Para mim, Lost in Translation, Eternal Sunshine of the
Spotless Mind e Her formam uma bela trilogia. São filmes diferentes, com
diretores e atores diferentes e assinaturas visuais distintas, mas que
funcionam muito bem em conjunto quando assistidos um atrás do outro. Os três
filmes têm em comum casais bem diversos entre si que sofrem ao som de uma
trilha sonora indie e se dividem entre desejo e realidade. Os três longas são
quase como uma trilogia indie para corações solitários, cada qual trazendo um
olhar melancólico sobre o amor e suas consequências em jovens adultos perdidos
na vida.
Eternal Sunshine in
the Spotless Mind segue
um caminho distinto, ainda que faça uso da melancolia como estratégia.
Clementine e Joel se conheceram, se amaram, se odiaram e esqueceram um ao
outro, não como um processo natural da vida, mas porque ambos passaram por um
procedimento que deleta da memória as lembranças indesejadas. Indo e voltando
no tempo em um roteiro genial todo amarradinho de Charlie Kaufman, o filme de Michel
Gondry é uma delícia de destruir corações. Amparados por atuações camaradas
de Jim Carrey e Kate Winslet, o longa explora aquele desejo não tão secreto assim
de esquecer completamente as pessoas e as coisas que nos magoaram. Mas, ao
mesmo tempo em que abraça essa premissa, o roteiro nos mostra que a dor vem
justamente porque antes existiram bons e grandes momentos que merecem ser guardados.
A direção típica de Gondry, dono de uma assinatura visual bem peculiar,
envelheceu um pouco com as repetições estéticas do cineasta em outros filmes e
videoclipes, mas a força da história permanece.
Her, de Spike Jonze, fecha a trilogia apostando no caminho do meio termo. O olhar de Jonze não deixa a poesia se sobrepor à dramaticidade como no trabalho de (sua ex-mulher) Sofia Coppola, mas também não se prende tanto ao roteiro como na produção de Gondry. Passeando entre a beleza de suas imagens e direção de arte e a força da palavra, Jonze retrata uma relação além do conceito de normal para discutir várias questões pertinentes ao nosso comportamento nos dias de hoje. Theodore (interpretado lindamente por Joaquim Phoenix) é um moço que ainda sofre com a separação da ex-mulher (Rooney Mara) e que se pega em um relacionamento com seu novo sistema operacional (mais uma Scarlett Johansson, aqui apenas em voz deliciosamente sedutora). Os tons pastéis na fotografia e nos figurinos e a trilha sonora melancólica, cortesia de parte do Arcade Fire, embalam muito bem a proposta de Jonze em construir uma produção agridoce que vai muito além do rótulo de comédia romântica.
Os três filmes, na verdade, trabalham muito bem nessa chave que mistura elementos da comédia romântica (garoto encontra garota) com muitas pitadas de drama para discutir amor, relacionamento, possibilidades, memória, desejo, expectativas e por aí vai. O melhor: ambos são melancólicos, mas terminam cheios de esperança.
PS: os três filmes levaram para casa o Oscar de melhor roteiro original, ou seja...
Nenhum comentário:
Postar um comentário