É por isso que assisto a tudo, nem que seja para depois reclamar ou constatar que realmente determinado longa é ruim, que fulano não sabe atuar ou fulana faz sempre o mesmo papel, ou aquele gênero não me empolga de jeito nenhum. Se existe um campo no qual não tenho preconceitos, ou se os tenho, não os levo tão a sério, é o cinema. Assistir a filmes ruins também é uma arte e até aquela porcaria audiovisual mais desgraçada tem seu valor, nem que seja para fazer volume no seu repertório de imagens ou bagagem cultural. Sim, porque filme ruim também é cultura.
Dito isso, fui ver Burlesque no cinema. Peguei uma fila meio grande de um cinema de shopping em um sábado à noite, paguei um preço bem salgado, sentei do lado de uns malas que riam de qualquer besteira e ainda cantavam as músicas em voz alta. Mas fiz questão de ir. O filme é ruim? Claro que é e não há nenhuma surpresa nisso.
Ninguém assiste a um filme sobre uma garota do interior que se muda para a capital em busca de fama, sucesso e dinheiro, uma das tramas mais batidas e sem graça da existência, achando que vai ver uma obra-prima. Ainda mais se o longa em questão é a estreia da Christina Aguilera no cinema e traz a Cher a tiracolo.
Sim, "Burlesque" é mesmo uma bomba anunciada e faz vergonha. O que me leva a defender mais uma vez. A melhor parte de se ver um filme ruim é descobrir o porquê dele ser ruim, mesmo que as razões muitas vezes sejam óbvias. E "Burlesque" tem vários motivos para abraçar tal alcunha. Além da história baba e das péssimas atuações, o diretor Steven Antin se leva a sério demais, e o que poderia ser um cult trash cheio de ironia, como Showgilrs, de Paul Verhoeven, transforma-se em um musical chato e genérico que nunca empolga, um clone sem graça de Cabaret ou Chicago e mais um monte de musicais.
Os diálogos são vergonhosos, as situações as mais piegas e clichês e a narrativa convencional e quadradinha. Tudo isso poderia até ser perdoado se as sequências musicais valessem a pena, mas nem isso. As músicas são tão genéricas quanto qualquer canção pop sem graça de hoje em dia, e as cenas de dança e canto são apenas corretas, quando não tediosas. De burlesco mesmo, elas não têm nada, e a produção carece um pouco de sexy appeal. Tudo é filmado de forma muito limpinha e casta mais parecendo uma versão Disney de um universo que poderia ser bem mais interessante.
No quesito atuações, o filme também é um vexame só. Christina Aguilera não é sexy, não é atriz e muito menos cantora, apesar de ter, sim, um registro vocal marcante. No papel da tal garota do interior que quer ser cantora e dançarina, a falta de talento e carisma da moça para segurar um papel clichê é evidente e, na maior parte do filme, ela está apagada. Cher já foi uma boa atriz, ganhou Oscar e fez muita coisa bacana. Mas isso foi lá nos anos 1980. Hoje a cantora/atriz mal consegue mexer a boca depois de tanta cirurgia e sua participação em "Burlesque" é constrangedora e melancólica. O resto do elenco passa batido.
O resultado de tantos erros é um filme embaraçoso que nem como comédia involuntária funciona. Para piorar, o diretor alonga demais o troço e inventa um monte de tramas paralelas que vai deixando tudo mais chato e irritante. É Aguilera se envolvendo com dois homens aqui (um bonzinho, o outro não, claro). É Cher sofrendo pela possibilidade de perder seu clube noturno ali. É a inveja da ex-estrela em relação à nova acolá. Tudo misturado sem muito critério. Chega uma hora que dá nos nervos. Mas é educativo sim. Cinema ruim, às vezes, também pode ser bom. Esse não é o caso de "Burlesque", mas ainda assim, assistir ao filme não deixa de ser um aprendizado.
Vou dizer que sua crítica já comeca falha por nao a sua ida ao cinema ter sido ruim. Aposto que se voce tivesse ido ao cinema após um bom sexo seu comentario seria melhor!
