédia grega de grandes proporções. Fazendo
um resumão, Reese Whiterspoon é uma mulher em crise profissional que se divide
entre dois homens, com Jack Nicholson se despedindo do cinema em um papel
lastimável. No papel, até parecer ser interessante; na tela, mal dá pra
entender o que está acontecendo.
O Mordomo da Casa Branca – Sabe-se lá Deus por que, mas esse filme foi bastante elogiado nos Estados Unidos e rendeu mais de US$ 100 milhões na bilheteria. A produção é um passeio pela história recente do País visto pelos olhos sem graça de um mordomo que trabalhou mais de 20 anos na Casa Branca e serviu diversos presidentes (Eisenhower, Kennedy, Johnson, Nixon, Reagan). Burocrático e cheio de elipses, o filme não é nada revelador e apenas demonstra a total incompetência de Lee Daniels como cineasta (o rapaz é responsável pelo exagerado e supervalorizado “Preciosa” e pelo horroroso “Obsessão”, cujo maior mérito é colocar Nicole Kidman para fazer xixi no Zac Efron). Entre um acontecimento histórico e outro, acompanhamos o drama da família do mordomo: a mulher alcoólatra que o trai com o vizinho (Oprah Winfrey tentando fingir ser boa atriz) e o filho rebelde que resolve seguir o caminho da luta ao invés da postura conformismo do pai. Para enterrar tudo, o filme é chato, lento, a dramaticidade é nula, os diálogos são vergonhosos, e a coisa mais marcante da produção é o festival de caracterizações equivocadas. Forest Whitaker ganha fácil o prêmio de pior ator no papel mais banana.
Viajar é Preciso – Paul Rudd e Jennifer Aniston já provaram ter química juntos no ótimo, fofo e simpático “A Razão do Meu Afeto”. Nessa suposta comédia sem a menor graça, nem mesmo a química entre o casal se salva. Os dois interpretam um casal nova-iorquino que perde tudo logo no começo do filme e acaba, por acaso, em uma comunidade hippie no meio do nada. A trama é sem graça, os personagens são o mais puro clichê (os coadjuvantes são em sua grande maioria insuportáveis) e nada faz muito sentido na tela. O que mais chama a atenção no filme são o botox e o bronzeamento artificial de uma Jennifer Aniston mal aproveitada e fotografada. Uma das piores coisas que já vi (e olha que já vi muitas).
O Mordomo da Casa Branca – Sabe-se lá Deus por que, mas esse filme foi bastante elogiado nos Estados Unidos e rendeu mais de US$ 100 milhões na bilheteria. A produção é um passeio pela história recente do País visto pelos olhos sem graça de um mordomo que trabalhou mais de 20 anos na Casa Branca e serviu diversos presidentes (Eisenhower, Kennedy, Johnson, Nixon, Reagan). Burocrático e cheio de elipses, o filme não é nada revelador e apenas demonstra a total incompetência de Lee Daniels como cineasta (o rapaz é responsável pelo exagerado e supervalorizado “Preciosa” e pelo horroroso “Obsessão”, cujo maior mérito é colocar Nicole Kidman para fazer xixi no Zac Efron). Entre um acontecimento histórico e outro, acompanhamos o drama da família do mordomo: a mulher alcoólatra que o trai com o vizinho (Oprah Winfrey tentando fingir ser boa atriz) e o filho rebelde que resolve seguir o caminho da luta ao invés da postura conformismo do pai. Para enterrar tudo, o filme é chato, lento, a dramaticidade é nula, os diálogos são vergonhosos, e a coisa mais marcante da produção é o festival de caracterizações equivocadas. Forest Whitaker ganha fácil o prêmio de pior ator no papel mais banana.
