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A Família é
dessas típicas produções hollywoodianas que nem fede nem cheira. O filme nunca
te surpreende, mas também não é nenhuma tragédia, ainda que seja um tanto
decepcionante considerando os nomes envolvidos: Robert De Niro, Michelle
Pfeiffer e Tommy Lee Jones. Cada um deles, da sua forma, cria certa
expectativa. Mas, pena, o filme mal tira proveito dos três, todos meio que em
piloto automático.
Dirigido de forma esquizofrênica por Luc Besson, que
nunca se decide entre o tom de comédia de costume, comédia de humor negro ou
filme de máfia violentíssimo, “A Família” começa, vai se desenrolando diante
dos seus olhos, termina, mas nunca diz a que veio. Ora com cara de um arremedo
genérico de produções como “Máfia no Divã”, ora parecendo um filme dirigido por
um Guy Ritchie da segunda divisão, o longa é aquele produto que até diverte um
pouco quem não for nada exigente, mas nunca realmente chega perto de cumprir o
prometido.
Há algumas cenas que se destacam: Robert De Niro em um
cineclube assistindo ao clássico “Os Bons Companheiros”; Michelle Pfeiffer
colocando fogo em um mercadinho; ou a chegada dos gângsteres na cidade ao som
de Gorillaz. Mas é isso, tudo sem grande impacto e perdido em meio a subtramas
e mais subtramas desnecessárias: o problema hidráulico da casa, a paixonite que
a filha (Dianna Agron) tem pelo professor substituto de matemática (lindo,
diga-se de passagem), o livro que o personagem de De Niro está escrevendo. Tudo
conectado da forma mais previsível possível em um roteiro qualquer nota que, às
vezes, é salvo pela edição e por algumas boas sacadas visuais.
Em tempo, o filme é sobre uma família de mafiosos que dedurou
seus chefes e agora pula de cidade em cidade sendo protegidos pelo FBI. Poderia
ser um bom thriller, um bom drama, uma boa comédia sobre os quatro se adequando
à nova realidade e costumes franceses (os franceses no filme, aliás, são todos
o mais puro estereótipo), mas não é nada disso, é apenas mais um longa que vai
entrar no catálogo do Netflix e ninguém vai se importar de assistir ou não
assistir.
2013 prometia ser um bom ano para a ficção científica.
Aguardados filmes novos de astros como Tom Cruise, Matt Damon e Will Smith. A
continuação do reboot de Star Trek. A
nova empreitada geek de Guillermo del Toro. E Alfoson Cuarón reinventando o
gênero. Um a um os filmes foram estreando e... decepção.
A nova produção de Tom Cruise, do diretor Joseph Kosinski
(que cobriu de neon a continuação do clássico “Tron”), foi o primeiro a estrear
e não disse a que veio. A bilheteria de Oblivion foi
ok, as críticas idem e o filme logo caiu no esquecimento. O longa protagonizado
por Will Smith não teve tanta sorte, e Depois da Terra
foi cuspido pela crítica, bombando feio nas bilheterias e afundando de vez a
carreira do cineasta M. Night Shyamalan.
Depois, tanto Star Trek, Além da
Escuridão como Círculo de Fogo
conseguiram alguns elogios, bilheterias razoáveis, mas deixaram a desejar em
virtude das expectativas criadas. O primeiro mostrou mais uma vez a competência
de JJ Abrams na condução da construção de uma nova mitologia para a celebrada série,
mas ficou devendo em empolgação. O segundo era tido com uma tábua de salvação
do cinema gigante dos dias de hoje, indústria, arte e conceito de mãos dadas,
mas também ficou em cima do muro.
Nesse contexto desolador, o aguardado novo trabalho de Neill
Blomkamp (que foi revelado ao mundo no ótimo “Distrito 9”, indicado, inclusive,
ao Oscar de melhor filme) estreou e... mais uma decepção. A bilheteria não
empolgou e as críticas não perdoaram a falta de ritmo e a profusão de clichês
do roteiro.
