segunda-feira, 13 de maio de 2013

Cinema: Amor Profundo

Se, no cinema, mulheres contemporâneas que trocam o marido pelo amante já não costumam se dar bem (vide Entre o Amor e a Paixão), imagine então as mulheres do passado. Em Amor Profundo, Rachel Weisz troca um casamento infeliz, mas seguro, pela aventura com um amante mais novo, mas sem fortuna. O cenário é a Londres miserável do pós-Guerra. O marido é mais velho, abastado, mas sem paixão, sem vida. O amante é bonito, jovial, sempre animado, mas instável. Ela não pensa duas vezes e troca o certo pelo duvidoso. E, claro, sofre por isso.

Mas pelo menos ela sofre com estilo no filme de Terence Davies. Por meio de uma bela fotografia e de uma ambientação cheia de fumaças, espelhos, sombras e luzes, o diretor entrega seu filme a Rachel Weisz e constrói um retrato sutil do início e término de um relacionamento que deixa como resultado uma mulher sem nada, apenas alguns tacos de golfe e a esperança.
Indo e voltando no tempo, Davies usa o rosto luminoso da atriz para mostrar as mudanças e as transformações que a personagem passa ao abandonar o marido (Simon Russell Beale), que ainda vive sob as rédeas da mãe, pelo sorriso aberto e os olhos claros e cheios de vida de Tom Hiddleston (um sub Michael Fassbender).

Seguindo a tradição das heroínas românticas dos filmes de época, nem tudo são flores no caminho de Weisz. Mas o filme opta por não exagerar no sofrimento da personagem e deixa todo o drama recair na interpretação da atriz e na mise-en-scène bem elaborada. A música começa quase de modo operístico, mas desaparece muitas vezes para deixar o espectador respirar a história. As idas e vindas no tempo servem para balancear a trama e contrapor a felicidade e a tristeza da protagonista, afastando-se do melodrama fácil.
Davies filma com apuro estético, mas sem afogar a história apenas em técnica vazia. O longa leva seu tempo, é editado em um ritmo lento, mas certeiro. No final, “Amor Profundo” pode não ser uma experiência arrebatadora, como é a paixão de Hester pelo soldado Freddie, mas é um exercício cinematográfico que vale pela maturidade com que é filmado. A aura do filme ainda remete, mesmo que as produções tenham tramas bem diferentes, ao igualmente belo e doloroso Fim de Caso, de Neil Jordan. Se lá temos uma sofredora e temente Julianne Moore, aqui temos Rachel Weisz em um de seus melhores papéis.

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