Viajar é Preciso – Paul Rudd e Jennifer Aniston já provaram ter química juntos no ótimo, fofo e simpático “A Razão do Meu Afeto”. Nessa suposta comédia sem a menor graça, nem mesmo a química entre o casal se salva. Os dois interpretam um casal nova-iorquino que perde tudo logo no começo do filme e acaba, por acaso, em uma comunidade hippie no meio do nada. A trama é sem graça, os personagens são o mais puro clichê (os coadjuvantes são em sua grande maioria insuportáveis) e nada faz muito sentido na tela. O que mais chama a atenção no filme são o botox e o bronzeamento artificial de uma Jennifer Aniston mal aproveitada e fotografada. Uma das piores coisas que já vi (e olha que já vi muitas).
quarta-feira, 11 de junho de 2014
Cinema: Pílulas
Malévola: Da
nova tendência hollywoodiana de adaptar contos de fadas/filmes infantis e
transformá-los em produções mais adultas e violentas (“Alice no País das
Maravilhas”, “Branca de Neve e o Caçador”, “Oz – Mágico e Poderoso”), esse
“Malévola” é o melhorzinho. Não que isso signifique muito. Inundado por efeitos
especiais e sem muito estofo narrativo, o grande mérito desse novo longa é o tom
feminista e a abordagem um tanto subversiva (pelo menos em termos de Disney) de
uma história muito bem enraizada no imaginário coletivo. Outro ponto positivo
é o uso da imagem da superstar Angelina Jolie, uma das maiores estrelas
do cinema mundial e dona de uma filmografia de fazer vergonha. Mesmo não sendo
uma grande atriz, Jolie tem talento e carisma e carrega o longa praticamente
sozinha. A melhor coisa do filme, no entanto, é mesmo o figurino e a
caracterização da atriz.
No Limite do Amanhã: Tom Cruise já passou dos 50 e há tempos não protagoniza um filme de grande sucesso. Mas essa nova incursão do astro no gênero da ficção científica (ele já provou que se dá muito com o gênero nos anteriores "Minority Report", "Guerra dos Mundos" e "Oblivion") prova que ele ainda é capaz de segurar um longa sozinho. Seguindo a proposta “repetitiva” de produções como “Feitiço do Tempo” e “Contra o Tempo”, o novo trabalho de Doug Liman (“A Identidade Bourne” e “Sr & Sra Smith”) acerta ao colocar o ator no papel de um herói involuntário, misturando belas cenas de ação, humor na medida e uma trama que começa meio sem jeito, mas ganha força graças à mão firme do diretor e ao carisma de Cruise (muito bem acompanhado por Emily Blunt). O final é um tanto confuso e tem a boa e velha concessão hollywoodiana ao happy end, mas é de longe o melhor trabalho de Cruise em tempos.
A Culpa é das Estrelas: Esse é o típico filme que tinha tudo para dar errado. É baseado em um best-seller de qualidade duvidosa e dirigido por um qualquer sem grandes referências (Josh Boone). E é igual a tantos outros longas açucarados sobre casais apaixonados que têm que lidar com uma doença terminal (de cara já lembro de “Doce Novembro” e “Outono em Nova York”). Mas a sorte da produção e do público é que “A Culpa é das Estrelas” é protagonizado por dois ótimos novos atores que dão conta do recado. Shailene Woodley e Ansel Elgort são lindos, ótimos, cheios de química e têm o poder de transformar uma trama clichê e melosa em um filme fofo e totalmente assistível. Ela traz simpatia e honestidade ao papel da mocinha que sofre de um câncer terminal. Ele é dono de uma espontaneidade impressionante e que conquista a plateia logo de cara. Graças aos dois, a direção pouco inspirada de Boone e a narrativa um tanto arrastada são devidamente esquecidas. Não me fez chorar litros como outros “filmes de câncer” (“Laços de Família”, “As Filhas de Marvin” e “Lado a Lado” são campeões de lágrimas), mas é uma produção bem decente e que vai além da classificação “filme adolescente feito apenas para chorar”.
No Limite do Amanhã: Tom Cruise já passou dos 50 e há tempos não protagoniza um filme de grande sucesso. Mas essa nova incursão do astro no gênero da ficção científica (ele já provou que se dá muito com o gênero nos anteriores "Minority Report", "Guerra dos Mundos" e "Oblivion") prova que ele ainda é capaz de segurar um longa sozinho. Seguindo a proposta “repetitiva” de produções como “Feitiço do Tempo” e “Contra o Tempo”, o novo trabalho de Doug Liman (“A Identidade Bourne” e “Sr & Sra Smith”) acerta ao colocar o ator no papel de um herói involuntário, misturando belas cenas de ação, humor na medida e uma trama que começa meio sem jeito, mas ganha força graças à mão firme do diretor e ao carisma de Cruise (muito bem acompanhado por Emily Blunt). O final é um tanto confuso e tem a boa e velha concessão hollywoodiana ao happy end, mas é de longe o melhor trabalho de Cruise em tempos.
