Seguindo a lógica das listas pop, no qual escolhemos os melhores filmes, músicas, videoclipes e tudo o mais que merece ser “rankiado”, 2011 não entraria na minha lista de melhores anos. Foi estranho e não vai deixar saudade. Tempos de desemprego não ajudam quando eu me lembro desses 12 meses que passaram voando e não deixaram muitas marcas. Aliás, até deixaram, mas marcas não muito boas. Em algum momento, o emprego chegou, mas muita coisa ainda não...
Então quando olho para trás, vejo um 2011 de muito sexo causal e quase nenhum envolvimento, algo que adio, sem muita esperança, é verdade, para 2012. Foi um ano de perder tempo com gente que, definitivamente, não merece meu tempo. Foi um ano de quebrar a cara nas poucas vezes que me senti empolgado por algo ou alguém. “É a vida”, dirão alguns. “Que bosta então”, digo eu!
Se a vida real não foi lá essas coisas, o mundo pop também deixou a desejar. 2011 foi um ano de muitas séries, mas pouquíssimos filmes. Nunca deixei tanto de ver filmes, trocando os mesmos por seriados, músicas, sono ou sexo fácil. Agora, em pleno dezembro, poucos parecem ter ficado na minha memória. Kirsten Dunst deprimida e o mundo se acabando em Melancolia é o filme que, talvez, mais tenha chamado minha atenção. Um Woody Allen ali, um Pedro Almodóvar acolá, um Terrence Malick sonolento aqui e o ano cinematográfico chega ao fim com um saldo bem negativo.
Pensando ao meu favor, devo dizer que, por mais que eu ame cinema, não tenho mais idade, vontade, nem paciência para perder tempo saindo de casa para assistir a “Transformers 3”, “Velozes e Furiosos 5”, “LanternaVerde” ou mais uma penca de blockbusters barulhentos e sem graça. Simplesmente não mereço isso e tenho mais o que fazer da minha vida. Então fiquei cinematograficamente seletivo e só vejo filme ruim no cinema se ele tiver algum atrativo (tipo a presença da Michelle Pfeiffer, como na hecatombe fílmica “Noite de Ano Novo”).
Se poucos filmes eu vi, muitas séries eu vivi. Nunca fui de acompanhar regularmente seriados. Quando os vi, assistia esporadicamente na televisão ou em forma de maratona em DVD, depois que o seriado já tinha acabado. Mas em 2011, surtei e abracei as narrativas seriadas enlatadas e norte-americanas sem medo de ser feliz. Dexter, True Blood, The Walking Dead, Hung e Glee são remanescentes de anos anteriores.
O resto foi novidade. Conheci e, logo em seguida, me despedi de Tara, a melhor mãe de família com múltipla personalidade da televisão (United States of Tara). No lugar de Tara, entrou Amy, a louca, chata, ridícula e perdida da ótima Enlightened. Comecei a ver Game of Thrones sem muita empolgação e sem entender muito o que se passava na minha frente. Cabeças de cavalo cortadas e tramas palacianas de lado, só me deixei levar pelo seriado quando dragões apareceram no episódio final, me deixando com certa vontade de acompanhar a segunda temporada que estreia em 2012. Já a histeria de American Horror Story me conquistou logo de cara (o corpo em cima e sempre à mostra de Dylan McDermott ajudou, devo admitir!).
Entre os poucos filmes e as muitas séries, ouvi muita música e fui a alguns shows. De novidades musicais na minha vida, destacaria o The XX, The National, Cut Copy, Future Islands e acho que só. Preguiça cada vez maior de me dedicar a coisas novas. Deve ser coisa da idade.
De shows, não fui a muitos, mas me comovi vendo a beleza do The National ao vivo e me decepcionei com a frieza do Ladytron. O show do U2 foi grandiosidade e tecnologia pura, de cair o queixo, mas sou mais intimista, então fiquei mais impressionado com a delicadeza do The Kings of Convenience ao vivo. A apresentação do Primal Scream foi histórica, é verdade, mas ver dois shows do Interpol no mesmo final de semana não tem preço (até tem, bem caro, diga-se de passagem!) e ninguém supera. Nesse meio tempo, ainda teve Strokes, Goldfrapp e Guillemots.
2011 entra para minha história como um ano bem pouco memorável (ou não, talvez eu esteja exagerando e o distanciamento me faça perceber que ele foi um ano ok). Dizer que foram poucas emoções seria minimizar bons momentos de amigos que vieram de longe, por exemplo, de alguns filmes que me fizeram rir ou chorar, de músicas que me fizeram acreditar ou simplesmente dançar. Mas o ano termina com aquela sensação de que muita coisa não aconteceu e vai ficar para depois. Mas acho que isso deve ser normal. Ou não?
Então que venha 2012, com mais séries e filmes, mais músicas e shows, menos sexo casual e mais envolvimento. Menos nostalgia e melancolia e mais vontade. Mais diversão e menos tempo ocioso. Um trabalho mais promissor e horas de sono mais bem dormidas. Mais vivência e menos ilusões. Que esse 2012 chegue logo, com expectativas na medida certa! Se não acontecer, tudo bem. Sempre podemos esperar 2013, 2014...
domingo, 25 de dezembro de 2011
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
Cinema: Noite de Ano Novo
O novo filme de Garry Marshall ("Noite de Ano Novo") está para o cinema assim como a bomba atômica está para Hiroshima e Nagasaki. Seguindo a mesma lógica fajuta de Idas e Vindas do Amor, no qual um grupo enorme de astros e estrelas se reúne em volta de uma série de histórias sem graça sobre um feriado específico, no primeiro caso o Dia dos Namorados, aqui, o Réveillon, o filme do diretor de “Uma Linda Mulher” é um desperdício de celulóide do começo ao fim.
Se os personagens e o desenrolar das tramas não funcionam, não resta muito que dizer da direção patética de Marshall ou da edição que não sabe amarrar as tramas ou mesmo dar um respiro entre um acontecimento e outro. É tudo jogado sem critério e dá pena ver Michelle Pfeiffer, Hilary Swank, Halle Berry, Robert De Niro, Sarah Jessica Parker e outros tantos desperdiçando tempo e talento com uma bobagem desse quilate.
Há tempos que queria ver um filme ruim no cinema. Deixei passar vários por pura preguiça, mas saciei minha vontade com “Noite de Ano Novo”. Só não recomendo. O filme é realmente ruim e nada se salva.
É incrível como tantos atores e atrizes conhecidos (alguns até realmente bons) tenham embarcado em um longa tão genérico e sem graça. As mil e uma trama são o mais puro clichê e nenhuma, nenhumazinha mesmo, desperta o menor interesse do público. Seja pela falta de tempo para desenvolver os plots ou mesmo a total falta de carisma dos personagens, Noite de Ano Novo é uma colcha de retalho de clichês que mais parece um episódio longo e mal feito de um seriado ruim.
Todas as histórias, claro, giram em torno de arrependimentos, conciliações ou expectativas futuras.Tudo seguindo a cartilha careta e piegas que rege a lógica da virada do ano, quando todo mundo fica mais sensível e finge reavaliar a vida para, no dia seguinte, esquecer tudo e voltar à rotina besta de sempre. Chega a ser um acinte à inteligência ver tantos clichês reunidos sem o menor critério.Se os personagens e o desenrolar das tramas não funcionam, não resta muito que dizer da direção patética de Marshall ou da edição que não sabe amarrar as tramas ou mesmo dar um respiro entre um acontecimento e outro. É tudo jogado sem critério e dá pena ver Michelle Pfeiffer, Hilary Swank, Halle Berry, Robert De Niro, Sarah Jessica Parker e outros tantos desperdiçando tempo e talento com uma bobagem desse quilate.
Há tempos que queria ver um filme ruim no cinema. Deixei passar vários por pura preguiça, mas saciei minha vontade com “Noite de Ano Novo”. Só não recomendo. O filme é realmente ruim e nada se salva.
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Série: American Horror Story
O horror, o horror! Enquanto o cinema de terror se perde com filmes cada vez mais genéricos (“Não tenha medo do escuro”) ou franquias que são a mais pura derrota (alguém ainda se importa com “Jogos Mortais”, “Premonição” ou “Atividade Paranormal”?), a televisão tem investido cada vez mais no gênero. Os vampiros, lobisomens, fadas e outras tantas criaturas de “True Blood” podem não necessariamente assustar, mas os zumbis de “The Walking Dead” deram um sopro de sobrevida a um gênero meio esquecido na telinha. Agora eles (os zumbis mais pop dos últimos tempos) ganham companhia com American Horror Story - ainda temos uma tal de “Grimm”, que nunca vi, mas verei um dia -, uma das melhores novas séries da temporada.
A trama não poderia ser mais óbvia: família acha que vai resolver todos os seus problemas ao se mudar para uma nova casa, uma mansão que, claro, é mal assombrada. Se a criatividade passa longe da premissa da série, a realização deixa de lado toda a obviedade do plot e aposta em histeria, personagens excêntricos, enquadramentos de câmera inusitados, edição de primeira e trilha sonora inspirada (das músicas pop ao reaproveitamento da trilha musical de “Drácula de Bram Stoker”). É um exemplo do que a televisão norte-americana consegue fazer atualmente, misturando sustos, temas polêmicos, sexo, mortes e muito sangue sem o menor pudor.
Criada por Ryan Murphy e Brad Falchuk (“Glee” e “Nip/Tuck”), a série tem dividido opiniões. Alguns acham tudo um absurdo sem sentido e que apela para o mau gosto. Outros embarcam sem medo na trama que vai e volta no tempo para mostrar a história de assassinatos que marca o passado da mansão e, agora, assombra a família Harmon (o pai Dylan McDermott, a mãe Connie Britton e a filha adolescente Taissa Farmiga). Homens com roupas de borracha, enfermeiras assassinadas, abortos, um cosplay de Duas Caras, uma vizinha louca (Jessica Lange no auge da caricatura), um adolescente responsável por um massacre em massa no colégio, uma governanta um tanto estranha e muitas e muitas aberrações se misturam e deixam o espectador confuso sobre quem está vivo ou morto, o que é real ou pura alucinação.
A cada novo episódio, os mistérios vão sendo resolvidos e a série ganha um tom mais histérico e que deixa tudo ainda mais divertido e envolvente. Com a primeira temporada de 12 episódios chegando ao fim e recheada de gente boa no elenco (Frances Conroy, Denis O´Hare, Kate Mara, Zachary Quinto e outros tantos), American Horror Story não tem a mesma seriedade de “The Walking Dead” ou o mesmo deboche de “True Blood”, mas caminha muito bem pela trilha do meio termo. Eu virei fã.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
Cinema: Um romance bom, um romance ruim
Romances são uma constante na tela grande. Às vezes eles vêm embalados como comédias, outras como dramas, muitas vezes são diluídos em filmes de gênero como coadjuvantes de tramas de ação, espionagem ou terror. Vez ou outra os romances comovem. Muitas vezes não dizem nada e passam batido. Mas não dá para negar que romances, com finais felizes ou trágicos, são essenciais ao mundo do cinema, sejam os que arrebatam, sejam aqueles inexplicáveis. Vi recentemente dois exemplares desse “macro gênero” presente no cinema, literatura, música pop, televisão etc. Dois filmes que não poderiam ser mais diferentes entre si, mesmo partindo do mesmo princípio: duas pessoas que se encontram, apaixonam-se e têm as vidas transformadas.
Inquietos adota um tom pastel, seja na fotografia, seja na encenação. É um romance que foge da dramaticidade exacerbada. No filme de Gus Van Sant, garoto com problemas encontra garota com câncer. A identificação entre ambos é imediata, mas o relacionamento tem prazo de validade. Nas mãos de outro diretor, o filme poderia ser um melodrama lacrimoso, cheio de momentos dramáticos e atuações em tom maior. Mas Van Sant prefere adotar outro registro. O filme é pausado e a impressão que fica é que a câmera lenta prevalece. Nada parece realmente acontecer, ainda que aconteça.
