Criada por Joseph Weisberg,
novato no ramo que escreveu apenas alguns episódios de “Damages” e “The Falling
Skies”, The Americans volta no tempo da Guerra Fria para mostrar a rotina de
um casal de agentes russos infiltrados no subúrbio de Washington nos anos 1980,
em plena Era Reagan. Elizabeth e Philip foram recrutados ainda cedo para
viverem um casamento de fachada e espionar o inimigo norte-americano de perto, no
próprio solo ianque. Com dois filhos adolescentes, a cada episódio, o casal
enfrenta uma nova missão que envolve sequestros, mortes, sabotagem e por aí
vai.
O grande acerto da série é nunca
esquecer que tanto Elizabeth quanto Philip são seres humanos que vivem a vida
de um casal comum e enfrentam problemas banais do dia a dia. Mesmo sendo uma
série norte-americana, bancada por um canal norte-americano, Weisberg trata os
personagens russos com respeito e nunca os retrata como vilões. Nós, do lado de
cá da tela, sempre tão acostumados a ver filmes, séries e qualquer tipo de
produção retratando o heroísmo estadudinense, seguimos a mesma lógica, ficamos
em cima do muro e torcemos pelo casal ao mesmo tempo em que temos simpatia
pelos agentes da CIA que correm atrás da dupla.
Apesar da história envolvente,
cheia de idas e vindas no tempo para explicar o passado dos protagonistas, e de
uma dramaturgia que cresce a cada episódio, chegando ao final com vários
ganchos para a segunda temporada, o sucesso da série é decorrente do
ótimo trabalho do elenco. Keri Russell (a eterna Felicity) e Matthew Rhys (de “Brothers
& Sisters”) se saem muito bem como o casal de espiões, despertando carisma
e transmitindo os sentimentos confusos de duas pessoas que vivem uma vida de
mentira da forma mais verdadeira possível. O elenco de apoio não fica atrás. Noah
Emmerich, Annet Mahendru, Alison Wright e Margo Martindale interpretam
personagens duros, sofridos e que vivem sob a sombra da disputa entre dois
países e dois ideais.
O ótimo elenco também é a grande
força de Top of the
Lake, mas não há carisma ou tensão aqui. Sempre versando sobre o universo
feminino, Jane Campion se arrisca na televisão com essa minissérie que leva o
público aos confins da Nova Zelândia para, junto com a detetive Robin,
desvendar o paradeiro de uma garota grávida e desaparecida em uma gélida e
isolada região. Claro que Robin, que nasceu e cresceu ali e está voltando da
Austrália, enfrentará o preconceito local e descobrirá uma série de esqueletos
no armário em sua investigação.
Ainda que já tenha trabalhado com
o suspense no injustiçado “Em Carne Viva”, Campion perde tempo demais na
caracterização dos personagens e na ambientação e cria uma produção visualmente
interessante, mas que se arrasta em sua proposta. Com uma bela fotografia e uma
trilha sonora marcante, a minissérie fica devendo não apenas em tensão, mas no
desenvolvimento da trama. Fugindo de uma abordagem mais melodramática, Campion
desperdiça personagens, abandona ideias e entrega um final apressado e que
deixa a desejar.
A maior prova da aura de decepção
que impregna a produção é a personagem da atriz Holly Hunter, uma espécie de
guia espiritual que comanda uma comunidade de mulheres que se instala à beira
de um lago para repensar a vida. A comunidade não acrescenta em nada à
história, que mistura pedofilia, abuso sexual, drogas e segredos familiares, e
a interpretação de Hunter (uma atriz talentosa que teve com Campion um de seus
maiores sucessos, “O Piano”) fica restrita a uma caricatura infeliz.
Felizmente, o rosto estranho e
emblemático da ótima Elizabeth Moss conduz a história e empresta certo ar de
melancolia à produção. A minissérie encontra na atriz a melhor tradutora das
intenções de Campion, e é a atriz, em uma interpretação madura e triste, que compensa
as falhas de uma minissérie que prometia entregar mais e fica apenas na
superfície.
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