A Culpa é das Estrelas: Esse é o típico filme que tinha tudo para dar errado. É baseado em um best-seller de qualidade duvidosa e dirigido por um qualquer sem grandes referências (Josh Boone). E é igual a tantos outros longas açucarados sobre casais apaixonados que têm que lidar com uma doença terminal (de cara já lembro de “Doce Novembro” e “Outono em Nova York”). Mas a sorte da produção e do público é que “A Culpa é das Estrelas” é protagonizado por dois ótimos novos atores que dão conta do recado. Shailene Woodley e Ansel Elgort são lindos, ótimos, cheios de química e têm o poder de transformar uma trama clichê e melosa em um filme fofo e totalmente assistível. Ela traz simpatia e honestidade ao papel da mocinha que sofre de um câncer terminal. Ele é dono de uma espontaneidade impressionante e que conquista a plateia logo de cara. Graças aos dois, a direção pouco inspirada de Boone e a narrativa um tanto arrastada são devidamente esquecidas. Não me fez chorar litros como outros “filmes de câncer” (“Laços de Família”, “As Filhas de Marvin” e “Lado a Lado” são campeões de lágrimas), mas é uma produção bem decente e que vai além da classificação “filme adolescente feito apenas para chorar”.
terça-feira, 27 de maio de 2014
Televisão: The Normal Heart
The Normal Heart faz “Clube de Compras Dallas”
parecer uma obra-prima do cinema. Com temática bastante semelhante ao filme que
deu a Matthew McConaughey e Jared Leto o Oscar, a produção da HBO Filmes faz
jus ao termo “filme feito para TV”, quando isso não era elogio. Mal escrito,
mal dirigido e mal editado, o longa pega uma história forte e comovente e
transforma em um dramalhão sem dramaticidade alguma.
O filme começa no início dos anos 1980, quando ser gay, segundo o próprio longa, era sinônimo de sexo fácil, orgias, promiscuidade e liberdade sexual. Até que uma doença desconhecida começou a mudar esse cenário. Gays começaram a apresentar sintomas e morrer, alarmando a comunidade para o chamado “câncer gay”. “The Normal Heart” coloca em foco então um grupo de gays que tenta chamar a atenção das autoridades, na época omissas, à questão. Liderados por Ned Weeks (Mark Ruffalo) e Bruce Niles (Taylor Kitsch), esse grupo se divide entre a liberdade sexual alcançada e o medo de morrer, já que, na época, não se sabia como a doença era transmitida.
O dilema dos personagens é o mesmo da produção, que não esconde sua posição conservadora, assumindo a mesma voz de Ned Weeks, contrário a tal promiscuidade e a favor do celibato e/ou monogamia como forma de proteção. É por meio do olhar do personagem que acompanhamos a jornada dessas pessoas e a trajetória de uma doença que virou praga mundial. Mas o filme, claro, está menos preocupado em ser um retrato histórico e mais interessado no drama do personagem central, que se divide entre fazer, aos berros, a AIDS ser reconhecida pelo governo e cuidar do seu parceiro doente (Matt Bomer).
Dirigido por Ryan Murphy, que não fez sua fama baseado na sutileza (vide “Glee”, “American Horror Story” e seus irregulares trabalhos para o cinema: “Correndo com Tesouras” e “Comer, Rezar, Amar”), “The Normal Heart” é um grande anticlímax em forma de filme. As cenas são mal costuradas, a narrativa truncada não se desenvolve, e os personagens são mal escritos, não dando muito espaço aos atores: Julia Roberts tem uma grande cena; Taylor Kistch e Jim Parsons tem muito pouco a fazer.