Para aqueles que desconhecem a obra do diretor, esse modo de filmar um tanto frio e impessoal pode parecer estranho e causar certo incômodo, principalmente graças à temática que pede drama, gritos e lágrimas. Mas quem já viu filmes como “Elefante” e “Os Últimos Dias” consegue ver certa beleza nas imagens-clichê que desfilam pela tela. Ajuda o fato da química entre o belo Henry Fonda e a feia Mia Wasikowska funcionar e casar com a proposta da produção. O tédio e os gestos blasés dos dois combinam com a aura estabelecida por Van Sant, que lança um olhar delicado sob o encontro entre dois jovens que não têm muito futuro pela frente. Existe poesia na tristeza, e Van Sant sabe retratar isso como poucos.
Um dia segue caminho totalmente oposto. Adaptado do livro homônimo de David Nicholls, um descompromissado exemplar de literatura pop com uma premissa interessante e narrativa envolvente, o filme de Lone Scherfig pega tudo que funciona no papel e desperdiça na tela grande (o mais surpreendente é que a adaptação do roteiro para o cinema foi feita pelo próprio autor do livro).Anne Hathaway e Jim Sturgess formam o casal sem sal desse típico exemplo de como o cinema pode destruir uma ideia interessante (sim, eu sei que literatura é literatura e cinema é cinema, mas a merda aqui é grande!). A proposta é apresentar o relacionamento entre dois amigos ao longo de 20 anos, sempre no mesmo dia: 15 de julho. O resultado é química zero entre Hathaway (péssima) e Sturgess (esforçado); um roteiro cheio de clichês e frases de efeito que não funcionam; e uma narrativa emperrada e que transforma a premissa do livro em uma aberração audiovisual.
Responsabilizar somente Hathaway e Sturgess pelo equívoco do longa seria fácil. Nicholls tem parte da culpa por não saber dar vida no cinema ao que ele mesmo escreveu. A estrutura do filme é esquemática (a do livro também é, mas a mídia é outra), e todos os diálogos, ironia e referências pop do livro são assassinados graças a uma montagem primária e infeliz que transforma as cenas em meros esquetes sem ligação. A direção qualquer coisa de Lone Scherfig é outro pecado capital do filme. Responsável pelo genérico “Educação” (filme elogiadíssimo e que chegou a ser indicado ao Oscar, mas que só será lembrado no futuro graças à atuação de Carey Mulligan), a diretora não sabe o que fazer com o material que tem em mãos e escolhe o caminho mais fácil: o do melodrama barato e machista (é a mulher que sofre, é a mulher que abre mão, é a mulher que é punida).
Comparar “Inquietos” com “Um Dia” chega a ser injusto. Enquanto o primeiro toca, mesmo adotando um registro monocromático abaixo do tom, o segundo apela para todas as artimanhas melodramáticas e não consegue causar nenhuma empatia. O primeiro usa os figurinos e a fotografia para emoldurar um romance quase glacial entre dois jovens que vivem em realidades paralelas. O segundo usa a premissa do “o mesmo dia ao longo de 20 anos” como mera desculpa para colocar os atores em trajes e penteados constrangedores que não acrescentam em nada à narrativa. Em comum, os dois filmes terminam tragicamente, ainda que representem a tristeza de formas diferentes. O primeiro é um registro lírico de como um simples encontro pode nos afetar. O outro mostra a mesma coisa apelando para o piegas. O talento presente no primeiro é o talento desperdiçado no segundo.
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
Série: Enlightened
Já disse aqui antes que a televisão estadunidense hoje em dia é bem mais interessante, tematicamente falando, do que o cinema hollywoodiano. Enquanto este está cada vez mais preocupado com fórmulas, bilheterias e certo apaziguamento ideológico do público, os produtos televisivos seguem um caminho diverso, apostando em temas ousados e abordagens inusitadas.
É o paradoxo da personagem e o carisma da atriz para dar autenticidade a esses contrastes a grande sacada de "Enlightened". O melhor é que a série se sustenta mesmo parecendo ser apenas um veículo, com toques de auto-ajuda, para a atriz brilhar. Ela brilha, sim, mas a série também.
A nova série Enlightened é um exemplo dessa safra de filmes e seriados televisivos com personalidade e algo a dizer e que foge da padronização cinematográfica. Esqueça as continuações caça-níqueis, os filmes explosivos ou os triângulos amorosos sem sal entre vampiros celibatários, garotinhas inexpressivas e lobisomens depilados que pululam na tela grande. Aqui, temos humor inteligente, personagens perdidos e uma crítica contundente ao american way of life, algo que o cinema e a própria televisão já fizeram inúmeras vezes, mas é sempre bem-vindo quando feito com talento.
A primeira cena é emblemática e resume a proposta do seriado: Laura Dern é uma executiva que chora descompensadamente no banheiro da empresa. Ela acaba de ser transferida de setor e julga ser seu chefe, com quem teve um pequeno affair, o culpado de tudo. À beira de um ataque de nervos, Amy (Dern) decide colocar tudo em prantos limpos, em alto e bom som para toda a empresa ouvir, com o chefe. Corta e, em poucos segundos, somos apresentados a uma nova Amy, que tenta ser uma pessoa melhor e mais preocupada com o mundo e próximo.Em linhas gerais, o seriado é sobre esse processo de transformação da personagem, que tenta se apegar a uma mudança espiritual e de percepção do mundo para dar um rumo a sua vida. A relação com a mãe (Diane Ladd, mãe da atriz na vida real) e o ex (Luke Wilson) é conturbada. Ela não tem amigos no trabalho. E as frustrações profissionais são maiores do que ela pode aguentar. É a partir dessa personagem tragicômica que o plot da série se desenvolve e solta farpas sobre o mundo corporativo e a fragilidade das relações no mundo moderno.
Enlightened conquista pela honestidade com a que personagem é desenvolvida e as situações, retratadas. Depois de, supostamente, recuperada, Amy volta ao trabalho e é transferida para um setor cheio de losers dignos do universo de Todd Solondz (“Felicidade”). Perdida nessa nova fase da vida, a executiva fica presa em uma constante linha tênue entre o equilíbrio e o desespero.
Grande parte do fato da série ser narrativamente bem sucedida recai sob a atuação de Laura Dern (também criadora da série, em parceria com Mike White). A atriz não tem medo do ridículo e se entrega em devoção a um personagem que passeia pelo cômico, o dramático e o patético. O início e o final do terceiro episódio sintetizam o espírito da série. Amy narra em off a inveja que ela tem de algumas pessoas, felizes, bem-sucedidas e amadas, e se sente menor. Logo depois, se compara aos colegas do novo setor, estranhos, deslocados, feios, e, de certa fora, se sente aliviada. É o paradoxo da personagem e o carisma da atriz para dar autenticidade a esses contrastes a grande sacada de "Enlightened". O melhor é que a série se sustenta mesmo parecendo ser apenas um veículo, com toques de auto-ajuda, para a atriz brilhar. Ela brilha, sim, mas a série também.
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
Apenas uma Noite
Assisti ao drama Apenas uma Noite em uma sessão bastante conturbada na Mostra Internacional de Cinema desse ano. O filme começou sem som e sem legendas. Interromperam tudo para ajeitar o som e achar as legendas, que nunca foram encontradas. O filme volta mesmo sem legendas, mas não do ponto que tinha parado. Nova interrupção para achar o ponto correto. A paciência de qualquer um vai para o espaço, claro. Diante de tantas circunstâncias, é óbvio que a apreciação do filme fica prejudicada.
A miscelânea de sotaques do elenco também não ajuda: Keira Knightley é a típica britânica com voz empostada; Sam Worthington fala para dentro em um ininteligível sotaque australiano; Eva Mendes também meio que fala para dentro; e o francês Guillaume Canet é quem melhor se faz entender. Fica difícil acompanhar tudo sem legenda, mas tento e me saio até que bem. Ainda assim, ou mesmo, talvez, por conta disso, cheguei ao final da sessão querendo dar outra chance ao longa.
E foi o que eu fiz. Coisa cada vez mais rara hoje em dia, revi o filme graças ao deus torrent. E, para minha surpresa, o filme da estreante Massy Tadjedin cresceu, e muito, na minha avaliação. Knightley e Worthington formam um casal lindo, rico e bem sucedido que mora em Nova York.
Depois de uma discussão banal por conta dos ciúmes dela em relação a um suposto desejo dele por uma colega de trabalho (Mendes), os dois se reconciliam e ele viaja a trabalho. Enquanto na Filadélfia, ele tem que lidar com a atração pela colega de trabalho, que não hesita em dar em cima do rapaz; em Nova York, ela reencontra uma antiga paixão (Canet).
Com uma trama com poucos personagens e muitos diálogos, a direção de Tadjedin evita que o filme vire uma produção com limitações teatrais ou mesmo verborrágica demais. Com um olhar elegante, aliada a uma edição competente que transita muito bem entre as relações estabelecidas à distância entre o marido e a esposa, a diretora constrói um belo filme que evita o piegas e as respostas fáceis.
Ainda que, de certa forma, reproduza os clichês do que se espera do comportamento masculino e feminino em relação ao desejo extraconjugal, “Apenas uma Noite” se sobressai como um drama maduro, com certo toque europeu sobre as relações. A fotografia minimalista, a trilha sonora precisa de Clint Mansell (que vai na contramão do que o rapaz fez em produções como “Réquiem para um Sonho” e “Cisne Negro”) e o charme do elenco fazem o resto.
Longe de ser um drama fácil ou mesmo pesado sobre relacionamentos, Apenas uma Noite é um filme melancólico que versa sobre escolhas e como elas muitas vezes afetam, para o bem e para o mal, o outro. É um filme maduro, sem grandes cenas dramáticas, mas cheio de olhares e coisas não ditas.
Para os acostumados à exacerbação do drama, o longa pode parecer frio e metido à intelectual, e talvez até seja graças à suntuosidade da encenação (com direito a lofts espaçosos e conversas sobre viagens a Europa). Mas não dá para negar que Tadjedin e os atores fazem com que tudo soe verdadeiro.
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Cinema nacional: Os 3
O cinema nacional tem muitos problemas. Talvez problemas até demais, sendo impossível citá-los todos em apenas um texto de um blog que ninguém lê. Um problema evidente é o fato de ele ser tematicamente limitado, dificilmente saindo dos formatos que ele mesmo impôs para si: a comédia genérica, hoje relegada às produções paupérrimas da Globo Filmes; as produções que abordam o tema da violência social por meio de um viés sociológico cansativo e chato; e o filme do sertão, quase uma versão nacional do faroeste, o gênero estadunidense por excelência.
Raros são os exemplares que fogem desse caldeirão limitante de óticas, e os poucos que conseguem se libertar dessas limitações ou caem na vala sem fim dos filmes de autor que ninguém vê/suporta ou simplesmente não encontram seu público. O principal mérito de Os 3, talvez seja, justamente, buscar um caminho diferente, ainda que não represente nada de novo, cinematograficamente falando.
O filme de Nando Olival é quase uma versão nacional do bacaninha Três Formas de Amar, que fez relativo sucesso no início dos anos 90 ao mostrar um triângulo amoroso limpinho e quase assexuado entre três amigos: uma garota e dois rapazes. Tire a trilha sonora pop do filme hollywoodiano, acrescente um sotaque paulista e uma suposta crítica aos reality shows e temos o longa (nem tão longo assim) brasileiro.
Muito se fala sobre a falta de bons roteiristas no cinema nacional, mas é também evidente a carência de bons diretores, profissionais daquele tipo que não necessariamente precisam ser autores, mas sabem conduzir cenas e filmar de modo articulado e que beneficia a narrativa. “Os 3”, para a sorte do espectador, não sofre desse defeito e grande parte do seu charme reside na desenvoltura fílmica de Olival, que sabe onde colocar a câmera, monta com precisão e dá uma cara moderna ao longa sem, necessariamente, transformá-lo em uma experiência estética estonteante e oca.
O carisma dos três atores principais também ajuda, compensando até alguns defeitos evidentes da produção. Seja a falta de uma propósito para a questão dos reality shows, que funciona como mote, mas parece ser jogada apenas para dar estofo a uma história que é apenas banal. Seja a ausência de autenticidade na interpretação dos atores mais velhos e de um desfecho mais marcante e amarrado. Ou mesmo uma narração em off que colocaria tudo a perder se fosse mais utilizada. Todas essas falhas são meio que deixadas de lado graças à simpatia que o filme emana.
