Depois de apurar seu estilo com
os bens recebidos “Quem quer ser Milionário” e “127 Horas”, Danny Boyle entrega
Em Transe, um longa
divertido, mas que nunca empolga. Misturando o gênero “filme de assalto”, um
clima meio noir com direito a femme fatale e mais sua câmera epilética, o
cineasta constrói um suspense que se perde em uma trama confusa demais que só vai
realmente despertar atenção lá no finalzinho, quando tudo se resolve.
O plot segue aquele esquema “quanto
menos você souber sobre o filme, melhor”. James McAvoy interpreta um leiloeiro
metido em um assalto de um quadro de Goya que vale milhões. No meio da
história, temos uma quadrilha comandada pelo feio mais sexy do planeta, Vincent
Cassell, e uma moça gostosa (Rosario Dawson) que lida com hipnotismo. Obviamente,
nada é o que parece ser, mas até o espectador se dar conta disso, haja Zé.
Boyle acerta ao não levar tudo
muito a sério. “Em Transe” já começa sem rodeios e com o pé no acelerador. O
diretor estilhaça a história em um vai e volta sem fim fazendo uso de seu
arsenal visual típico. E tome filtros que deixam a impressão de as imagens terem
saído de um caleidoscópio neon, angulações inusitadas e a quase assinatura visual
do rapaz: uma câmera meio bêbada que cola nas costas do protagonista.
“Em Transe” segue uma estrutura
narrativa bem parecida com o maior sucesso do diretor, “Trainspotting”, ainda
que o propósito seja distinto. Os diálogos conduzem as artimanhas visuais. E
até “a moral da história”, com uma das pessoas metida na confusão passando a
perna em todo mundo, se repete.
A diferença é que, “Em Transe”,
Boyle não está preocupado em representar uma geração por meio de imagens
icônicas e uma trilha sonora perfeita. O foco aqui é apenas a construção de um longa
com uma trama labiríntica que possibilite ao diretor mostrar suas firulas
enquanto estilista visual, usando esses recursos para confundir o espectador em
relação ao que é real e o que é imaginação do protagonista. Muito pouco para
alguém que parecia estar trilhando caminhos mais ousados.
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