Mas Mark Ruffalo é o pior em cena. Ele pode até ganhar todos os prêmios de televisão daqui pra frente, mas o ator constrói um personagem chato, raso e sem um pingo de carisma, quase uma bicha louca que passa o filme inteiro com raiva e gritando.
O discurso panfletário do filme não ajuda. As frases são clichês, e os atores ficam muitas vezes engessados pelo formato teatral da peça que originou o longa. O resultado beira o constrangedor, desperdiçando uma grande história em uma produção que não causa impacto ou desperta emoção no espectador (com exceção de uma cena aqui outra ali). Muita pouco para uma produção tão cheia de pretensões.
PS: Sobre a descoberta da AIDS e a sua repercussão, outro telefilme bem mais interessante é o pouco visto E a Vida Continua. Fica a dica.
O filme começa no início dos anos 1980, quando ser gay, segundo o próprio longa, era sinônimo de sexo fácil, orgias, promiscuidade e liberdade sexual. Até que uma doença desconhecida começou a mudar esse cenário. Gays começaram a apresentar sintomas e morrer, alarmando a comunidade para o chamado “câncer gay”. “The Normal Heart” coloca em foco então um grupo de gays que tenta chamar a atenção das autoridades, na época omissas, à questão. Liderados por Ned Weeks (Mark Ruffalo) e Bruce Niles (Taylor Kitsch), esse grupo se divide entre a liberdade sexual alcançada e o medo de morrer, já que, na época, não se sabia como a doença era transmitida.
O dilema dos personagens é o mesmo da produção, que não esconde sua posição conservadora, assumindo a mesma voz de Ned Weeks, contrário a tal promiscuidade e a favor do celibato e/ou monogamia como forma de proteção. É por meio do olhar do personagem que acompanhamos a jornada dessas pessoas e a trajetória de uma doença que virou praga mundial. Mas o filme, claro, está menos preocupado em ser um retrato histórico e mais interessado no drama do personagem central, que se divide entre fazer, aos berros, a AIDS ser reconhecida pelo governo e cuidar do seu parceiro doente (Matt Bomer).
Dirigido por Ryan Murphy, que não fez sua fama baseado na sutileza (vide “Glee”, “American Horror Story” e seus irregulares trabalhos para o cinema: “Correndo com Tesouras” e “Comer, Rezar, Amar”), “The Normal Heart” é um grande anticlímax em forma de filme. As cenas são mal costuradas, a narrativa truncada não se desenvolve, e os personagens são mal escritos, não dando muito espaço aos atores: Julia Roberts tem uma grande cena; Taylor Kistch e Jim Parsons tem muito pouco a fazer.
Mas Mark Ruffalo é o pior em cena. Ele pode até ganhar todos os prêmios de televisão daqui pra frente, mas o ator constrói um personagem chato, raso e sem um pingo de carisma, quase uma bicha louca que passa o filme inteiro com raiva e gritando.
O discurso panfletário do filme não ajuda. As frases são clichês, e os atores ficam muitas vezes engessados pelo formato teatral da peça que originou o longa. O resultado beira o constrangedor, desperdiçando uma grande história em uma produção que não causa impacto ou desperta emoção no espectador (com exceção de uma cena aqui outra ali). Muita pouco para uma produção tão cheia de pretensões.
PS: Sobre a descoberta da AIDS e a sua repercussão, outro telefilme bem mais interessante é o pouco visto E a Vida Continua. Fica a dica.
sexta-feira, 23 de maio de 2014
Cinema: X-Men: Dias de um Futuro Esquecido
X-Men: Dias de um Futuro Esquecido é inspirado em uma das melhores tramas do grupo e traz de volta ao comando da saga Bryan Singer, dono do melhor longa da franquia (“X-Men 2”). O resultado é um belo filme que consegue amarrar a trilogia original ao ótimo prequel que conta o nascimento na equipe. Claro que o longa tem seus problemas, mas o conceito dele segue direitinho a lógica dos quadrinhos e funciona muito bem na tela grande. Se não supera as expectativas criadas pela massiva campanha de marketing ou pela própria trajetória dos heróis no cinema, está bem longe de ser um vexame (vide “X-Men: O Conflito Final” ou os filmes-solo do Wolverine).