No final da história, “Os 3” é aquele típico filme médio que tanto faz falta ao cinema nacional. As pretensões são pequenas e não se colocam à frente da trama. O resultado não vai mudar sua vida, mas é satisfatório e um prazer de ser visto. O filme pode até ser considerado uma bobagenzinha, mas é filmado com tanto empenho e boas intenções que é quase impossível sair do cinema indiferente a ele, mesmo que depois ele não deixe muitas marcas na memória.
Raros são os exemplares que fogem desse caldeirão limitante de óticas, e os poucos que conseguem se libertar dessas limitações ou caem na vala sem fim dos filmes de autor que ninguém vê/suporta ou simplesmente não encontram seu público. O principal mérito de Os 3, talvez seja, justamente, buscar um caminho diferente, ainda que não represente nada de novo, cinematograficamente falando.
O filme de Nando Olival é quase uma versão nacional do bacaninha Três Formas de Amar, que fez relativo sucesso no início dos anos 90 ao mostrar um triângulo amoroso limpinho e quase assexuado entre três amigos: uma garota e dois rapazes. Tire a trilha sonora pop do filme hollywoodiano, acrescente um sotaque paulista e uma suposta crítica aos reality shows e temos o longa (nem tão longo assim) brasileiro.
Muito se fala sobre a falta de bons roteiristas no cinema nacional, mas é também evidente a carência de bons diretores, profissionais daquele tipo que não necessariamente precisam ser autores, mas sabem conduzir cenas e filmar de modo articulado e que beneficia a narrativa. “Os 3”, para a sorte do espectador, não sofre desse defeito e grande parte do seu charme reside na desenvoltura fílmica de Olival, que sabe onde colocar a câmera, monta com precisão e dá uma cara moderna ao longa sem, necessariamente, transformá-lo em uma experiência estética estonteante e oca.
O carisma dos três atores principais também ajuda, compensando até alguns defeitos evidentes da produção. Seja a falta de uma propósito para a questão dos reality shows, que funciona como mote, mas parece ser jogada apenas para dar estofo a uma história que é apenas banal. Seja a ausência de autenticidade na interpretação dos atores mais velhos e de um desfecho mais marcante e amarrado. Ou mesmo uma narração em off que colocaria tudo a perder se fosse mais utilizada. Todas essas falhas são meio que deixadas de lado graças à simpatia que o filme emana.
No final da história, “Os 3” é aquele típico filme médio que tanto faz falta ao cinema nacional. As pretensões são pequenas e não se colocam à frente da trama. O resultado não vai mudar sua vida, mas é satisfatório e um prazer de ser visto. O filme pode até ser considerado uma bobagenzinha, mas é filmado com tanto empenho e boas intenções que é quase impossível sair do cinema indiferente a ele, mesmo que depois ele não deixe muitas marcas na memória.
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
A Pele que Habito
Filmes de Pedro Almodóvar são quase seres sagrados. Fazem parte daqueles poucos títulos que são obrigatórios e sempre geram controvérsia, para o bem e para o mal. Nesse sentido, por mais diferentes que sejam, Almodóvar não deixa de lembrar o cineasta nova-iorquino Woody Allen. Os dois são amados e odiados em proporções similares e, a cada nova obra, geram uma expectativa nem sempre cumprida. Almodóvar pode não filmar (e errar) tanto quanto Allen, que lança um filme praticamente todo ano, mas é tão amado, desejado, odiado e rejeitado quanto.
A Pele que Habito é, então, um prato cheio para gerar controvérsias, amores, ódios, raivas e paixões. É um filme que, aparentemente, foge um pouco ao que o cineasta espanhol vem fazendo nos últimos trabalhos, mas que nem por isso deixa de ser uma obra almodovariana em sua essência. As cores fortes e os sentimentos exacerbados podem não estar tão visíveis a primeira vista, mas a mistura do bizarro e do melancólico se faz presente de um modo que só encontramos na filmografia do diretor.
O novo filme de Almodóvar começa sem muita força, apresentando sua trama de forma aleatória em sem impacto. Somos apresentados a um cirurgião plástico (um Antonio Bandeiras um tanto gélido demais) que mantém em cativeiro uma mulher. A relação entre os dois não é amigável, mas não é hostil. E assim também é a relação do espectador com o filme. Se o início do longa não mostra a que veio, sempre resta a esperança por aquela ser uma obra de Almodóvar, então os rumos podem mudar.
E eles mudam. A partir da segunda metade da película, a trama antes dispersa e sem força vai ganhando sentidos e prendendo a atenção do público, envolto entre mortes, seqüestros, estupros e outras coisas comuns ao universo almodovariano. “A Pele que Habito” vai ganhando assim novas leituras, e o bizarro e o melancólico começam a se mesclar de um modo que não deixa o espectador tomar fôlego.
A tal reviravolta do filme pode não ser nenhum grande mistério. E mesmo a frieza e a falta de empatia que sentimos pelos personagens podem dar a entender que Almodóvar erra a mão ao tentar retomar um terreno que ficou no seu passado fílmico. Mas o cineasta é um grande esteta audiovisual e sabe contar histórias por meio de imagens e sons, o que torna até seus possíveis erros como produtos relevantes em alguns aspectos.
Ainda longe da forma que o consagrou em produções como “Mulheres a Beira de um Ataque de Nervos”, “Carne Trêmula”, “Tudo sobre Minha Mãe” e “Fale com Ela”, “A Pele que Habito” é bem superior a filmes mais problemáticos como “Má Educação” e “Abraços Partidos”. Mesmo sem cenas memoráveis e mais impactantes, visualmente ou emocionalmente, “A Pele que Habito” é um belo exercício de cinema, seja como um filme de horror sem gritos e sustos, como desejava o diretor, seja como um melodrama em um tom menor. Uma versão de Frankenstein dirigida pelo espanhol não seria melhor que “A Pele que Habito”.
A Pele que Habito é, então, um prato cheio para gerar controvérsias, amores, ódios, raivas e paixões. É um filme que, aparentemente, foge um pouco ao que o cineasta espanhol vem fazendo nos últimos trabalhos, mas que nem por isso deixa de ser uma obra almodovariana em sua essência. As cores fortes e os sentimentos exacerbados podem não estar tão visíveis a primeira vista, mas a mistura do bizarro e do melancólico se faz presente de um modo que só encontramos na filmografia do diretor.
O novo filme de Almodóvar começa sem muita força, apresentando sua trama de forma aleatória em sem impacto. Somos apresentados a um cirurgião plástico (um Antonio Bandeiras um tanto gélido demais) que mantém em cativeiro uma mulher. A relação entre os dois não é amigável, mas não é hostil. E assim também é a relação do espectador com o filme. Se o início do longa não mostra a que veio, sempre resta a esperança por aquela ser uma obra de Almodóvar, então os rumos podem mudar.
E eles mudam. A partir da segunda metade da película, a trama antes dispersa e sem força vai ganhando sentidos e prendendo a atenção do público, envolto entre mortes, seqüestros, estupros e outras coisas comuns ao universo almodovariano. “A Pele que Habito” vai ganhando assim novas leituras, e o bizarro e o melancólico começam a se mesclar de um modo que não deixa o espectador tomar fôlego.
A tal reviravolta do filme pode não ser nenhum grande mistério. E mesmo a frieza e a falta de empatia que sentimos pelos personagens podem dar a entender que Almodóvar erra a mão ao tentar retomar um terreno que ficou no seu passado fílmico. Mas o cineasta é um grande esteta audiovisual e sabe contar histórias por meio de imagens e sons, o que torna até seus possíveis erros como produtos relevantes em alguns aspectos.
Ainda longe da forma que o consagrou em produções como “Mulheres a Beira de um Ataque de Nervos”, “Carne Trêmula”, “Tudo sobre Minha Mãe” e “Fale com Ela”, “A Pele que Habito” é bem superior a filmes mais problemáticos como “Má Educação” e “Abraços Partidos”. Mesmo sem cenas memoráveis e mais impactantes, visualmente ou emocionalmente, “A Pele que Habito” é um belo exercício de cinema, seja como um filme de horror sem gritos e sustos, como desejava o diretor, seja como um melodrama em um tom menor. Uma versão de Frankenstein dirigida pelo espanhol não seria melhor que “A Pele que Habito”.
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
Contágio
É muita incompetência de um diretor juntar um elenco de estrelas, como as presentes em Contágio, em meia a uma trama por si só tensa e, ainda assim, fazer um longa genérico e sem personalidade. Pois Steven Soderbergh conseguiu. Apesar de estar com a faca e o queijo na mão, o cineasta desperdiça a chance de fazer um filme tenso e que fugisse do clichê. Mas não. A única diferença entre "Contágio" ou Epidemia, por exemplo, para citar uma produção de premissa semelhante, é a pretensão. E "Contágio" perde na comparação.
Ainda que o filme de Soderbergh seja melhor produzido e cientificamente embasado do que o de Wolfgang Petersen, o longa protagonizado por Dustin Hoffman e Rene Russo é mais interessante em sua tensão e aposta mais na ação do que no papo furado, ou seja, é mais honesto com o espectador. Já a proposta de "Contágio" nunca chega a concretizar, e o filme se perde enquanto um mosaico sem força de várias histórias que poderiam ser relevantes, mas nunca empolgam.
Algumas decisões, a princípio, parecem acertadas, mas se mostram equivocadas a medida em que a história se desenvolve. A principal delas é a decisão do diretor em estilhaçar a narrativa em muitas tramas que pouco envolvem. O fato do filme começar sem rodeios não ajuda, já que nunca desenvolvemos nenhum tipo de empatia com os personagens.
Nem mesmo o desfile de rostos conhecidos favorece. Kate Winslet, Jude Law, Matt Damon, Laurence Fishburne, Gwyneth Paltrow e Marion Cotillard são meras peças sem um pingo de carisma em um tabuleiro sem ritmo ou importância. Perdido entre o registro humano e o científico, "Contágio" desperdiça talentos e não funciona nem como o retrato da paranoia, um caminho que o longa parece apontar, mas abandona sem assumir um novo rumo.
Filmado com certo esmero, "Contágio" não tem a coragem nem de ser um filme ruim. A produção é caprichada, a fotografia cumpre seu papel e a trilha sonora eletrônica tenta dar tensão a imagens sem nenhuma emoção. Até a montagem segue o mesmo caminho, de certa forma, buscando salvar a produção do limbo, atribuindo certa coerência à colcha de retalho de tramas e personagens. As intenções são boas, o resultado nem tanto.
Alguns podem até tentar resguardar o cineasta da culpa, alegando que a história é batida e já foi contada outras vezes no cinema. Mas hoje, com um repertório de quase 120 anos de cinema, que história ainda não foi? Infeciente enquanto um produto questionador, um filme de ação ou suspense e até mesmo como uma mera produção de entretenimento, "Contágio" entra e sai de cartaz sem dizer a que veio. Soderbergh já fez melhor. E vários outros filmes com temáticas semelhantes também. Típico caso que vale mais a pena ver o trailer do que o longa.
Ainda que o filme de Soderbergh seja melhor produzido e cientificamente embasado do que o de Wolfgang Petersen, o longa protagonizado por Dustin Hoffman e Rene Russo é mais interessante em sua tensão e aposta mais na ação do que no papo furado, ou seja, é mais honesto com o espectador. Já a proposta de "Contágio" nunca chega a concretizar, e o filme se perde enquanto um mosaico sem força de várias histórias que poderiam ser relevantes, mas nunca empolgam.
Algumas decisões, a princípio, parecem acertadas, mas se mostram equivocadas a medida em que a história se desenvolve. A principal delas é a decisão do diretor em estilhaçar a narrativa em muitas tramas que pouco envolvem. O fato do filme começar sem rodeios não ajuda, já que nunca desenvolvemos nenhum tipo de empatia com os personagens.
Nem mesmo o desfile de rostos conhecidos favorece. Kate Winslet, Jude Law, Matt Damon, Laurence Fishburne, Gwyneth Paltrow e Marion Cotillard são meras peças sem um pingo de carisma em um tabuleiro sem ritmo ou importância. Perdido entre o registro humano e o científico, "Contágio" desperdiça talentos e não funciona nem como o retrato da paranoia, um caminho que o longa parece apontar, mas abandona sem assumir um novo rumo.
