Sob a Pele é
um filme bem interessante. Mesmo não apostando em uma trama amarrada, o novo
filme de Jonathan Glazer (“Sexy Beast” e “Reencarnação”) parte de uma narrativa
bastante solta para criar clima e buscar a experimentação. Para alguns, o longa
pode ser bem chato, mas é um belo exercício audiovisual.
O pouco de trama que o filme apresenta é o suficiente
para despertar a atenção do público: Scarlett Johansson é uma alienígena que
atrai homens solitários para a morte nas gélidas paisagens da Holanda. E passamos
grande parte da duração da película acompanhando a atriz (ora sensual e
simpática, ora nua, ora meio catatônica) procurando novas pressas.
Mas ainda que a narratividade seja bem repetitiva, Glazer
cria imagens sedutoras que intrigam e incomodam o espectador (a cena da praia
em especial). A trilha sonora ajuda na construção desse clima um tanto
desolador, ora apelando quase à cacofonia, ora casando à perfeição com a frieza
das imagens.
Em alguns momentos, Glazer flerta quase com o ridículo e,
mesmo não se preocupando em responder perguntas, sai-se muito bem ao dar mais
atenção à plasticidade da produção do que às peripécias da trama (e quando se
volta à história, dando uma virada na forma como a personagem da alienígena se
comporta, quase se perde).
Parte desse olhar menos preso à narrativa de Glazer é
decorrente de sua experiência como diretor de videoclipes. Junto com Spike
Jonze, David Fincher, Mark Romanek, Michel Gondry, Chris Cunningham, Jonas
Akerlund e mais alguns outros, Jonathan Glazer foi um dos reis da MTV na década
de 1990, estabelecendo estilos, criando tendências e ditando estéticas ao
brincar com imagem e som em vídeos de bandas consagradas como Radiohead,
Massive Attack, Blur etc.
Mesmo que no cinema o diretor ainda não tenha encontrado
um caminho consolidado como alguns de seus contemporâneos (“Sob a Pele” é apenas
seu terceiro filme em quase 15 anos), essa experiência fica evidente em seus
trabalhos para a tela grande. A câmera está mais preocupada em captar a beleza
das tomadas do que estabelecer um sentido para as imagens. E o filme é
construído muito mais a partir de um conceito do que de um roteiro coerente.
O resultado é que muita gente já torceu e ainda vai torcer o nariz para "Sob a Pele". Eu gostei e achei legal bem interessante.
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