A história segue a linha pobres x ricos, empregando certo
cunho social à produção. De um lado, os pobres (todos com caras de latinos e
falando espanhol) vivem em um planeta Terra arrasado e com cara de favelão. Do
outro, os ricos (brancos, de olhos claros e falando francês) moram em Elysium,
um satélite que habita a órbita da Terra e é livre de mazelas e doenças.
Em meio ao caos e desordem e alguns flashbacks bem
clichês, somos apresentados ao personagem de Matt Damon, um ex-condenado que
vira herói à força. No meio da história, ainda temos os brasileiros Alice Braga
e Wagner Moura, o mexicano Diego Luna, o sul-africano Sharlto Copley e a
perdida Jodie Foster, todos com muito pouco a fazer perante a confusão do
material.
Apesar da premissa inicial interessante e de algumas
cenas de ação bem coreografadas e editadas, Elysium peca
por nunca desenvolver a contento suas intenções. Blomkamp aposta em soluções
fáceis e entrega uma metade final que vai abandonando as propostas inicialmente
levantadas por um corre-corre mais do mesmo. O resultado não chega a ser uma
tragédia, mas é bem aquém do nome dos envolvidos.
E a salvação está toda nos ombros de Alfonso Cuarón. Bastante
elogiado pela crítica e com uma ótima campanha de marketing, Gravidade chega
aos cinemas no início de outubro tentando limpar a barra do gênero ficção
científica em um ano que prometia, mas ficou devendo.
Invocação do Mal: Filmes de terror costumam seguir
fórmulas bem próprias. Nenhum problema, desde que elas estejam no lugar. Invocação do Mal
parte de certa mistura de regras: de um lado, elementos presentes nas típicas
produções de casa mal assombrada, de outro, as estratégias de longas sobre
exorcismo. O caldo dá certo e o filme é um dos mais tensos em um mar de
produções genéricas e sem muito a dizer (“Mama”, "Não tenha medo do escuro" e mais uma penca de outros exemplos).
Dirigido com precisão por James Wan (o cara responsável
pelo aquele horror, no mal sentido, que é a série “Jogos Mortais”), o filme se
apoia no ótimo desenho sonoro, coisa de suma importância em uma produção do
gênero, e na estrutura e recursos narrativos que apostam na verossimilhança,
até porque o longa é inspirado em fatos reais. De quebra, ainda temos um ótimo
elenco liderado por Patrick Wilson e Vera Farmiga e com uma atuação emocional
de Lily Taylor. Pode não ter o peso de um “O Exorcista”, mas tem força
suficiente para deixar qualquer um tenso grudado na poltrona do cinema.
Lovelace: É uma
pena que um tema tão fértil tenha rendido um filme tão em cima do muro. Não que
“Lovelace” seja um longa ruim, mas flertando com temas polêmicos como indústria
pornográfica e abuso físico e psicológico, o resultado final está longe de ser
um Boogie Nights da vida, por exemplo.
O filme dos cineastas Rob Epstein e Jeffrey Friedman,
mais acostumados à linguagem documental, traz um elenco recheado de subestrelas
(Eric Roberts, Hank Azaria, Robert Patrick, Chloe Sevigny, James Franco, Adam
Brody, Chris Noth, Wes Bentley e por aí vai) para narrar como Linda Boreman se
tornou Linda Lovelace, protagonista do pornô de maior bilheteria da história.
A estrutura é até interessante: primeiro acompanhamos o
estrelato de Lovelace, para depois voltarmos no tempo e vermos as mesmas cenas
em outra perspectiva, mostrando como a atriz sofria com os abusos do marido
(interpretado da forma mais maniqueísta possível por Peter Sarsgaard). A mãe (interpretada
sem muita força por uma Sharon Stone bastante envelhecida) também desempenha
papel importante na vida da atriz, já que, segundo a própria Lovelace, ela foi
criada para obedecer ao marido.