Filmado com certo esmero, "Contágio" não tem a coragem nem de ser um filme ruim. A produção é caprichada, a fotografia cumpre seu papel e a trilha sonora eletrônica tenta dar tensão a imagens sem nenhuma emoção. Até a montagem segue o mesmo caminho, de certa forma, buscando salvar a produção do limbo, atribuindo certa coerência à colcha de retalho de tramas e personagens. As intenções são boas, o resultado nem tanto.
Alguns podem até tentar resguardar o cineasta da culpa, alegando que a história é batida e já foi contada outras vezes no cinema. Mas hoje, com um repertório de quase 120 anos de cinema, que história ainda não foi? Infeciente enquanto um produto questionador, um filme de ação ou suspense e até mesmo como uma mera produção de entretenimento, "Contágio" entra e sai de cartaz sem dizer a que veio. Soderbergh já fez melhor. E vários outros filmes com temáticas semelhantes também. Típico caso que vale mais a pena ver o trailer do que o longa.
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Entre Segredos e Mentiras
Alguns filmes têm tudo para acontecer, mas, por alguma razão nem sempre expicável, não acontecem. Entre Segredos e Mentiras é um desses filmes. O elenco é interessante, bonito, carismástico e talentoso. O diretor tem pelo menos um grande filme na bagagem (o documentário Na Captura dos Friedman). E a trama é envolvente e ainda tem o plus de ser baseada em uma história verídica. Há elementos dramáticos, de romance, suspense e tensão. Mas o que no papel e no trailer parecem interessantes, resultam sem graça na tela grande.
Grande parte da culpa é mesmo do diretor Andrew Jarecki´s, aqui estreando em longa de ficção. Elogiado documentarista, o cineasta não demonstra a mesma desenvoltura na ficção, ainda que a história seja inspirada em eventos reais. O primeiro pecado do diretor é não saber misturar os elementos que tem em mãos, transformando seu filme em uma obra esquizofrênica que vai mudando de tom a medida que se desenvolve. O romance ensolarado do início dá lugar a um drama psicológico sobre a relação doentia entre um jovem casal, culminando em um climax sem graça sobre uma investigação com cara de filme de tribunal feito para a televisão.
O fato do diretor nem mesmo tentar esconder seu ponto de vista sobre a trama também pesa contra o filme. Da construção do personagem de Ryan Gosling como um sociopata prestes a virar um psicopata passando pelos flashbacks e uma suposição sobre os rumos do crime que pontuam o longa durante toda sua duração, Jarecki´s não deixa o menor espaço para a imaginação da plateia, transformando uma trama complexa e rica em um filme simplório e moralmente chapado.
Ryan Gosling até tenta dar estofo ao seu personagem, mas a má construção do filhinho de papai, traumatizado por ter presenciado o suicídio da mãe e que de namoradinho carinhoso se transforma em um marido violento, não ajuda. A péssima caracterização do mesmo no terceiro ato do filme só piora tudo e deixa Entre Segredos e Mentiras com cara de arremedo de Psicose. A presença deslocada de Frank Langella, um ator interessante aqui repetindo trejeitos, não ajuda. A salvação da lavoura é Kirsten Dunst, atriz geralmente pouco reconhecida que entrega uma interpretação carismática que funciona como a alma de um filme frio e calculista como, aparentemente, seu personagem principal.
Grande parte da culpa é mesmo do diretor Andrew Jarecki´s, aqui estreando em longa de ficção. Elogiado documentarista, o cineasta não demonstra a mesma desenvoltura na ficção, ainda que a história seja inspirada em eventos reais. O primeiro pecado do diretor é não saber misturar os elementos que tem em mãos, transformando seu filme em uma obra esquizofrênica que vai mudando de tom a medida que se desenvolve. O romance ensolarado do início dá lugar a um drama psicológico sobre a relação doentia entre um jovem casal, culminando em um climax sem graça sobre uma investigação com cara de filme de tribunal feito para a televisão.
O fato do diretor nem mesmo tentar esconder seu ponto de vista sobre a trama também pesa contra o filme. Da construção do personagem de Ryan Gosling como um sociopata prestes a virar um psicopata passando pelos flashbacks e uma suposição sobre os rumos do crime que pontuam o longa durante toda sua duração, Jarecki´s não deixa o menor espaço para a imaginação da plateia, transformando uma trama complexa e rica em um filme simplório e moralmente chapado.
Ryan Gosling até tenta dar estofo ao seu personagem, mas a má construção do filhinho de papai, traumatizado por ter presenciado o suicídio da mãe e que de namoradinho carinhoso se transforma em um marido violento, não ajuda. A péssima caracterização do mesmo no terceiro ato do filme só piora tudo e deixa Entre Segredos e Mentiras com cara de arremedo de Psicose. A presença deslocada de Frank Langella, um ator interessante aqui repetindo trejeitos, não ajuda. A salvação da lavoura é Kirsten Dunst, atriz geralmente pouco reconhecida que entrega uma interpretação carismática que funciona como a alma de um filme frio e calculista como, aparentemente, seu personagem principal.
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Cinema: Contra o Tempo
Depois do interessante "Lunar", Duncan Jones, para alguns o filho do ícone David Bowie, demonstra que é realmente um bom diretor de cinema com o thriller de ficção científica Contra o Tempo. Com um ritmo ágil e soluções visuais interessantes, o cineasta aproveita ao máximo a premissa circular do filme para criar tensão e despertar a atenção do público.
Pena que o empenho de Jones seja desperdiçado graças a uma mudança de postura e ritmo do longa. O que começa como um bom exercício de ação, ganha, da metade para o final, um tom mais solene e de redenção que quase coloca tudo a perder. Antes, o que era, de certa forma, original e ousado, se tranforma em uma narrativa convencional e que afunda muito no clichê e no piegas.
O filme ganha força logo no início, ao jogar o espectador no meio da trama sem muitas explicações ou apresentação de personagens. A estrutura repetitiva se sustenta em parte pela mão firme de Jones, que vai apresentando novos elementos ao público e avançado a narrativa, em parte pela competência dos atores, dos carismáticos Jake Gyllenhaal e Michelle Monaghan à competente Vera Farmiga, que vai muito além em um papel bastante limitado.
Os furos de lógica vão se acumulando, mas são deixados de lado em virtude da força e vigor narrativo da produção. À medida em que o convencional toma conta do longa, os furos, antes minimizados pelo envolvimento na trama, vão ganhando novas dimensões e comprometendo o desenrolar da história. O vilão nunca chega a ser uma surpresa, e as mudanças de comportamento dos personagens também não faz muito sentido, ainda que o roteiro tente justificá-las de alguma forma.
O resultado é um filme divertido e até empolgante, mas que poderia ser muito mais. As concessões hollywoodianas acabam diminuindo o potencial da produção. Mas, ainda, assim, "Contra o Tempo" funciona para pavimentar o caminho de Duncan Jones na indústria cinematográfica. Com o roteiro certo em mãos, o cara pode ir muito longe.
Pena que o empenho de Jones seja desperdiçado graças a uma mudança de postura e ritmo do longa. O que começa como um bom exercício de ação, ganha, da metade para o final, um tom mais solene e de redenção que quase coloca tudo a perder. Antes, o que era, de certa forma, original e ousado, se tranforma em uma narrativa convencional e que afunda muito no clichê e no piegas.
O filme ganha força logo no início, ao jogar o espectador no meio da trama sem muitas explicações ou apresentação de personagens. A estrutura repetitiva se sustenta em parte pela mão firme de Jones, que vai apresentando novos elementos ao público e avançado a narrativa, em parte pela competência dos atores, dos carismáticos Jake Gyllenhaal e Michelle Monaghan à competente Vera Farmiga, que vai muito além em um papel bastante limitado.
Os furos de lógica vão se acumulando, mas são deixados de lado em virtude da força e vigor narrativo da produção. À medida em que o convencional toma conta do longa, os furos, antes minimizados pelo envolvimento na trama, vão ganhando novas dimensões e comprometendo o desenrolar da história. O vilão nunca chega a ser uma surpresa, e as mudanças de comportamento dos personagens também não faz muito sentido, ainda que o roteiro tente justificá-las de alguma forma.
O resultado é um filme divertido e até empolgante, mas que poderia ser muito mais. As concessões hollywoodianas acabam diminuindo o potencial da produção. Mas, ainda, assim, "Contra o Tempo" funciona para pavimentar o caminho de Duncan Jones na indústria cinematográfica. Com o roteiro certo em mãos, o cara pode ir muito longe.
terça-feira, 18 de outubro de 2011
Cinema: Não tenha medo do escuro
Minha vida é mais assustadora do que Não tenha medo do escuro. Essa poderia ser apenas uma frase de efeito, mas é a mais pura verdade. O filme, escrito e produzido por Guillermo Del Toro, não tem nada de assustador e fica perdido entre o exagero barroco de sua encenação e uma comicidade involuntária.
A boa e velha trama da casa mal assombrada é desperdiçada do início ao fim no filme de Troy Nixey, um desconhecido que se mostra totalmente inapto para criar um mínimo de clima e tensão. O roteiro também não ajuda, convenhamos. A história gira em torno de uma menininha, abandonada pela mãe e meio deixada de lado pelo pai workaholic, que passa a escutar vozes em uma mansão com direção de arte mal feita.
Mal amarrado e cheio de incongruências narrativas, o filme nunca evolui e tudo parece sem graça e feito de forma amadora. A trilha sonora qualquer coisa, um problema grave em um filme de terror, e a fotografia escura e sem um pingo de criatividade só não são piores do que as atuações genéricas de Katie Holmes e Guy Pearce.
A tal da menininha assombrada até tenta impor certa credibilidade ao filme, mas a personagem dela é tão burra que gera mais raiva do que empatia. A própria mitologia em torno dos “vilões” da produção não desperta a menor curiosidade, e as criaturinhas são meros Gremlins do mal, sem o mesmo carisma, claro. Depois de um clímax histérico e uma resolução de quinta que abre espaço para continuações, “Não tenha medo do escuro” é a prova de que só pompa não é suficiente para fazer um filme de terror. Tirando UMA cena realmente interessante em termos visuais e narrativos (envolvendo lençóis, uma máquina fotográfica polaróide e a tal garotinha), o longa é uma tremenda decepção, que só aumenta graças ao envolvimento de Del Toro no projeto.
Sim, infelizmente, minha vida tem menos furos de roteiro e é bem mais assustadora do que “Não tenha medo do escuro”.
terça-feira, 4 de outubro de 2011
Livro: a arte de voltar a ler
Eu já li mais. Nem tenho muitas desculpas para afirmar que hoje leio menos por causa da vida e tals. Tempo eu tenho de sobra, mas acabei optando por outras atividades que não a leitura. Às vezes me recinto disso, mas não costumo fazer muita coisa para reverter a situação. Mas enfim, não adianta muito ficar reclamando. Apenas acontece. Nem todo mundo vai morrer já tendo lido clássicos ou obras obscuras, Dostoievski, James Joyce, Jane Austen ou mesmo aquele best-seller do cão que não acrescenta nada a sua vidinha ordinária.
Mas outro dia eu li. Li um livro inteiro. E com mais de 400 páginas, olha que bonito! Estava eu sem fazer nada em um aeroporto qualquer, esperando um voo que ainda ia demorar a decolar quando entrei em uma dessas livrarias genéricas e resolvi comprar um livro, ainda que ele fosse caro. Já tinha ouvido falar do livro e ele estava na minha extensa lista, que nunca diminui, de coisas que eu deveria ler antes de morrer. Numa decisão súbita, comprei o livro e comecei a ler ali mesmo, no aeroporto e, depois, no avião, no céu entre o Rio de Janeiro e São Paulo.
Mas outro dia eu li. Li um livro inteiro. E com mais de 400 páginas, olha que bonito! Estava eu sem fazer nada em um aeroporto qualquer, esperando um voo que ainda ia demorar a decolar quando entrei em uma dessas livrarias genéricas e resolvi comprar um livro, ainda que ele fosse caro. Já tinha ouvido falar do livro e ele estava na minha extensa lista, que nunca diminui, de coisas que eu deveria ler antes de morrer. Numa decisão súbita, comprei o livro e comecei a ler ali mesmo, no aeroporto e, depois, no avião, no céu entre o Rio de Janeiro e São Paulo.
