quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Cinema: A Família

A Família é dessas típicas produções hollywoodianas que nem fede nem cheira. O filme nunca te surpreende, mas também não é nenhuma tragédia, ainda que seja um tanto decepcionante considerando os nomes envolvidos: Robert De Niro, Michelle Pfeiffer e Tommy Lee Jones. Cada um deles, da sua forma, cria certa expectativa. Mas, pena, o filme mal tira proveito dos três, todos meio que em piloto automático.

Dirigido de forma esquizofrênica por Luc Besson, que nunca se decide entre o tom de comédia de costume, comédia de humor negro ou filme de máfia violentíssimo, “A Família” começa, vai se desenrolando diante dos seus olhos, termina, mas nunca diz a que veio. Ora com cara de um arremedo genérico de produções como “Máfia no Divã”, ora parecendo um filme dirigido por um Guy Ritchie da segunda divisão, o longa é aquele produto que até diverte um pouco quem não for nada exigente, mas nunca realmente chega perto de cumprir o prometido.

Há algumas cenas que se destacam: Robert De Niro em um cineclube assistindo ao clássico “Os Bons Companheiros”; Michelle Pfeiffer colocando fogo em um mercadinho; ou a chegada dos gângsteres na cidade ao som de Gorillaz. Mas é isso, tudo sem grande impacto e perdido em meio a subtramas e mais subtramas desnecessárias: o problema hidráulico da casa, a paixonite que a filha (Dianna Agron) tem pelo professor substituto de matemática (lindo, diga-se de passagem), o livro que o personagem de De Niro está escrevendo. Tudo conectado da forma mais previsível possível em um roteiro qualquer nota que, às vezes, é salvo pela edição e por algumas boas sacadas visuais.

Em tempo, o filme é sobre uma família de mafiosos que dedurou seus chefes e agora pula de cidade em cidade sendo protegidos pelo FBI. Poderia ser um bom thriller, um bom drama, uma boa comédia sobre os quatro se adequando à nova realidade e costumes franceses (os franceses no filme, aliás, são todos o mais puro estereótipo), mas não é nada disso, é apenas mais um longa que vai entrar no catálogo do Netflix e ninguém vai se importar de assistir ou não assistir.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Cinema: Elysium

2013 prometia ser um bom ano para a ficção científica. Aguardados filmes novos de astros como Tom Cruise, Matt Damon e Will Smith. A continuação do reboot de Star Trek.  A nova empreitada geek de Guillermo del Toro. E Alfoson Cuarón reinventando o gênero. Um a um os filmes foram estreando e... decepção.

A nova produção de Tom Cruise, do diretor Joseph Kosinski (que cobriu de neon a continuação do clássico “Tron”), foi o primeiro a estrear e não disse a que veio. A bilheteria de Oblivion foi ok, as críticas idem e o filme logo caiu no esquecimento. O longa protagonizado por Will Smith não teve tanta sorte, e Depois da Terra foi cuspido pela crítica, bombando feio nas bilheterias e afundando de vez a carreira do cineasta M. Night Shyamalan.

Depois, tanto Star Trek, Além da Escuridão como Círculo de Fogo conseguiram alguns elogios, bilheterias razoáveis, mas deixaram a desejar em virtude das expectativas criadas. O primeiro mostrou mais uma vez a competência de JJ Abrams na condução da construção de uma nova mitologia para a celebrada série, mas ficou devendo em empolgação. O segundo era tido com uma tábua de salvação do cinema gigante dos dias de hoje, indústria, arte e conceito de mãos dadas, mas também ficou em cima do muro.

Nesse contexto desolador, o aguardado novo trabalho de Neill Blomkamp (que foi revelado ao mundo no ótimo “Distrito 9”, indicado, inclusive, ao Oscar de melhor filme) estreou e... mais uma decepção. A bilheteria não empolgou e as críticas não perdoaram a falta de ritmo e a profusão de clichês do roteiro.

A história segue a linha pobres x ricos, empregando certo cunho social à produção. De um lado, os pobres (todos com caras de latinos e falando espanhol) vivem em um planeta Terra arrasado e com cara de favelão. Do outro, os ricos (brancos, de olhos claros e falando francês) moram em Elysium, um satélite que habita a órbita da Terra e é livre de mazelas e doenças.

Em meio ao caos e desordem e alguns flashbacks bem clichês, somos apresentados ao personagem de Matt Damon, um ex-condenado que vira herói à força. No meio da história, ainda temos os brasileiros Alice Braga e Wagner Moura, o mexicano Diego Luna, o sul-africano Sharlto Copley e a perdida Jodie Foster, todos com muito pouco a fazer perante a confusão do material.

Apesar da premissa inicial interessante e de algumas cenas de ação bem coreografadas e editadas, Elysium peca por nunca desenvolver a contento suas intenções. Blomkamp aposta em soluções fáceis e entrega uma metade final que vai abandonando as propostas inicialmente levantadas por um corre-corre mais do mesmo. O resultado não chega a ser uma tragédia, mas é bem aquém do nome dos envolvidos.

E a salvação está toda nos ombros de Alfonso Cuarón. Bastante elogiado pela crítica e com uma ótima campanha de marketing, Gravidade chega aos cinemas no início de outubro tentando limpar a barra do gênero ficção científica em um ano que prometia, mas ficou devendo.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Cinema: terror x cinebiografia

Invocação do Mal: Filmes de terror costumam seguir fórmulas bem próprias. Nenhum problema, desde que elas estejam no lugar. Invocação do Mal parte de certa mistura de regras: de um lado, elementos presentes nas típicas produções de casa mal assombrada, de outro, as estratégias de longas sobre exorcismo. O caldo dá certo e o filme é um dos mais tensos em um mar de produções genéricas e sem muito a dizer (“Mama”, "Não tenha medo do escuro" e mais uma penca de outros exemplos).

