O mote da produção é a boa e a velha vingança. Mas não espere nenhum “Kill Bill”, já que Refn está longe de ser um Tarantino. Aliás, um dos problemas de “Só Deus Perdoa” é a falta de humor. Se em “Drive”, o cineasta dinamarquês usava sua cartilha de recursos estilísticos para dialogar com a nostalgia e o cinema de gênero, aqui ele parece pouco se importar com o desenvolvimento da história ou mesmo dos personagens (ainda que a ambientação em Bangkok flerte com o cinema de luta). Em “Só Deus Perdoa”, o estilo parece estar acima de tudo. Até mesmo de Ryan Gosling, que repete o tipo silencioso de “Drive” (sem o mesmo carisma) e passa o longa quase inteiro despercebido, com um ar de atormentado que pouco se justifica.
Outra questão que incomoda é que tudo em “Só Deus Perdoa” parece querer ter um significado. Refn inunda o filme de vermelho, seja de luzes ou de sangue, e cria belas composições que realmente enchem os olhos, mesmo apelando para o grotesco e a violência. Ele aposta também em câmeras que passeiam lentamente pelos cenários ou reforçam a movimentação pausada dos personagens (todos praticamente desfilam em cena e supervalorizam qualquer gesto). Pra quê? Muito provavelmente para dar sentido a coisas e ações banais que nada acrescentam à trama mal amarrada.
O filme ganha algum respiro e inspiração na atuação de Kristin Scott Thomas. Ainda que a interpretação da atriz pareça ser extremamente calculada e combine com a proposta pomposa do longa, é ela que empresta alguma coerência a uma produção apenas interessada em gritar autoralidade. Em um filme sem heróis ou vilões, Nicolas Winding Refn e seu super estilo são os principais responsáveis pelo esvaziamento narrativo de um longa feito apenas para ser belo.
PS: Queria muito ter visto o filme nos cinemas, porque, apesar de ser ruim, a tela grande realmente parece ser a melhor formato para apreciá-lo. O filme, porém, não parece que vai estrear por aqui nunca.
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