Passei a semana inteira lendo. Quase me obriguei a ler pelo menos um capítulo por dia, antes de dormir que fosse. Alguns dias eu lia mais de um. Outros me dava por satisfeito em apenas cumprir minha meta. Me senti melhor por retomar o hábito da leitura, ainda que ler um livro não signifique que eu esteja voltando a ler como outrora. Aliás, nem me lembro se algum dia eu fui mesmo um leitor voraz. De histórias em quadrinhos, talvez. Hoje, de revistas e blogs. Mas não é a mesma coisa, convenhamos.
Para quem ficou curioso, a trama do livro em questão gira em torno de um casal de amigos. Ele meio metido, riquinho e galã. Ela uma moça normal, com baixa autoestima, dona de um sotaque carregado e uma personalidade um tanto sustentável, antes mesmo do termo ser inventado. O livro percorre vinte anos, sempre narrando os acontecimentos dos dois ao longo de um dia: 15 de julho de algum ano, de 1988, quando se conhecem, em diante.É um livro fácil de ler. Texto ágil, cheio de referências à cultura pop. Um fácil exercício de nostalgia para quem já passou dos 30 e viveu os anos retratados no livro. Se for para enquadrar, poderíamos dizer que é literatura pop, tipo Nick Hornby ou André Takeda, para citar um nome nacional. Para quem não gosta de classificações, é apenas um bom livro, despretensioso, mas de qualidade.
A estrutura fragmentária é interessante e se sustenta, seja pelo carisma dos personagens (Dexter e Emma), seja pelo talento do autor para conduzir as tramas e inserir os flashbacks no momento correto. O livro pode ser um tanto desonesto em sua parte final, até apelando para o clichê e o piegas. Mas quem se importa quando a jornada de leitura é tão prazerosa. A quem interessar possa, o livro se chama Um Dia, escrito por David Nicholls, e já virou filme que, a julgar pelo trailer (você pode conferir aqui), tem tudo para ser uma bomba.
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Um Sonho de Amor
Alguns filmes não têm a menor vergonha de ser exuberantes. Não temem fazer uso expressivo da mise-en-scène, nem têm receio de deixar a narrativa e a trama em segundo plano. Um Sonho de Amor é um desses filmes. Ainda que a condução da trama seja poderosa, é a encenação suntuosa e elegante que chama a atenção na produção do diretor Luca Guadagnino.
A trama do longa, na verdade, é até convencional. Não há nada de novo em contar a história de uma família tradicional, conservadora e riquíssima que vive de aparências. Mas o modo como Guadagnino embala a história e conduz o enredo faz a diferença. "Um Sonho de Amor" é, assim, um filme cheio de silêncios e emoções contidas que se revezam com uma trilha sonora poderosa e arroubos dramáticos.
Nesse vai e vem emocional, o longa se desenvolve em um crescendo de sentimentos acumulados que explode em um final surpreendente. Entre um silêncio aqui e um grito contido ali, Guadagnino capricha nos figurinos (indicados ao Oscar), na fotografia quase minimalista e na direção de arte que representam com precisão o universo de aparências e cinismo que rodeia a família Recchi.
No centro da trama está Emma (Tilda Swinton em versão elegante e italiana), uma "ex-russa" que perdeu a própria identidade ao se mudar para a Itália com o marido, herdeiro de uma família tradicional dona de um império de confecções. Entre jantares requintados, o marido que não a encanta mais e os problemas dos rebentos, ela se apaixona por um cozinheiro simples amigo de um de seus filhos.
As profusão de tramas paralelas adia ao máximo os confrontos delineados pelo enredo. Mas a mão firme de Guadagnino explora sem medidas as potencialidades visuais e narrativas do longa. Os enquadramentos focam sempre o elegante e o requintado. As elipses deixam subentendidas acontecimentos importantes. E o longa segue um ritmo estranho que se reveza entre o sensorial e o emocional.
Seguindo uma linha mais "estética", o filme entra no mesmo rol de produções como "Longes do Paraíso" e "Direito de Amor", por exemplo. As imagens e a forma como elas são mostradas significam muito mais do que o próprio desenrolar da história. O resultado nunca é menos do que arrebatador.
A trama do longa, na verdade, é até convencional. Não há nada de novo em contar a história de uma família tradicional, conservadora e riquíssima que vive de aparências. Mas o modo como Guadagnino embala a história e conduz o enredo faz a diferença. "Um Sonho de Amor" é, assim, um filme cheio de silêncios e emoções contidas que se revezam com uma trilha sonora poderosa e arroubos dramáticos.
Nesse vai e vem emocional, o longa se desenvolve em um crescendo de sentimentos acumulados que explode em um final surpreendente. Entre um silêncio aqui e um grito contido ali, Guadagnino capricha nos figurinos (indicados ao Oscar), na fotografia quase minimalista e na direção de arte que representam com precisão o universo de aparências e cinismo que rodeia a família Recchi.
No centro da trama está Emma (Tilda Swinton em versão elegante e italiana), uma "ex-russa" que perdeu a própria identidade ao se mudar para a Itália com o marido, herdeiro de uma família tradicional dona de um império de confecções. Entre jantares requintados, o marido que não a encanta mais e os problemas dos rebentos, ela se apaixona por um cozinheiro simples amigo de um de seus filhos.
As profusão de tramas paralelas adia ao máximo os confrontos delineados pelo enredo. Mas a mão firme de Guadagnino explora sem medidas as potencialidades visuais e narrativas do longa. Os enquadramentos focam sempre o elegante e o requintado. As elipses deixam subentendidas acontecimentos importantes. E o longa segue um ritmo estranho que se reveza entre o sensorial e o emocional.
Seguindo uma linha mais "estética", o filme entra no mesmo rol de produções como "Longes do Paraíso" e "Direito de Amor", por exemplo. As imagens e a forma como elas são mostradas significam muito mais do que o próprio desenrolar da história. O resultado nunca é menos do que arrebatador.
terça-feira, 23 de agosto de 2011
A Árvore da Vida
Não sei se sou a pessoa mais certa para falar sobre o novo trabalho de Terrence Malick (talvez não!), afinal, rolam boatos por aí que sou cético e cínico demais para me deixar envolver pelo filme. Mas vou falar sobre ele mesmo assim. Cineasta meio recluso e temporão, filmando em longos espaços de tempo, só assisti a um filme do moço, sua versão poética, lenta e contemplativa sobre a Segunda Guerra Mundial, Além da Linha Vermelha.
A Árvore da Vida segue um caminho semelhante a Além da Linha Vermelha. O enredo é mínimo e serve mais como desculpa para o cineasta desfilar belas imagens pela tela, estendendo a narrativa ao máximo graças a uma edição lenta e contemplativa, o que resulta em uma fotografia realmente linda (o que, de certa forma, salva o filme). Uma das diferenças entre os dois longas é a contextualização do primeiro, tendo a guerra como pano de fundo, e a especulação do segundo, que tem como mote questões mais existenciais.
Esse é um dos grandes poréns do filme. Cheio de significados e simbolismos, diluídos ao longo de mais de duas horas de duração editadas de forma não-linear e pouco convencional, A Árvore da Vida traz belas imagens, filmadas com propriedade por Malick, mas que dizem pouco ou quase nada a quem não se deixar levar pela viagem proposta pelo diretor.
Em linhas gerais, no meio de uma tentativa pálida de discutir sobre a "condição humana" (piada interna para iniciados no meu mundo), podemos acompanhar de forma bem lenta a história de um garoto que vive tenso sob as rédeas de um pai rígido (vivido por Brad Pitt). E ponto. O resto não é para ser entendido e sim sentido, dirão alguns.
Perdido entre o ceticismo e o cinismo, até admito que o problema do filme seja mais comigo do que com a produção em si, poética e filosófica demais para meu modo rasteiro de pensar e ver o mundo. Mas uma coisa é certa: se Malick quis representar o vazio existencial, ele conseguiu. A Árvore da Vida é chato como a vida.
A Árvore da Vida segue um caminho semelhante a Além da Linha Vermelha. O enredo é mínimo e serve mais como desculpa para o cineasta desfilar belas imagens pela tela, estendendo a narrativa ao máximo graças a uma edição lenta e contemplativa, o que resulta em uma fotografia realmente linda (o que, de certa forma, salva o filme). Uma das diferenças entre os dois longas é a contextualização do primeiro, tendo a guerra como pano de fundo, e a especulação do segundo, que tem como mote questões mais existenciais.
Esse é um dos grandes poréns do filme. Cheio de significados e simbolismos, diluídos ao longo de mais de duas horas de duração editadas de forma não-linear e pouco convencional, A Árvore da Vida traz belas imagens, filmadas com propriedade por Malick, mas que dizem pouco ou quase nada a quem não se deixar levar pela viagem proposta pelo diretor.
Em linhas gerais, no meio de uma tentativa pálida de discutir sobre a "condição humana" (piada interna para iniciados no meu mundo), podemos acompanhar de forma bem lenta a história de um garoto que vive tenso sob as rédeas de um pai rígido (vivido por Brad Pitt). E ponto. O resto não é para ser entendido e sim sentido, dirão alguns.
Perdido entre o ceticismo e o cinismo, até admito que o problema do filme seja mais comigo do que com a produção em si, poética e filosófica demais para meu modo rasteiro de pensar e ver o mundo. Mas uma coisa é certa: se Malick quis representar o vazio existencial, ele conseguiu. A Árvore da Vida é chato como a vida.
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
Super 8
Existe uma diferença entre filmes de época e filmes que querem emular uma época. Super 8 tenta fazer parte dessa segunda categoria, buscando mimetizar uma aura e uma forma de se fazer cinema que já não existe mais. O cinema juvenil do final dos anos 70 e início da década de 80. Mais precisamente o cinema de Steven Spielberg.
A intenção é boa, mas JJ Abrams não é nenhum Spielberg, apesar de talentoso. E os anos 80 já estão longe e perderam espaço na memória para todo um repertório fílmico que ganhou destaque nas décadas de 90 e anos 2000. Fica difícil então se emular alguma coisa quando ela será inserida em um outro contexto.
Esse é o maior problema de "Super 8", misto de ficção científica e produção juvenil que remete de imediato a Goonies e E.T., mas não tenta esconder seu lado blockbuster arrasador tão comum ao novo século. A aura ingênua dos filmes de Spielberg do passado não faz muito sentido hoje, para um mundo totalmente inserido em uma era digital, tecnológica e, por que não, cínica. Ao mesmo tempo, a ação desenfreada e as cenas espetaculares, extremamente devedoras das novas tecnologias, não casam com a proposta nostálgica da produção (os efeitos podem até ser discretos, mas a cena da explosão do trem e o final épico não negam a origem contemporânea).
Perdido nesse limbo entre passado e presente, "Super 8" é divertido, é entretenimento interessante e bem realizado, mas não faz muita questão de esconder que é apenas uma versão anabolizada de "E.T.". O filme de JJ Abrams (sim, o cara responsável por Lost, Felicity e a repaginada de Jornada nas Estrelas) tenta conquistar o público saudosista de longas da época em que eram espectadores mais jovens e ingênuos, mas sem abrir mão, claro, do espectador do presente, resultando um tanto esquizofrênico em sua concepção.
Essa tentativa de volta ao passado (sim, porque JJ Abrams tenta, mas não consegue) acaba resultando fria e cerebral. Mesmo os conflitos entre os personagens (o pai e o filho que não se conectam após a morte da esposa/mãe; o rapaz meio nerd que se apaixona pela garota mais bonita da escola) acrescentam pouco à trama, e a emoção é calculada demais e se perde diante do hype criado em torno da produção.
O filme é tenso. Elle Fanning é linda, carismática e domina a tela. A fotografia e o desenho de produção acertam na mimêse que se propõem a fazer. Mas tem alguma coisa fora do lugar. Uma coisa que JJ Abrams não pode manipular: o tempo. Estamos em 2011, e o contexto atual é bem diferente do de 1982 (quando "E.T." foi lançado). Isso faz toda a diferença.
A intenção é boa, mas JJ Abrams não é nenhum Spielberg, apesar de talentoso. E os anos 80 já estão longe e perderam espaço na memória para todo um repertório fílmico que ganhou destaque nas décadas de 90 e anos 2000. Fica difícil então se emular alguma coisa quando ela será inserida em um outro contexto.