Singer, que não dirigiu uma só boa produção depois de ter abandonado os mutantes, assume à cadeira de diretor, coloca ordem na casa e recupera parte do seu prestígio perdido em filmes como “Superman – O Retorno” e “Jack, o Caçador de Gigantes”. O cineasta mistura muito bem um tom mais melancólico característico dos heróis vistos como párias e/ou algozes com uma pegada épica que casa com a grandiosidade das cenas de ação.
Nesse embate entre conteúdo e espetáculo, quem ganha são os fãs e o espectador comum. “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido” é nostálgico, épico, emocionante, avassalador, complexo e muito bem realizado. A trama que gira em torno de viagens no tempo (a história original inspirou nada menos que James Cameron a criar “O Exterminador do Futuro”) poderia resultar em uma bagunça só no cinema, mas Singer mantém o controle mesmo nos momentos em que o filme escorrega (nunca é explicado, por exemplo, de onde Kitty Pride conseguiu poderes para manipular consciências no tempo/espaço).
As cenas de ação e destruição são muito bem orquestradas. O elenco cheio de rostos conhecidos do passado e novos nomes (com destaque para o Mercúrio de Evan Peters, dono da melhor cena de ação do longa) dá conta do recado e é responsável pelo coração e carga dramática do filme. E a narrativa, ainda que privilegie os eventos que acontecem no passado, consegue balancear muito bem os muitos elementos que tomam conta das 2h11 de duração. A fotografia aqui também ganha destaque em cenas de sombras, luzes, silhuetas e formas que ajudam e muito a plateia a entender os personagens.
E em meio a batalhas, explosões, efeitos especiais, uniformes, sentinelas, passado, futuro, mortes e renascimentos, os mutantes são a grande força da franquia. Ainda que as produções não estejam no mesmo patamar de perfeição de outras séries de super-heróis (a direção de arte e os figurinos muitas vezes aparentam ser fakes) e o tom fantástico vá de encontro ao realismo adotado nos filmes da DC Comics, por exemplo, são os conflitos emocionais dos personagens que tornam a franquia tão interessante. Mais do que deuses ou heróis e vilões com super-poderes, os mutantes estão mais próximos de nós graças a questões importantes que permeiam todas suas histórias: preconceito, intolerância e medo.
São mutantes demais, é verdade, alguns com pouco ou quase nada a fazer. O final é muito amarradinho e explicativo (a HQ termina de modo totalmente aberto). Mas quem se importa? Resumindo, já quero ver X-Men: Apocalipse, que estreia em maio de 2016.
quinta-feira, 22 de maio de 2014
Cinema: Praia do Futuro
Karim Ainouz é meu cineasta nacional predileto. Ele constrói
imagens e filma palavras e silêncios de um modo que me diz muito. Cada um a sua
maneira, “O Céu de Suely”, “Viajo porque te amo, volto porque preciso” e
“Abismo Prateado” são experiências cinematográficas bem íntimas para mim. Dono
de um olhar poético nada prepotente, Ainouz está interessado em personagens em
estado de inquietação e desconforto. Existe certo descontentamento em seu
cinema e na fala de seus protagonistas, sempre em processo de fuga, ainda que
geralmente fugas subjetivas.
O novo trabalho do cineasta, Praia do Futuro, segue caminho semelhante. Cheio
de elipses e quase momentos mortos, aqui Ainouz dá mais força às imagens do que
às palavras, pouco é dito pelos personagens e muito está implícito em seus
gestos e olhares.
Saltando no tempo para estabelecer a trama, o cineasta
separa sua história em três capítulos para mostrar o relacionamento entre um
salva-vidas e um alemão de passagem por Fortaleza. Menos preocupado em dissecar
o envolvimento entre os dois, Ainouz prefere explorar momentos importantes para
tentar compreender tal sentimento. Donato (em uma atuação corajosa de Wagner
Moura) conhece Konrad (um Clemens Schick dono de um par de olhos azuis de
abalar estruturas) e muda sua vida, abandona a família em Fortaleza e vai se
aventurar em Berlim.