Dirigido com precisão por James Wan (o cara responsável pelo aquele horror, no mal sentido, que é a série “Jogos Mortais”), o filme se apoia no ótimo desenho sonoro, coisa de suma importância em uma produção do gênero, e na estrutura e recursos narrativos que apostam na verossimilhança, até porque o longa é inspirado em fatos reais. De quebra, ainda temos um ótimo elenco liderado por Patrick Wilson e Vera Farmiga e com uma atuação emocional de Lily Taylor. Pode não ter o peso de um “O Exorcista”, mas tem força suficiente para deixar qualquer um tenso grudado na poltrona do cinema.

Lovelace: É uma pena que um tema tão fértil tenha rendido um filme tão em cima do muro. Não que “Lovelace” seja um longa ruim, mas flertando com temas polêmicos como indústria pornográfica e abuso físico e psicológico, o resultado final está longe de ser um Boogie Nights da vida, por exemplo.

O filme dos cineastas Rob Epstein e Jeffrey Friedman, mais acostumados à linguagem documental, traz um elenco recheado de subestrelas (Eric Roberts, Hank Azaria, Robert Patrick, Chloe Sevigny, James Franco, Adam Brody, Chris Noth, Wes Bentley e por aí vai) para narrar como Linda Boreman se tornou Linda Lovelace, protagonista do pornô de maior bilheteria da história.

A estrutura é até interessante: primeiro acompanhamos o estrelato de Lovelace, para depois voltarmos no tempo e vermos as mesmas cenas em outra perspectiva, mostrando como a atriz sofria com os abusos do marido (interpretado da forma mais maniqueísta possível por Peter Sarsgaard). A mãe (interpretada sem muita força por uma Sharon Stone bastante envelhecida) também desempenha papel importante na vida da atriz, já que, segundo a própria Lovelace, ela foi criada para obedecer ao marido.

Ainda que seja filmado sem muito impacto e desperte pouca empatia no espectador, o filme vale pela atuação carismática de Amanda Seyfried.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Seriado: Bates Motel

Demorei, demorei, mas me rendi e assisti, em ritmo de maratona, a primeira temporada de Bates Motel. A premissa é bem interessante: mostrar a relação entre Norman Bates e sua mãe Norma antes dos acontecimentos do clássico Psicose. Mas de premissas interessantes o inferno está cheio, e "Bates Motel" fica no meio do caminho entre ser uma curiosidade e uma completa bosta.

A série começa com a misteriosa morte do pai de Norman Bates (interpretado de modo correto por Freddie Highmore) para logo em seguida ele e sua mãe se mudarem para uma cidade pequena e comprarem um antigo hotel à beira da estrada. A partir daí, toda a ideia de que a série vai centrar o foco na relação um tanto incestuosa e de dependência entre Norman e sua mãe é deixada de lado para mostrar mortes, assassinatos, conspirações e um monte de subtramas que nunca empolgam.

"Bates Motel" já começa errado ao repetir o velho clichê de que toda cidade pequena é cheia de gente que esconde esqueletos no armário (coisa que David Lynch ou mesmo Jane Campion já fizerem com mais propriedade na clássica “Twin Peaks” e na recente “Top of the Lake”). Sem suspense ou terror, o seriado fica no meio termo entre o drama convencional e uma comédia involuntária. O elenco coadjuvante e a ambientação contemporânea (apesar de ser um prequel de “Psicose”, Bates tem iPhone e as preocupações de um adolescente dos dias de hoje) pouco acrescentam, e a série é salva pela interpretação tragicômica da ótima Vera Farmiga como a superprotetora Norma.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Cinema: Ferrugem e Osso

De gente fudida, o mundo está cheio. No cinema, não é muito diferente, e filmes de gente fudida que cruza a vida de mais gente fudida se transformaram quase em fórmula. A gente assiste a esse tipo de produção sempre em busca de alguma coisa, afinal, é mais fácil achar superação e redenção no cinema do que na vida real.

Na linha “é melhor ser fudido junto que sozinho”, Ferrugem e Osso é desses longas que chegam como uma voadora no peito. Sem muito alívio ou referências, somos apresentados a Alain (Matthias Schoenaerts) e Stéphanie (Marion Cotillard). Ele trabalha como segurança e não faz a menor ideia do que fazer com o filho de cinco anos. Ela é uma treinadora de baleias que perde as pernas e a vontade de viver em um acidente. Ambos têm algo em comum: são quase ímãs de tragédias pessoais. Eventualmente os dois se esbarram e acabam usando um ao outro em uma relação de dependência mútua (tem um nome lindo na biologia pra isso, mas não lembro qual é e nem vou atrás de saber).

Com um plot assim, não dá para esperar um filme feliz de “Ferrugem e Osso”. E Jacques Audiard (“O Profeta”) também não faz muita questão de minimizar a dor dos personagens (e consequentemente do público). O cineasta filma com elegância, usando câmeras lentas e uma fotografia que aposta sempre na luz do sol estourando para tentar tirar alguma beleza do vazio e desespero de seus personagens. Audiard também filma de uma forma que deixa a impressão que alguma merda está sempre prestes a acontecer. E elas acontecem.

Seja pelo ótimo desempenho dos atores ou carinho com que Audiard narra a história dessas duas almas perdidas (as cenas de sexo e luta são filmadas com a mesma intensidade e beleza), “Ferrugem e Osso” evita ser um longa extremamente desesperançoso, ainda que assuma ser pesado. Longe de ter um típico final feliz, o filme termina com uma lição: os fudidos também amam.