Em seu mais novo trabalho atrás e à frente das câmeras, A Vida Secreta de Walter Mitty, Stiller mistura as linguagens do cinema, publicidade e videoclipe e pega emprestado cacoetes do cinema independente e dos blockbusters para criar uma produção mais interessada em causar impacto audiovisualmente do que em termos narrativos. Apesar de belissimamente filmado e trazer várias musiquinhas indies de partir o coração (Stiller desfila um Arcade Fire ali, um David Bowie aqui, um Of Monsters and Men acolá), o roteiro do filme é uma bagunça só.
Na trama (inspirada em um conto já adaptado por Hollywood na década de 1940), Stiller vive Walter Mitty, o típico personagem perdido do cinema independente americano (ele poderia muito bem ser substituído pelo Nicolas Cage em O Sol de Cada Manhã ou pelo Will Ferrell de Mais Estranho que a Ficção). Ele trabalha na revista Life, não tem vida social, está apaixonado por uma colega de trabalho (a sempre simpática Kristen Wiig) e acaba perdendo o negativo que seria a capa da última edição impressa de uma das principais revistas do mundo.
A partir dessa premissa não muito original, Stiller se esmera na fotografia e em criar cenas impactantes para compensar o roteiro esquemático e amarradinho demais. Ao seu lado estão a aura melancólica da produção (ainda que totalmente fabricada), a simpatia do elenco (com direito a participações de Shirley MacLaine e Sean Penn) e um final que presta uma bela homenagem ao universo das revistas impressas.
Pesando contra, a falta de um roteiro mais lapidado para justificar o esmero técnico da película, a pretensão de obra de autoajuda que paira durante toda a projeção do filme e a mistura de comédia romântica insossa com drama edificante que não cola. Mas, mesmo longe de ser a grande obra inspiradora que Stiller pretendia lançar, não há como negar que A Vida Secreta de Walter Mitty é bem bonitinho de se ver e ouvir.
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