Esse é o maior problema de "Super 8", misto de ficção científica e produção juvenil que remete de imediato a Goonies e E.T., mas não tenta esconder seu lado blockbuster arrasador tão comum ao novo século. A aura ingênua dos filmes de Spielberg do passado não faz muito sentido hoje, para um mundo totalmente inserido em uma era digital, tecnológica e, por que não, cínica. Ao mesmo tempo, a ação desenfreada e as cenas espetaculares, extremamente devedoras das novas tecnologias, não casam com a proposta nostálgica da produção (os efeitos podem até ser discretos, mas a cena da explosão do trem e o final épico não negam a origem contemporânea).
Perdido nesse limbo entre passado e presente, "Super 8" é divertido, é entretenimento interessante e bem realizado, mas não faz muita questão de esconder que é apenas uma versão anabolizada de "E.T.". O filme de JJ Abrams (sim, o cara responsável por Lost, Felicity e a repaginada de Jornada nas Estrelas) tenta conquistar o público saudosista de longas da época em que eram espectadores mais jovens e ingênuos, mas sem abrir mão, claro, do espectador do presente, resultando um tanto esquizofrênico em sua concepção.
Essa tentativa de volta ao passado (sim, porque JJ Abrams tenta, mas não consegue) acaba resultando fria e cerebral. Mesmo os conflitos entre os personagens (o pai e o filho que não se conectam após a morte da esposa/mãe; o rapaz meio nerd que se apaixona pela garota mais bonita da escola) acrescentam pouco à trama, e a emoção é calculada demais e se perde diante do hype criado em torno da produção.
O filme é tenso. Elle Fanning é linda, carismática e domina a tela. A fotografia e o desenho de produção acertam na mimêse que se propõem a fazer. Mas tem alguma coisa fora do lugar. Uma coisa que JJ Abrams não pode manipular: o tempo. Estamos em 2011, e o contexto atual é bem diferente do de 1982 (quando "E.T." foi lançado). Isso faz toda a diferença.
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
Melancolia
Poucas vezes o fim do mundo foi retratado de uma maneira tão bela quanto em Melancolia, novo filme do polêmico diretor dinamarquês Lars Von Trier. Fazendo uso do habitual talento para compor imagens e sons com extrema beleza e cheios de significação, o cineasta deixa de lado a narrativa dura e difícil do anterior "Anticristo" e aposta em uma condução mais leve e palatável.
Não que o diretor tenha aberto mão de sua proposta que visa sempre mexer e incomodar o espectador. Nada disso. Mas, diante de sua obra, Melancolia se junta a "Dançando no Escuro" como um trabalho mais acessível, ainda que nem todo mundo pareça embarcar na viagem sensorial e lírica do cineasta.
O filme começa com a já tradicional câmera lenta do diretor, com belos planos quase estáticos resumindo o que veremos pela frente. Sim, Von Trier não faz questão de deixar surpresas ao espectador e anuncia logo de cara o fatídico destino do planeta Terra em sua produção apocalíptica. O mais interessante é que, mesmo sabendo o destino dos personagens, "Melancolia" é tenso e prende a atenção.
Dividido em duas partes, como capítulos em um livro, outra característica comum ao formalismo de Von Trier, o filme foca suas lentes na relação entre duas irmãs, que guiam nosso olhar ao longo do filme. Primeiro, acompanhamos o drama de Justine, que recém-casada, não consegue disfarçar a insatisfação com a vida. Com a câmera na mão e cortes pouco convencionais, que dão um ritmo quebrado ao longa, "Melancolia" parece um primo distante de "O Casamento de Rachel", de Jonathan Demme.
A segunda parte, mais lenta e densa, deixa de lados a condição quase depressiva de Justine (muito bem defendida por uma Kirsten Dunst sem pudores) e assume o tom angustiado de Claire (Charlotte Gainsbourg). Casada e mãe de um filho pequeno, a personagem, antes sóbria e contida, mostra sua fragilidade e desespero ao lidar com a possibilidade do planeta Melancolia se chocar com a Terra.
Usando o fim do mundo como pano de fundo, "Melancolia" explora temas desde a acomodação diante do inevitável ao incômodo e instabilidade emocional que o fim anunciado pode causar. Metáforas estabelecidas, Von Trier brinda o público com um longa estética e formalmente maduro, compondo cenas de uma plasticidade impar e emocionante, ainda que diferente do registro mais melodramático ao qual estamos acostumados. Não deixa de ser um clichê dizer que o filme não é para todos os públicos, mas é o mais próximo que Von Trier pode chegar de uma plateia mais abrangente.
Não que o diretor tenha aberto mão de sua proposta que visa sempre mexer e incomodar o espectador. Nada disso. Mas, diante de sua obra, Melancolia se junta a "Dançando no Escuro" como um trabalho mais acessível, ainda que nem todo mundo pareça embarcar na viagem sensorial e lírica do cineasta.
O filme começa com a já tradicional câmera lenta do diretor, com belos planos quase estáticos resumindo o que veremos pela frente. Sim, Von Trier não faz questão de deixar surpresas ao espectador e anuncia logo de cara o fatídico destino do planeta Terra em sua produção apocalíptica. O mais interessante é que, mesmo sabendo o destino dos personagens, "Melancolia" é tenso e prende a atenção.
Dividido em duas partes, como capítulos em um livro, outra característica comum ao formalismo de Von Trier, o filme foca suas lentes na relação entre duas irmãs, que guiam nosso olhar ao longo do filme. Primeiro, acompanhamos o drama de Justine, que recém-casada, não consegue disfarçar a insatisfação com a vida. Com a câmera na mão e cortes pouco convencionais, que dão um ritmo quebrado ao longa, "Melancolia" parece um primo distante de "O Casamento de Rachel", de Jonathan Demme.
A segunda parte, mais lenta e densa, deixa de lados a condição quase depressiva de Justine (muito bem defendida por uma Kirsten Dunst sem pudores) e assume o tom angustiado de Claire (Charlotte Gainsbourg). Casada e mãe de um filho pequeno, a personagem, antes sóbria e contida, mostra sua fragilidade e desespero ao lidar com a possibilidade do planeta Melancolia se chocar com a Terra.
Usando o fim do mundo como pano de fundo, "Melancolia" explora temas desde a acomodação diante do inevitável ao incômodo e instabilidade emocional que o fim anunciado pode causar. Metáforas estabelecidas, Von Trier brinda o público com um longa estética e formalmente maduro, compondo cenas de uma plasticidade impar e emocionante, ainda que diferente do registro mais melodramático ao qual estamos acostumados. Não deixa de ser um clichê dizer que o filme não é para todos os públicos, mas é o mais próximo que Von Trier pode chegar de uma plateia mais abrangente.
segunda-feira, 4 de julho de 2011
Cinema ou teatro? Eis a questão.
Claro que cinema. Me adiantaria sem nem mesmo pensar direito na pergunta. Sempre gostei mais da arte audiovisual do que da arte milenar do teatro. Entre preconceitos e falta de informação, opto pela sétima arte, a arte da montagem, dos enquadramentos, da junção entre imagem e som. Nunca fui muito aberto ao teatro, seja pelo total desconhecimento da linguagem, seja pela falta de paciência para a dramaturgia ou atuações impostadas. Sempre preferi ver um filme ruim a uma peça boa.
Esclarecimentos à parte, recentemente tive uma boa experiência teatral e uma ida frustrante ao cinema. De um lado, um filme de terror meia boca de pouco mais de uma hora; de outro, uma montagem de três horas de duração, mas que tocou fundo na alma.
A Casa é o típico filme de terror que tenta, de alguma forma, explorar as potencialidades do dispositivo cinematográfico para esconder a fragilidade da trama. Supostamente filmado em um plano sequência, o longa segue a linha de produções como A Bruxa de Blair, Cloverfield, Atividade Paranormal para não apenas criar tensão, mas, de certa forma, discutir modos de se fazer cinema.
A fórmula funciona porque o gênero de terror parece ser o mais propício a experimentações, já que parte de sua graça depende inteiramente da construção da mise en scène. Nisso A Casa acerta. O diretor Gustavo Hernández sabe criar tensão por meio de enquadramentos e usa, inicialmente, com certa propriedade o recurso de filmagem em tempo real, além de aproveitar a pouca iluminação criada pela utilização de um cenário escuro, a tal casa (mal-assombrada) do título.
Mas tudo cai por terra a medida em que os recursos dispensados pelo diretor parecem existir apenas para tentar esconder a falta de lógica do roteiro, tirando o foco da absurda reviravolta que põe tudo a perder. A própria ideia de filmagem em tempo real é desperdiçada a partir do momento em que a pouca duração do longa coloca em xeque a verossimilhança do universo retratado. O plano sequência se revela assim apenas um recurso estético gratuito, passando longe de uma utilidade narrativa.
Se por um lado, um filme de menos de 1h e meia pode entediar, uma montagem teatral de cerca de três horas surpreende e agrada. Longe de buscar inovações estéticas e de linguagem, coisas que outras montagens de Felipe Hirsch, da Sutil Companhia de Teatro, de Curitiba, buscavam ("Cinema", por exemplo), Trilhas Sonoras de Amor Perdidas é uma peça que procura estabelecer um contato emocional com a plateia por meio de canções e situações vividas pelos personagens. A montagem narra, de modo não-linear, a relação entre um rapaz e uma moça que se conectam graças à paixão pela música.
Mesmo que o verdadeiro desfile de canções pop (David Bowie, Big Star, Nico, Rolling Stones, The Pretenders, Nirvana, The Cure...) ajude na apreciação do espetáculo, são o texto de Hirsch e as atuações de Guillherme Weber e Natália Lage a grande força da montagem. As referências pop, as fitas (ou CD-R, playlists e mixtapes) gravadas para impressionar alguém e os dramas dos jovens adultos causam identificação imediata.
A montagem poderia ser mais enxuta, com menos referências, é verdade. O fim do espetáculo merecia um desfecho mais forte e bem amarrado. Mas nada que comprometa o resultado que desperta sorrisos e deixa lágrimas dos olhos. Para alguém que nunca foi muito afeito a teatro, se abrir assim para uma peça tão longa (a pretensão do espetáculo está toda na duração excessiva), já um avanço e tanto.
Esclarecimentos à parte, recentemente tive uma boa experiência teatral e uma ida frustrante ao cinema. De um lado, um filme de terror meia boca de pouco mais de uma hora; de outro, uma montagem de três horas de duração, mas que tocou fundo na alma.
A Casa é o típico filme de terror que tenta, de alguma forma, explorar as potencialidades do dispositivo cinematográfico para esconder a fragilidade da trama. Supostamente filmado em um plano sequência, o longa segue a linha de produções como A Bruxa de Blair, Cloverfield, Atividade Paranormal para não apenas criar tensão, mas, de certa forma, discutir modos de se fazer cinema.
A fórmula funciona porque o gênero de terror parece ser o mais propício a experimentações, já que parte de sua graça depende inteiramente da construção da mise en scène. Nisso A Casa acerta. O diretor Gustavo Hernández sabe criar tensão por meio de enquadramentos e usa, inicialmente, com certa propriedade o recurso de filmagem em tempo real, além de aproveitar a pouca iluminação criada pela utilização de um cenário escuro, a tal casa (mal-assombrada) do título.
Mas tudo cai por terra a medida em que os recursos dispensados pelo diretor parecem existir apenas para tentar esconder a falta de lógica do roteiro, tirando o foco da absurda reviravolta que põe tudo a perder. A própria ideia de filmagem em tempo real é desperdiçada a partir do momento em que a pouca duração do longa coloca em xeque a verossimilhança do universo retratado. O plano sequência se revela assim apenas um recurso estético gratuito, passando longe de uma utilidade narrativa.
Se por um lado, um filme de menos de 1h e meia pode entediar, uma montagem teatral de cerca de três horas surpreende e agrada. Longe de buscar inovações estéticas e de linguagem, coisas que outras montagens de Felipe Hirsch, da Sutil Companhia de Teatro, de Curitiba, buscavam ("Cinema", por exemplo), Trilhas Sonoras de Amor Perdidas é uma peça que procura estabelecer um contato emocional com a plateia por meio de canções e situações vividas pelos personagens. A montagem narra, de modo não-linear, a relação entre um rapaz e uma moça que se conectam graças à paixão pela música.