ResponderExcluirAgora quanto ao enredo do filme, sim é cliche sim, mas se é pra ver por esse lado, voce nao assiste filme de terror também, porque que me lembre o último original e realmente assustador, eu vi na decada de 90! Quanto a atuacoes ruins, voce realmente brincou. Pra uma estreia Aguilera mandou super bem.
Quanto a sequencia musical, ouvir Aguilera soltar aquela voz de negona que ela tem e ainda chamar de pop doeu! As musicas sao burlescas e nao se comparam com esses popzinhos de hoje em dia.
Creio que esse foi o primeiro musical de Steve Antin e creio que super influenciado pela sua irma que ele decidiu fazer o filme. Ele só decidiu pegar das cinzas Cher e acrescentar uma das 100 maiores cantoras da atualidade, a Aguilera. E puramente o filme é isso.
Percebi que voce também nao gosta de musicais, pois falar que Cabaret e Chicago, dois grandes clássicos musicados e falar que sao sem graca realmente o seu senso critico nao pode chegar nesse canto. Claramente voce está comparando um musical com outros filmes, porque tanto quer super dialogos e producoes no estilo Avatar. Mas musicais nao sao isso. Musical é para mostrar a voz da pessoa e muitas vezes elas nao precisaram atuar bem e sim cantar!
De burlesco dizer que nao tem nada foi quando voce caiu do barco. Burlesque é puramente isso, um show caracterizado e feito para se divertir. Exatamente como no filme.
Apesar disso tudo, voce se afogou, quando disse que Aguilera nao é sexy e nem canta. Aguilera é uma das mulheres mais linda e sexys do mundo e sua voz de negona é incrivelmente linda e surpreendente para uma pessoa de 1,50 de altura. Quanto a Cher, ela nao precisa mexer a boca e nem na verdade se mexer para marcar presenca! Ela é um icone atualmente só por estar.
Resumindo, achei muito falhos seus argumentos e sua visao do mundo musicado é muito diminuta. Apesar de tudo voce escreve bem. (é né por isso voce é jornalista!)
Hahahaah! Delícia de texto e delícia de comentário!!! Realmente, nem a Cher, nem a Vera Fischer, nem a finada Dercy Gonçalves precisam falar ou se mexer pra marcar presença!!! Vê se aprende, hein Fábio!!!
ResponderExcluirE não sei onde eu estava nas duas últimas décadas que perdi a "Xtina Aguilera sexy e que não faz música pop"...
Acho que na primeira década voce tava ouvindo e na segunda voce dormiu! Xtina Aguilera foi reconhecida como icone sexy logo após o single Dirrty dela! E com o albúm Stripped de 2003, ela passou a ser mais jazz, soul, gospel e R&B! Ela até entao tem sido totalmente eclética em todos os albuns dela!
ResponderExcluirEu me lembro de "Dirrty". Veio no rastro de "I'm a Slave 4 U", da Britney Spears. Belo exercício de forçação e desespero... se o clipe não fosse dirigido pelo David LaChapelle seria um lixo completo. Não é toda mundo que sustenta uma tanga enfiada no rabo...
ResponderExcluirSexy pra mim é a Monica Bellucci.
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Eu adoro muito tudo isso! É o que torna o mundo divertido essa possibilidade de se ter multiplicidade de opiniões. Para um crítico de cinema, não são os olhos azuis dos atores que fazem a diferença. Não é o que a mídia acha ou diz. Há todo um contexto que precisa ser respeitado. E se a música é boa e os diáligos são ruins, há coisa errada no filme que precisa ser perfeito como um todo. Ou então que não chege à telona. Além disso, os ícones mesmo sem precisar se mexer deveriam ter cuidado com a imagem deles para que não comecem a derreter como cera. Se é ícone é ficar quieto e não fazer coisas que atinjam esse status de deuses para não correr o risco de serem desmitificados. Dito isso, concordo com o Fábio. Ele sabe dizer, ele saber analisar, ele sabe tudo, independente, acredito, de estar com o sexo em dia ou não.
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