Ainda que seja filmado sem muito impacto e desperte pouca
empatia no espectador, o filme vale pela atuação carismática de Amanda Seyfried.
Demorei, demorei, mas me rendi e assisti, em ritmo de maratona, a primeira
temporada de Bates
Motel. A premissa é bem interessante: mostrar a relação entre Norman Bates
e sua mãe Norma antes dos acontecimentos do clássico Psicose. Mas de
premissas interessantes o inferno está cheio, e "Bates Motel" fica no meio do
caminho entre ser uma curiosidade e uma completa bosta.
A série começa com a misteriosa morte do pai de Norman
Bates (interpretado de modo correto por Freddie Highmore) para logo em seguida
ele e sua mãe se mudarem para uma cidade pequena e comprarem um antigo hotel à
beira da estrada. A partir daí, toda a ideia de que a série vai centrar o foco
na relação um tanto incestuosa e de dependência entre Norman e sua mãe é
deixada de lado para mostrar mortes, assassinatos, conspirações e um monte de
subtramas que nunca empolgam.
"Bates Motel" já começa errado ao repetir o velho clichê de
que toda cidade pequena é cheia de gente que esconde esqueletos no armário
(coisa que David Lynch ou mesmo Jane Campion já fizerem com mais propriedade na
clássica “Twin Peaks” e na recente “Top of the Lake”). Sem suspense ou terror,
o seriado fica no meio termo entre o drama convencional e uma comédia
involuntária. O elenco coadjuvante e a ambientação contemporânea (apesar de ser
um prequel de “Psicose”, Bates tem iPhone e as preocupações de um adolescente
dos dias de hoje) pouco acrescentam, e a série é salva pela interpretação
tragicômica da ótima Vera Farmiga como a superprotetora Norma.
De gente fudida, o mundo está cheio. No cinema, não é
muito diferente, e filmes de gente fudida que cruza a vida de mais gente fudida
se transformaram quase em fórmula. A gente assiste a esse tipo de produção
sempre em busca de alguma coisa, afinal, é mais fácil achar superação e
redenção no cinema do que na vida real.
Na linha “é melhor ser fudido junto que sozinho”, Ferrugem e Osso é desses longas que chegam como
uma voadora no peito. Sem muito alívio ou referências, somos apresentados a
Alain (Matthias Schoenaerts) e Stéphanie (Marion Cotillard). Ele trabalha como
segurança e não faz a menor ideia do que fazer com o filho de cinco anos. Ela é
uma treinadora de baleias que perde as pernas e a vontade de viver em um
acidente. Ambos têm algo em comum: são quase ímãs de tragédias pessoais. Eventualmente
os dois se esbarram e acabam usando um ao outro em uma relação de dependência
mútua (tem um nome lindo na biologia pra isso, mas não lembro qual é e nem vou
atrás de saber).
Com um plot assim, não dá para esperar um filme feliz de
“Ferrugem e Osso”. E Jacques Audiard (“O Profeta”) também não faz muita questão
de minimizar a dor dos personagens (e consequentemente do público). O cineasta
filma com elegância, usando câmeras lentas e uma fotografia que aposta sempre
na luz do sol estourando para tentar tirar alguma beleza do vazio e desespero
de seus personagens. Audiard também filma de uma forma que deixa a impressão
que alguma merda está sempre prestes a acontecer. E elas acontecem.
Seja pelo ótimo desempenho dos atores ou carinho com que
Audiard narra a história dessas duas almas perdidas (as cenas de sexo e luta
são filmadas com a mesma intensidade e beleza), “Ferrugem e Osso” evita ser um longa extremamente desesperançoso, ainda que assuma ser pesado.
Longe de ter um típico final feliz, o filme termina com uma lição: os fudidos
também amam.