Mesmo que o verdadeiro desfile de canções pop (David Bowie, Big Star, Nico, Rolling Stones, The Pretenders, Nirvana, The Cure...) ajude na apreciação do espetáculo, são o texto de Hirsch e as atuações de Guillherme Weber e Natália Lage a grande força da montagem. As referências pop, as fitas (ou CD-R, playlists e mixtapes) gravadas para impressionar alguém e os dramas dos jovens adultos causam identificação imediata.
A montagem poderia ser mais enxuta, com menos referências, é verdade. O fim do espetáculo merecia um desfecho mais forte e bem amarrado. Mas nada que comprometa o resultado que desperta sorrisos e deixa lágrimas dos olhos. Para alguém que nunca foi muito afeito a teatro, se abrir assim para uma peça tão longa (a pretensão do espetáculo está toda na duração excessiva), já um avanço e tanto.
domingo, 12 de junho de 2011
Namorados para Sempre
O título pode até remeter a uma comédia romântica boba ou um romance água com açúcar genérico, mas Namorados para Sempre está longe de ser um filme simplista e comum. A ideia nem é original, mostrar o início e o fim de um relacionamento amoroso (François Ozon já fez isso de trás para frente em O Amor em 5 Tempos e até Jennifer Aniston passou pelo rompimento de um casamento na comédia Separados pelo Casamento, que termina de forma melancólica e realista), mas é realizada com tanta honestidade e carregada de melancolia que fica impossível não embarcar sem ressalvas em uma história que mescla amor, ressentimento, dor, culpa, cumplicidade e sofrimento na mesma medida.
O longa dirigido por Derek Cianfrance não nega as raízes advindas do cinema independente americano. A câmera é colada nos protagonistas e parece acompanhá-los como uma testemunha bem próxima e quase presente, diferente do posicionamento mais distante ditado pelo cinema clássico. Os cortes são abruptos e descontínuos, sempre deixando a sensação de que estamos perdendo algo. A dramaticidade é mais sugerida do que propriamente mostrada. A trilha musical é discreta, porém marcante quando necessária. Uma cartilha mais do que assimilada pelo grande público.
A opção do diretor em mostrar de modo não-linear como Dean e Cindy se conhecem e depois se afastam, a princípio, mais parece um recurso gratuito para dar ao filme um tom modernoso. Mas é compreensível na medida em que Cianfrance confronta as situações de forma a compará-las e dar uma dimensão um tanto pessimista dos rumos que um relacionamento pode tomar. A fotografia das cenas em que o casal se conhece, por exemplo, é granulada, quase como uma idealização dessa primeira fase, assumindo um tom mais sóbrio e claro quando ambos assumem uma postura mais de confrontação do que de romance.
A partir daí, o cineasta entrega o filme aos seus atores. E é essa opção que diferencia "Namorados para Sempre" da multidão. Ryan Gosling e Michelle Williams destroem todos os corações e entregam duas interpretações arrasadoras. A química entre os dois é fundamental para que o público compre a intimidade do casal, seja nos momentos iniciais, quando tudo é descoberta, seja quando ambos passam a se agredir mais do que necessariamente se amar. A fragilidade de um vira arma para o outro, e Gosling e Williams passam no olhar e nos gestos a transformação que o casal sofre ao longo dos anos de uma relação desgastada.
"Namorados para Sempre", claro, está longe de ser um filme que agrade a todos. Alguns cenas entre Dean e Cindy são de cortar o coração. Mas Cianfrance escolhe não fazer de seu longa um drama pesadão. A tristeza se faz presente, mas de uma maneira mais melancólica do que propriamente trágica. O final não fecha portas, mas está longe de ser um happy end.
O longa dirigido por Derek Cianfrance não nega as raízes advindas do cinema independente americano. A câmera é colada nos protagonistas e parece acompanhá-los como uma testemunha bem próxima e quase presente, diferente do posicionamento mais distante ditado pelo cinema clássico. Os cortes são abruptos e descontínuos, sempre deixando a sensação de que estamos perdendo algo. A dramaticidade é mais sugerida do que propriamente mostrada. A trilha musical é discreta, porém marcante quando necessária. Uma cartilha mais do que assimilada pelo grande público.
A opção do diretor em mostrar de modo não-linear como Dean e Cindy se conhecem e depois se afastam, a princípio, mais parece um recurso gratuito para dar ao filme um tom modernoso. Mas é compreensível na medida em que Cianfrance confronta as situações de forma a compará-las e dar uma dimensão um tanto pessimista dos rumos que um relacionamento pode tomar. A fotografia das cenas em que o casal se conhece, por exemplo, é granulada, quase como uma idealização dessa primeira fase, assumindo um tom mais sóbrio e claro quando ambos assumem uma postura mais de confrontação do que de romance.
A partir daí, o cineasta entrega o filme aos seus atores. E é essa opção que diferencia "Namorados para Sempre" da multidão. Ryan Gosling e Michelle Williams destroem todos os corações e entregam duas interpretações arrasadoras. A química entre os dois é fundamental para que o público compre a intimidade do casal, seja nos momentos iniciais, quando tudo é descoberta, seja quando ambos passam a se agredir mais do que necessariamente se amar. A fragilidade de um vira arma para o outro, e Gosling e Williams passam no olhar e nos gestos a transformação que o casal sofre ao longo dos anos de uma relação desgastada.
"Namorados para Sempre", claro, está longe de ser um filme que agrade a todos. Alguns cenas entre Dean e Cindy são de cortar o coração. Mas Cianfrance escolhe não fazer de seu longa um drama pesadão. A tristeza se faz presente, mas de uma maneira mais melancólica do que propriamente trágica. O final não fecha portas, mas está longe de ser um happy end.
segunda-feira, 30 de maio de 2011
Velharias de cinema: 4 clássicos
Mas, ainda que eu seja um rapaz contemporâneo, não há como negar que estou passando por uma fase dessas meio nostálgicas, querendo rever coisas que vi quando criança/adolescente, ou mesmo ver pela primeira vez coisas que nunca tive coragem de ver, por preguiça mesmo. Talvez seja os 35 anos pesando, cobrando e dizendo que é chegada a hora de preencher certas lacunas cinematográficas e/ou musicais.
Diante das circunstâncias, tenho me entregado aos filmes de antigamente. Um "Se o meu apartamento falasse" aqui, um "Festim Diabólico" acolá. E também a uma extensa lista de coisas a serem vistas e descobertas: "Almas em Suplício", "Um Estranho no Ninho", por exemplo, só para citar dois.
Dos filmes revistos, clássicos de infância, já meio esquecidos, mas devidamente relembrados durante a revisão, às produções básicas que você vergonhosamente nunca assistiu. Tinha me esquecido, por exemplo, que O Mágico de Oz é um musical, um filme cheio de cores e que, em tempo de globalização, quando pessoas mudam de cidades e países em um piscar de olhos, traz uma mensagem um tanto ingênua: "não existe lugar como nosso lar". Mensagens a parte, é um deleite ver Dorothy - uma menina um bocado chata, é verdade - vivendo aventuras ao lado de um espantalho sem cérebro, um homem de lata sem coração e um leão sem coragem em meio a uma estrada de tijolos amarelos, sempre com o fiel Totó a tiracolo.
Ben-Hur não é um filme para criança, mas é um desses clássicos da Sessão da Tarde que passava durante a Semana Santa. Épico no melhor sentido do termo, o filme é um exercício de estilo e ação em uma época em que o CGI não era nem um sonho, e a edição das cenas era clara, nada picotada e fragmentada para esconder falhas. A cena da batalha das vigas é de um apuro técnico que impressiona, e a história de vingança ganha ares esperançosos em um final melancólico e de redenção religiosa. O longa, de quase quatro horas de duração, é a maior referência de épicos até hoje (o "Gladiador", de Ridley Scott, por exemplo, não deixa de ser um remake mais amarelado do filme de William Wyner).
Outro épico trabalhado em um registro diferente de "Ben-Hur", esse vergonhosamente nunca visto, E o Vento Levou... é realmente emocionante e ainda ousa ao não trazer um final feliz. Narrando, também ao longo de quase quatro horas, a vida, os dramas e os amores de Scarlett O'Hara em meio a guerra da secessão nos Estados Unidos, é suntuoso, histórico e dirigido com precisão por Victor Fleming, que, no mesmo ano, também foi o responsável por "O Mágico de Oz". Ainda que quatro horas sejam quatro horas, o longa é obrigatório para quem quer entender o nascimento da narrativa clássica hollywoodiana.
Também ousando ao entregar um final não feliz, o musical Amor, Sublime Amor definiu uma geração e foi um dos últimos exemplares da grande era de um gênero que já dava sinais de exaustão. Modernizando a trama clássica de Romeu & Julieta, de William Shakespeare, o filme de Jerome Robbins e Robert Wise transforma a história de amor de dois jovens de famílias rivais em uma briga de gangues na Nova York dos anos 1960. Ainda que seja apoiado na velha história do "amor romântico" de jovens que se apaixonam sem nem mesmo se conhecerem (algo difícil de ser engolido pelas plateias de hoje), o filme mantém seu vigor narrativo e traz uma apresentação impecável de personagens e um início ainda hoje empolgante. As músicas totalmente integradas à narrativa e as cenas de dança belissimamente coreografadas completam o espetáculo.
Bobagem que o cinema não faça mais, hoje, filmes tão bons quanto antigamente. Mas isso não quer dizer que, antigamente, o cinema não tenha produzido pérolas incomparáveis.
sábado, 21 de maio de 2011
Notas musicais: Lady Gaga
Lady Gaga é uma idiota. Fala demais e quer o tempo todo chamar atenção para si, e não para sua música. Alguns vão dizer que em tempos de redes sociais e YouTube, ela está mais do que certa. Mas tudo tem limites, e ela extrapola todos. Para o mal. A artista posa de original, mas o máximo que podemos dizer é que ela é criativa, já que não passa de um remix de um monte de coisa que já vimos no passado: David Bowie, Madonna, Grace Jones e mais uma penca de gente.
Não que isso seja pecado. Lady Gaga não está sozinha na era do remix e dos liquidificadores culturais de referências. O problema, mais uma vez, é sua falta de tato, e mesmo carisma (talento ela tem, não dá para negar), para soar mais autêntica e menos fake.
Dito isso, a maior falha de Born This Way é, justamente, a própria Gaga. Além das frases e atitudes "polêmicas" pra divulgar o trabalho, a artista caiu na besteira de anunciar uma revolução pop, quando, na verdade, entrega um álbum apenas ok e sem grandes novidades. Born This Way está longe de ser uma revolução, mas também não é nenhuma tragédia anunciada pela propaganda negativa que a superexposição da artista costuma causar.
Longe de ser um exemplar na linha "Ame ou Odeie", o álbum novo de Gaga fica em cima do muro entre ser um lixo descartável, mas divertido, e um produto pop de qualidade, com algo realmente a dizer. As piores músicas são os primeiros singles, pretensiosos, mal produzidos e aquém de canções como "Paparazzi", "Telephone", "Just Dance", "Bad Romance", por exemplo.
Born This Way e Judas (que ganharam péssimos videoclipes), "Hair", "The Edge of Glory" são puro lixo e só devem agradar aos fãs mais ardorosos, aquele tipo que gosta de qualquer porcaria que o ídolo faça. O resto do CD traz algumas boas canções, algumas vezes prejudicadas por uma produção farofa indigna dos tempos atuais.
Em uma época em que Kanye West prova que música pop também pode ser luz, é uma vergonha uma cantora do porte de Gaga apresentar um trabalho tão desleixado e que, às vezes, faz Gaga soar como uma Shania Tawn ("You & I") ou qualquer outra cantora ruim saída dos anos 90 ("Bad Kids", "Highway Unicorn").
Entre mortos e feridos, "Americano" é o cúmulo do exagero e, se Gaga fosse inteligente, teria sido o primeiro single. "Schibe" também é uma delícia de se ouvir, trazendo a cantora tentando enrolar um alemão macarrônico feito para bombar nas pistas. "Bloody Mary" e "Electric Chapel" são outras faixas que seguram a audição do disco. A melhor, porém, é "Heavy Metal Lover", talvez a canção mais bem cuidada do trabalho, de produção mais limpa e com camadas, sem a sujeirada da maioria das outras músicas.
