O filme começa no início dos anos 1980, quando ser gay, segundo o próprio longa, era sinônimo de sexo fácil, orgias, promiscuidade e liberdade sexual. Até que uma doença desconhecida começou a mudar esse cenário. Gays começaram a apresentar sintomas e morrer, alarmando a comunidade para o chamado “câncer gay”. “The Normal Heart” coloca em foco então um grupo de gays que tenta chamar a atenção das autoridades, na época omissas, à questão. Liderados por Ned Weeks (Mark Ruffalo) e Bruce Niles (Taylor Kitsch), esse grupo se divide entre a liberdade sexual alcançada e o medo de morrer, já que, na época, não se sabia como a doença era transmitida.
O dilema dos personagens é o mesmo da produção, que não esconde sua posição conservadora, assumindo a mesma voz de Ned Weeks, contrário a tal promiscuidade e a favor do celibato e/ou monogamia como forma de proteção. É por meio do olhar do personagem que acompanhamos a jornada dessas pessoas e a trajetória de uma doença que virou praga mundial. Mas o filme, claro, está menos preocupado em ser um retrato histórico e mais interessado no drama do personagem central, que se divide entre fazer, aos berros, a AIDS ser reconhecida pelo governo e cuidar do seu parceiro doente (Matt Bomer).
Dirigido por Ryan Murphy, que não fez sua fama baseado na sutileza (vide “Glee”, “American Horror Story” e seus irregulares trabalhos para o cinema: “Correndo com Tesouras” e “Comer, Rezar, Amar”), “The Normal Heart” é um grande anticlímax em forma de filme. As cenas são mal costuradas, a narrativa truncada não se desenvolve, e os personagens são mal escritos, não dando muito espaço aos atores: Julia Roberts tem uma grande cena; Taylor Kistch e Jim Parsons tem muito pouco a fazer.
Mas Mark Ruffalo é o pior em cena. Ele pode até ganhar todos os prêmios de televisão daqui pra frente, mas o ator constrói um personagem chato, raso e sem um pingo de carisma, quase uma bicha louca que passa o filme inteiro com raiva e gritando.
O discurso panfletário do filme não ajuda. As frases são clichês, e os atores ficam muitas vezes engessados pelo formato teatral da peça que originou o longa. O resultado beira o constrangedor, desperdiçando uma grande história em uma produção que não causa impacto ou desperta emoção no espectador (com exceção de uma cena aqui outra ali). Muita pouco para uma produção tão cheia de pretensões.
PS: Sobre a descoberta da AIDS e a sua repercussão, outro telefilme bem mais interessante é o pouco visto E a Vida Continua. Fica a dica.