A trama banal se revela e ganha camadas no modo delicado
como o diretor filma essa relação e suas consequências. Algumas cenas ganham
mais pela plasticidade e força das imagens, compensando certo despojamento de
um roteiro que não se prende à lógica de tudo explicar e/ou mostrar: os dois
seminus em meio às pedras e ao mar; tudo que é não dito na intensa cena do
trem, seguida pela alegria dos dois na boate; o explosivo reencontro dos
irmãos; o final em meio a uma imensidão desoladora e uma narração em off cheia
de significados etc.
Semelhante a seus trabalhos anteriores, em “Praia do
Futuro”, os espaços também são importantes elementos narrativos. Em “O Céu de
Suely”, a cidade do interior em que a personagem está presa é fundamental para
determinar a inquietude da personagem. O deslocamento vivido pelo caminhoneiro
de “Viajo porque te amo, volto porque preciso” e o próprio modo como o longa é
filmado são essenciais para a estrutura do filme. E em “Abismo Prateado”, o Rio
de Janeiro é um espectador a mais da decadência que Alessandra Negrini sofre
após ser abandonada pelo marido. Aqui, tanto Fortaleza quanto Berlim são partes
da história e importantes para entender o comportamento dos personagens.
Flertando com o pop (a estrutura capitular, o apelidos
dos personagens e a bela trilha sonora), em “Praia do Futuro”, Ainouz segue
fazendo um cinema interessante, poético, contemplativo, envolvente e autoral.
Tudo isso fugindo do padrão chato, panfletário e/ou amador tão comum ao nosso
cinema. Sim, Karim Ainouz é meu diretor brasileiro preferido.
terça-feira, 20 de maio de 2014
Cinema: Sob a Pele
Sob a Pele é
um filme bem interessante. Mesmo não apostando em uma trama amarrada, o novo
filme de Jonathan Glazer (“Sexy Beast” e “Reencarnação”) parte de uma narrativa
bastante solta para criar clima e buscar a experimentação. Para alguns, o longa
pode ser bem chato, mas é um belo exercício audiovisual.
O pouco de trama que o filme apresenta é o suficiente
para despertar a atenção do público: Scarlett Johansson é uma alienígena que
atrai homens solitários para a morte nas gélidas paisagens da Holanda. E passamos
grande parte da duração da película acompanhando a atriz (ora sensual e
simpática, ora nua, ora meio catatônica) procurando novas pressas.
Mas ainda que a narratividade seja bem repetitiva, Glazer
cria imagens sedutoras que intrigam e incomodam o espectador (a cena da praia
em especial). A trilha sonora ajuda na construção desse clima um tanto
desolador, ora apelando quase à cacofonia, ora casando à perfeição com a frieza
das imagens.
Em alguns momentos, Glazer flerta quase com o ridículo e,
mesmo não se preocupando em responder perguntas, sai-se muito bem ao dar mais
atenção à plasticidade da produção do que às peripécias da trama (e quando se
volta à história, dando uma virada na forma como a personagem da alienígena se
comporta, quase se perde).
Parte desse olhar menos preso à narrativa de Glazer é
decorrente de sua experiência como diretor de videoclipes. Junto com Spike
Jonze, David Fincher, Mark Romanek, Michel Gondry, Chris Cunningham, Jonas
Akerlund e mais alguns outros, Jonathan Glazer foi um dos reis da MTV na década
de 1990, estabelecendo estilos, criando tendências e ditando estéticas ao
brincar com imagem e som em vídeos de bandas consagradas como Radiohead,
Massive Attack, Blur etc.
Mesmo que no cinema o diretor ainda não tenha encontrado
um caminho consolidado como alguns de seus contemporâneos (“Sob a Pele” é apenas
seu terceiro filme em quase 15 anos), essa experiência fica evidente em seus
trabalhos para a tela grande. A câmera está mais preocupada em captar a beleza
das tomadas do que estabelecer um sentido para as imagens. E o filme é
construído muito mais a partir de um conceito do que de um roteiro coerente.
O resultado é que muita gente já torceu e ainda vai torcer o nariz para "Sob a Pele". Eu gostei e achei legal bem interessante.
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