Depois de mais de dois anos divulgando The Fame/The Fame Monster, seria Born This Way o primeiro passo para o tropeço de Gaga? Infelizmente, bem pouco provável, dirão alguns. Se Britney Spears, Christina Aguilera, Mariah Carrey e tantas outras estão aí até hoje, difícil Gaga perder assim espaço só porque ela passou longe da revolução prometida. Se ela for esperta, Born This Way vai pelo menos servir para ela se expor menos, parar de falar tanta besteira e se concentrar mais na sua música. Ou não.
Não que isso seja pecado. Lady Gaga não está sozinha na era do remix e dos liquidificadores culturais de referências. O problema, mais uma vez, é sua falta de tato, e mesmo carisma (talento ela tem, não dá para negar), para soar mais autêntica e menos fake.
Dito isso, a maior falha de Born This Way é, justamente, a própria Gaga. Além das frases e atitudes "polêmicas" pra divulgar o trabalho, a artista caiu na besteira de anunciar uma revolução pop, quando, na verdade, entrega um álbum apenas ok e sem grandes novidades. Born This Way está longe de ser uma revolução, mas também não é nenhuma tragédia anunciada pela propaganda negativa que a superexposição da artista costuma causar.
Longe de ser um exemplar na linha "Ame ou Odeie", o álbum novo de Gaga fica em cima do muro entre ser um lixo descartável, mas divertido, e um produto pop de qualidade, com algo realmente a dizer. As piores músicas são os primeiros singles, pretensiosos, mal produzidos e aquém de canções como "Paparazzi", "Telephone", "Just Dance", "Bad Romance", por exemplo.
Born This Way e Judas (que ganharam péssimos videoclipes), "Hair", "The Edge of Glory" são puro lixo e só devem agradar aos fãs mais ardorosos, aquele tipo que gosta de qualquer porcaria que o ídolo faça. O resto do CD traz algumas boas canções, algumas vezes prejudicadas por uma produção farofa indigna dos tempos atuais.
Em uma época em que Kanye West prova que música pop também pode ser luz, é uma vergonha uma cantora do porte de Gaga apresentar um trabalho tão desleixado e que, às vezes, faz Gaga soar como uma Shania Tawn ("You & I") ou qualquer outra cantora ruim saída dos anos 90 ("Bad Kids", "Highway Unicorn").
Entre mortos e feridos, "Americano" é o cúmulo do exagero e, se Gaga fosse inteligente, teria sido o primeiro single. "Schibe" também é uma delícia de se ouvir, trazendo a cantora tentando enrolar um alemão macarrônico feito para bombar nas pistas. "Bloody Mary" e "Electric Chapel" são outras faixas que seguram a audição do disco. A melhor, porém, é "Heavy Metal Lover", talvez a canção mais bem cuidada do trabalho, de produção mais limpa e com camadas, sem a sujeirada da maioria das outras músicas.
Depois de mais de dois anos divulgando The Fame/The Fame Monster, seria Born This Way o primeiro passo para o tropeço de Gaga? Infelizmente, bem pouco provável, dirão alguns. Se Britney Spears, Christina Aguilera, Mariah Carrey e tantas outras estão aí até hoje, difícil Gaga perder assim espaço só porque ela passou longe da revolução prometida. Se ela for esperta, Born This Way vai pelo menos servir para ela se expor menos, parar de falar tanta besteira e se concentrar mais na sua música. Ou não.
sábado, 14 de maio de 2011
Os Agentes do Destino
O sorriso e o carisma de Matt Damon podem não salvar vidas, mas salvam filmes. Não que Os Agentes do Destino seja um fiasco, longe disso. É um filme atraente, bem conduzido, mas que peca apenas por ser explicativo demais e forçar um pouco a barra para ter um final feliz. Como filmes dependem muito do momento em que o assistimos, não posso negar que me deixei levar pelo sorriso do ator e acabei me envolvendo sem muitas ressalvas.
Misto de romance com ficção científica, mais romance do que ficção, na verdade, "Os Agente do Destino" sofre do mesmo mal de outras adaptações do mestre Philip K. Dick (autor de contos que deram origens a longas tão distintos quanto "Blade Runner", "O Pagamento", "O Vingador do Futuro" e "Minority Report"). O conceito das obras é sempre interessante, mas o desenvolvimento dos filmes nem sempre. O filme de George Nolfi padece dessa mesma sina, mas ainda assim prende a atenção.
Nolfi opta por fazer um filme elegante, de realização refinada, ainda que as cenas de ação sejam dinâmicas. O desenvolver da trama é meio frouxo, com várias elipses temporais que não ajudam muito narrativamente falando. Mas a química entre o sorrisão de Matt Damon e o sotaque de Emily Blunt conserta qualquer derrapada e ajuda o espectador a entender a opção da produção pender para um caráter mais romântico.
Entre perseguições e uma trama que tem toques de Matrix e A Origem, são as cenas entre Damon e Blunt que despertam a atenção do público. A discussão sobre destino e livre arbítrio é meio deixada de lado e faz falta em alguns momentos, mas tudo depende de como você encara a produção e também de suas expectativas iniciais.
Misto de romance com ficção científica, mais romance do que ficção, na verdade, "Os Agente do Destino" sofre do mesmo mal de outras adaptações do mestre Philip K. Dick (autor de contos que deram origens a longas tão distintos quanto "Blade Runner", "O Pagamento", "O Vingador do Futuro" e "Minority Report"). O conceito das obras é sempre interessante, mas o desenvolvimento dos filmes nem sempre. O filme de George Nolfi padece dessa mesma sina, mas ainda assim prende a atenção.
Nolfi opta por fazer um filme elegante, de realização refinada, ainda que as cenas de ação sejam dinâmicas. O desenvolver da trama é meio frouxo, com várias elipses temporais que não ajudam muito narrativamente falando. Mas a química entre o sorrisão de Matt Damon e o sotaque de Emily Blunt conserta qualquer derrapada e ajuda o espectador a entender a opção da produção pender para um caráter mais romântico.
Entre perseguições e uma trama que tem toques de Matrix e A Origem, são as cenas entre Damon e Blunt que despertam a atenção do público. A discussão sobre destino e livre arbítrio é meio deixada de lado e faz falta em alguns momentos, mas tudo depende de como você encara a produção e também de suas expectativas iniciais.
segunda-feira, 9 de maio de 2011
Dores & Amores
Nicole Kidman e Aaron Eckhart sofrem pela perda do filho pequeno. Cada um a seu jeito. Ele vê os vídeos do filho e se reúne com um grupo de pais que passaram pela mesma dolorosa experiência. Ela adota uma postura distante e amarga e não assume a própria dor. Em Reencontrando a Felicidade, o casal tem que enfrentar a si mesmo para salvar o casamento.
Eles também sofrem ou sofreram. Não pela perda de alguém, mas em virtude de um amor violento. Acusações, humilhações, espancamentos, ameaças e outras práticas bizarras fazem ou fizeram parte de suas rotinas. Personagens sem rosto que ganham as feições de atores para narrar suas histórias no docudrama Amor?
O primeiro é um drama sensível e que foge dos recursos de um melodrama fácil. Dirigido por John Cameron Mitchel ("Hedwig and the angry inch" e "Shortbus"), um cineasta com talento para a composição visual e narrativas elaboradas, "Reencontrando a Felicidade" traz um tema batido e recorrente. Mas o olhar delicado e sensível de Mitchell joga o espectador no meio do turbilhão de emoções que consome o casal Becca e Howie, fazendo o público esquecer que já viu essa história recentemente, ainda que em outras roupagens ("Anticristo", de Lars von Trier, é um exemplo).
"Amor?" apresenta uma série de depoimentos sobre casos de amores violentos. Alguns são bastante fortes e comovem. Outros não convencem. Dirigido por João Jardim, o docudrama opta por esconder o rosto de seus personagens sob a máscara de atores conhecidos (Lilia Cabral, Ângelo Antônio, Eduardo Moscovis, Julia Lemmertz, entre outros). O recurso nem sempre funciona, e a impressão que fica é que a encenação tira um pouco da força das histórias. A comparação com Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho, é imediata, e, ainda, que os filmes tenham suas particularidades, a obra de Jardim perde na comparação.
Em "Reencontrando a Felicidade", a melancolia é a chave utilizada por Mitchell. O ritmo do filme é lento, e as relações entre os personagens conduzem o longa. Os conflitos entre Becca, a mãe e a irmã, a tentativa quase desesperada dela se aproximar de um adolescente, o enlace entre Howie e a colega de grupo. Todas as relações funcionam como contraponto para a própria falta de contato entre o casal. A opção de abrir espaço para os atores brilharem é adequada, e Kidman e Eckhart aproveitam a oportunidade para entregar interpretações de partir o coração.
Já em "Amor?", as interpretações ficam em segundo plano. E isso pesa contra o próprio filme. Indeciso entre a encenação ficcional e o distanciamento documental, o diretor insere cenas que funcionam como um interlúdio entre os depoimentos, mas que nada agregam dramaticamente. A linguagem também não está em discussão. A dicotomia entre real e ficção não está em jogo, como no filme de Coutinho. Essa opção coloca todo o foco no tema do filme, a discussão um tanto simplista sobre os limites do amor. O resultado é um docudrama interessante, mas que não alça voo, fica na superfície e no óbvio.
Se em "Reencontrando a Felicidade", uma encenação mais crua e fria funciona para mostrar ao espectador que aquele não é um filme de redenção, muito menos de catarse, em "Amor?", o tom adotado é também o de distanciamento e o não julgamento de seus "personagens", mas, aqui, o resultado pouco emociona, muito menos acrescenta algo sobre o tema.
Eles também sofrem ou sofreram. Não pela perda de alguém, mas em virtude de um amor violento. Acusações, humilhações, espancamentos, ameaças e outras práticas bizarras fazem ou fizeram parte de suas rotinas. Personagens sem rosto que ganham as feições de atores para narrar suas histórias no docudrama Amor?
O primeiro é um drama sensível e que foge dos recursos de um melodrama fácil. Dirigido por John Cameron Mitchel ("Hedwig and the angry inch" e "Shortbus"), um cineasta com talento para a composição visual e narrativas elaboradas, "Reencontrando a Felicidade" traz um tema batido e recorrente. Mas o olhar delicado e sensível de Mitchell joga o espectador no meio do turbilhão de emoções que consome o casal Becca e Howie, fazendo o público esquecer que já viu essa história recentemente, ainda que em outras roupagens ("Anticristo", de Lars von Trier, é um exemplo).
"Amor?" apresenta uma série de depoimentos sobre casos de amores violentos. Alguns são bastante fortes e comovem. Outros não convencem. Dirigido por João Jardim, o docudrama opta por esconder o rosto de seus personagens sob a máscara de atores conhecidos (Lilia Cabral, Ângelo Antônio, Eduardo Moscovis, Julia Lemmertz, entre outros). O recurso nem sempre funciona, e a impressão que fica é que a encenação tira um pouco da força das histórias. A comparação com Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho, é imediata, e, ainda, que os filmes tenham suas particularidades, a obra de Jardim perde na comparação.
Em "Reencontrando a Felicidade", a melancolia é a chave utilizada por Mitchell. O ritmo do filme é lento, e as relações entre os personagens conduzem o longa. Os conflitos entre Becca, a mãe e a irmã, a tentativa quase desesperada dela se aproximar de um adolescente, o enlace entre Howie e a colega de grupo. Todas as relações funcionam como contraponto para a própria falta de contato entre o casal. A opção de abrir espaço para os atores brilharem é adequada, e Kidman e Eckhart aproveitam a oportunidade para entregar interpretações de partir o coração.
Já em "Amor?", as interpretações ficam em segundo plano. E isso pesa contra o próprio filme. Indeciso entre a encenação ficcional e o distanciamento documental, o diretor insere cenas que funcionam como um interlúdio entre os depoimentos, mas que nada agregam dramaticamente. A linguagem também não está em discussão. A dicotomia entre real e ficção não está em jogo, como no filme de Coutinho. Essa opção coloca todo o foco no tema do filme, a discussão um tanto simplista sobre os limites do amor. O resultado é um docudrama interessante, mas que não alça voo, fica na superfície e no óbvio.
Se em "Reencontrando a Felicidade", uma encenação mais crua e fria funciona para mostrar ao espectador que aquele não é um filme de redenção, muito menos de catarse, em "Amor?", o tom adotado é também o de distanciamento e o não julgamento de seus "personagens", mas, aqui, o resultado pouco emociona, muito menos acrescenta algo sobre o tema.
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